Em meio à discussão do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff pelo Congresso, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luís Roberto Barroso afirmou nesta quinta-feira (31) que o país enfrenta falta de alternativa na política e citou o PMDB, partido que desembarcou nesta semana do governo.
O ministro fez referência à foto de lideranças do PMDB que registrou o anúncio do rompimento e estampou a capa dos principais jornais do país. Estavam na imagem nomes como o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o senador Valdir Raupp (PMDB-RR), o ex-ministro Eliseu Padilha (Aviação Civil), entre outros.
"Quando, anteontem, o jornal exibia que o PMDB desembarcou do governo e mostrava as pessoas que erguiam as mãos, eu olhei e: Meu Deus do céu! Essa é a nossa alternativa de poder. Eu não vou fulanizar, mas quem viu a foto sabe do que estou falando", disse o ministro.
"O problema da política neste momento eu diria é a falta de alternativa. Não tem para onde correr. Isso é um desastre. Numa sociedade democrática, a política é um gênero de primeira necessidade. A política morreu. Talvez eu tenha exagerado, mas ela está gravemente enferma. É preciso mudar", completou.
Ambiente acadêmico
Barroso conversava com alunos da Fundação Lemann e, antes da declaração, deixou claro que falava como em um ambiente acadêmico, como se estivesse falando seus alunos.
O ministro não sabia que o evento estava sendo transmitido pelo sistema interno do Supremo e, após ser alertado, pediu para não gravar mais.
Na conversa, o ministro defendeu a mudança no sistema eleitoral do país, que classificou de desastre.
"Temos um modelo político em que a eleição para a Câmara é feita em eleição por voto proporcional em lista aberta. É um desastre. Custa caríssimo porque todos os candidatos fazem campanha em todos os Estados", disse.
"Portanto o provimento das vagas é basicamente por transferência de votos dos partidos. Menos de 10% dos candidatos são eleitos com votação própria. Nesse sistema, o eleitor não sabe quem ele elegeu, porque 90% dos eleitos não foram eleitos com voto próprio. E o eleito não sabe quem o elegeu pela mesma razão. É um sistema em que o eleitor não tem de quem cobrar e o eleito não tem a quem prestar contas, não pode funcionar", reforçou.
Manhã cautelosa
Na manhã desta quinta, em uma palestra aberta em uma universidade de Brasília, o ministro defendeu cautela nos debates sobre impeachment.
"Nesse momento de paixões exacerbadas e de ânimos exaltados, um pouco de racionalidade, de doçura na hora de expressar o próprio ponto de vista nos fará muito bem. O Brasil está vivendo momento de excessiva aspereza. Claro que impeachment é um momento dramático em qualquer país do mundo seja qual for o resultado, mas não precisamos tornar isso pior", afirmou.
Para o ministro, "as pessoas deveriam debater ideias sem compulsão de desqualificar as opiniões dos outros. Não precisa dizer que quem pensa diferente é mal intencionado, está a serviço de causa escusa ou coisa pior. Um choque civilizatório no debate público brasileiro faria muito bem a todos".
Ele criticou o foro privilegiado no país e defendeu que seria melhor criar uma vara da Justiça Federal em Brasília para cuidar dos casos de autoridades, mantendo no Supremo apenas presidente, vice e presidentes da Câmara e do Senado.
"Foro amplo por prerrogativa de função é um desastre para o País e é um mal para o Supremo. O foro por prerrogativa de função deveria alcançar o presidente da República, o vice-presidente da República, os presidentes de poder e mais quase ninguém. É péssimo modelo. É péssimo o modelo brasileiro e ainda por cima estimula a fraude à jurisdição", disse.