Diário do Nordeste
18/04/2017
Para o deputado federal Domingos Neto (PSD), a missão dos que não foram "contaminados" pela corrupção é estreitar relação com o eleitor ( Foto: Nah Jereissati )
Deputados apostam em mudanças no modo de fazer campanha em 2018; outros afirmam que manterão posturas.
O mundo político foi chacoalhado após a "Jornada de Junho", que tomou as ruas em 2013, quando acreditou-se que muito iria mudar no comportamento do homem público. As delações de executivos da Odebrecht, divulgadas na semana passada, no entanto, mostraram o contrário, quando políticos das mais variadas cores partidárias foram citados e, agora, terão que prestar esclarecimentos ao eleitorado.
O Diário do Nordeste conversou com deputados cearenses sobre como se comportarão daqui para frente junto a eleitores. No pleito de 2018, alguns parlamentares acreditam que terão mais dificuldades no convencimento para obterem votos.
No entanto, para além de uma reforma política sólida, eles defendem uma mudança de postura por parte da população, uma vez que o político brasileiro, conforme argumentam, é reflexo do povo. O deputado federal Domingos Neto (PSD) está entre os que acreditam que toda a forma de fazer campanha vai mudar daqui para frente.
Segundo ele, a reforma política terá de ser "profunda e mexer nos calos que tanto são criticados pela população, como o número de partidos e o financiamento". O parlamentar acredita que a missão daqueles que não foram "contaminados" pela corrupção é buscar uma reaproximação com o eleitor.
Outras delações
Vitor Valim (PMDB) afirma que o tempo, na Justiça, vai se encarregar de "separar o joio do trigo". Ele lembra que executivos de outras empresas também estão negociando delação premiada, o que pode envolver mais políticos nas denúncias de corrupção. "Vai ficar muito claro quem era servido pela política e quem servia", avalia.
Para o deputado federal Chico Lopes (PCdoB), a participação mais efetiva do eleitor é fundamental para que políticos corruptos não cometam erros futuros. Segundo ele, também cabe aos tribunais eleitorais atuar de forma mais rígida na fiscalização dos atos políticos. "O momento é de avançarmos, seja na questão do financiamento público de campanha, reforma política ou fiscalização dos tribunais eleitorais", prega.
Moses Rodrigues (PMDB), por sua vez, diz que a democracia brasileira passa por um momento delicado, marcado por desconfiança na classe política. Segundo ele, porém, é preciso que os citados com mais ou menos intensidade tenham o direito de defesa, "para não crucificar o joio junto com o trigo". Ele defende mais agilidade por parte do Judiciário, mas destaca que outros nomes vão surgir.
Já André Figueiredo (PDT) ressalta que seu comportamento será o mesmo, visto que não é de sua prática política fazer o que alguns políticos fizeram, comprometendo-se com o pós-eleição. Ele acredita que o Brasil passará por um amplo processo de reforma, não somente no processo eleitoral, mas na própria estrutura de Estado.
Em 2013, segundo ele, a população se mobilizou sem bandeira definida, o que acabou por evitar uma continuidade de reivindicações. "Naquela época, prevalecia a sensação de impunidade e, hoje, não se tem mais essa sensação, pois empresários, corruptos e corruptores estão presos. A gente espera que a questão da corrupção seja minimizada".
Assembleia
Para o deputado estadual Sérgio Aguiar (PDT), a política tem que ser passada a limpo. Ele diz que o processo é traumático, mas às vezes necessário. "Esperamos que isso sirva de exemplo para aqueles que estão militando na política e os que vão ingressar façam uma mudança na filosofia e no modo de fazer política".
Ele defende, ainda, que o eleitor tem que estar cada vez mais próximo do político e vice-versa, opinião semelhante a de Capitão Wagner (PR). Para o deputado, os parlamentares terão que trabalhar o tipo de relação que querem ter com o eleitorado, visto que uma parcela da sociedade cobra mudança de postura dos políticos, mas não muda a forma de escolher candidatos durante a disputa eleitoral.
Audic Mota (PMDB) afirma que tem buscado prestar contas do mandato à sociedade, de maneira que a população o avalie com atuação diferenciada. No entanto, quanto às denúncias feitas por delatores na Operação Lava-Jato, ele opina que "não há time de fora nos mandatários atuais" e, por isso, avalia como possível a realização de uma Constituinte, para que as reformas em discussão não fiquem nas mãos de envolvidos "com todo esse mar de lama".