Moradores da cidade de Jaguaruana, a 183 quilômetros de Fortaleza, mudam rotina depois da troca de tiros entre bandidos e policiais que terminou com sete criminosos mortos na madrugada deste sábado (1º). Nesta segunda-feira (3), alguns moradores assustados evitaram sair na rua. Até a missa tradicional que ocorre todos os domingos terminou mais cedo.
A agência bancária que seria alvo dos criminosos está fechada e com tapumes no lugar dos vidros que foram quebrados durante o tiroteio. Na parede da agência há 21 marcas de balas. Sem a agência na cidade, moradores que precisaram sacar dinheiro tiveram que ir para agências de cidades vizinhas como Aracati e Russas, distantes mais de 50 quilômetros de Jaguaruana.
Um morador disse que o clima está tenso principalmente após áudios serem repassados informando que haveria novo confronto entre polícia e assaltantes. “Todos estão com medo. Foi divulgado um áudio dizendo que haveria novos confrontos. Na madrugada de sábado foi terrível. Parecia um filme de bang bang. Mais de 30 minutos de tiroteio”, relatou o morador.
Segundo a polícia, 20 policiais estão realizando nesta segunda-feira buscas com objetivo de prender outros integrantes da quadrilha. De acordo com a polícia há equipes da Polícia Militar nas principais divisas entre os estados do Ceará e Rio Grande do Norte. Veículos e pessoas que passam pelas divisas estão sendo revistados.
O revide ao bando de mais de 20 homens que atacou a cidade de Jaguaruana na madrugada deste sábado terminou com sete assaltantes mortos, um ferido e cinco presos. As investigações que chegaram à informação sobre o ataque foram coordenadas pela Polícia Federal (PF) em Mossoró, no Rio Grande do Norte, e começaram em setembro de 2016, de acordo com o chefe da delegacia da PF na cidade, o delegado federal Samuel Elânio Oliveira Júnior, que está em Fortaleza.
Mortos, presos e feridos
Um dos mortos no tiroteio é Ediondas Duarte, de Mossoró, que segundo a polícia, era o principal alvo da operação, batizada de 'Andarilho'. Ele é apontado como chefe da quadrilha - que é formada por mais de 30 homens -, sendo o responsável por fazer as explosões e arregimentar homens para o grupo, segundo a PF. Ele também já atuou em outros estados como São Paulo. Além dele, foi identificado um assaltante de Campina Grande (PB), mas o bando também reunia cearenses, agindo quase que semanalmente, segundo a PF. A polícia trabalha para descobrir a exata identificação dos demais. Os corpos estão no IML.
O grupo chegou à cidade em três camionetes e 12 motos. Um dos carros caiu em um córrego e outro foi usado por parte do grupo na fuga. As motos foram abandonadas. Dois fuzis, uma espingarda e duas pistolas foram apreendidos.
Troca de informações
Segundo a Polícia Federal no RN, desde setembro de 2016, a delegacia de Mossoró empreendia investigações sobre assaltos a instituições bancárias e carros-fortes e surgiram conexões no Ceará, Pernambuco e Paraíba.
As investigações focavam nos chefes das quadrilhas e acabaram por detectar a ação planejada para Jaguaruana. “Começamos a fazer alguns trabalhos de investigações de algumas quadrilhas focando os chefes e, diante dos levantamentos, já estavam bem encaminhadas as investigações. Tínhamos uma boa troca de informações com os policiais do Cotar, que foi imprescindível nesse trabalho, sem ele não teria ocorrido, a Polícia Civil do Ceará ajudou, a Polícia Civil em Mossoró também ajudou no repasse de informações, e gostaria de ressaltar o apoio da Superintendência da Polícia Federal no Rio Grande do Norte e no Ceará”, disse o delegado Elânio.
Morador
A polícia investiga se algum morador da cidade foi vítima de bala perdida, mas não há confirmação de pessoas mortas que não fossem do bando. “Normalmente a população não fica no local. Acredito inevitavelmente que todos que estavam na situação e que vieram a óbito estavam envolvidos direta ou indiretamente”, disse o delegado Elânio.
Explosivos, susto e pânico
Foram os policias militares do Ceará que confrontaram os assaltantes em Jaguaruana. De acordo com o cabo da Polícia Militar Jaime Xavier, que participou da operação na cidade, os policiais estavam aguardando há quatro noites um possível ataque da quadrilha. “Soubemos de ataques que eles fizeram nos estados vizinhos e já suspeitávamos que eles viriam para cá. Depois que abasteceram os bancos, foram quatro noites de tensão e expectativa, mas conseguimos revidar à altura”, diz o policial.
Conforme o relato do policial, os bandidos explodiram um caixa eletrônico do Bradesco na sede da Prefeitura de Jaguaruana, mas não conseguiram levar o dinheiro, e tentaram explodir outras agências. “Depois eles tentaram explodir o banco, mas nessa hora nós respondemos. As agências foram metralhadas por causa da troca de tiro, mas não foi levado nenhum dinheiro”, afirma o policial.
Os policiais também localizaram uma mochila com explosivos abandonados em frente a uma rádio, que ficou interditada até a remoção do material. "Desde a madrugada que estamos assustados e muita gente da cidade ainda não dormiu. Foram muitos tiroteios, em muitos bairros, principalmente no Centro, onde estão os bancos", diz uma funcionária da rádio que prefere não se identificar.