A Lagoa dos Tapeba é espaço sagrado e de aprendizado para as crianças indígenas
No Dia Mundial da Água, crianças e educadores mostram que é possível ter uma convivência harmônica com a natureza.
Depois do caminho feito de pé no chão, a Lagoa dos Tapeba aguarda a algazarra dos meninos. Eles sabem que adentram território sagrado para o povo indígena. E lembram, enquanto brincam, de uma série de cuidados que precisam ter por ali. “Não pode deixar lixo porque a água não pode ficar suja”, exemplifica Dionísio, de 8 anos. As lições também valem para a água da casa. Coletando em um tanque o que a chuva traz, a família de Dionísio toma por hábito o combate ao desperdício, sem gastar muito nos banhos ou na hora de lavar a louça.
São duas cisternas na casa do Luiz, 9. Nos períodos sem chuva, ele sabe que a água pode faltar. Por isso, a solução é tirar pouca água ou ir buscar na lagoa conhecida como “pedreira de beber”, onde tem água limpa. E como acrescenta a pequena Maíra, de 6 anos, a água fica “podre” quando há animais por perto para fazer xixi. Mas gente precisa ter o mesmo cuidado: ali não é lugar de cuspir ou de usar como banheiro. Orientações que chegaram aos meninos por intermédio dos adultos e da educação da escola indígena.
Formar a criança para ser cuidadora da natureza é mais uma forma de afirmar as tradições e o modo de vida dos índios, defende Margarida Tapeba, professora e presidente da Associação dos Professores Indígenas Tapeba (Aproint). A preservação dos recursos naturais está dentre os valores transmitidos na escola como chave para uma convivência harmônica na terra. “São costumes diferentes do que a sociedade vê. Transmitimos para ajudar a cuidar do planeta e para termos futuros líderes ou professores que continuem esta mensagem”, relata Margarida.
Educação
A preservação e o uso sustentável das águas não deve se restringir às comunidades indígenas. O cuidado com o meio ambiente é temática forte nos ambientes educacionais em geral. No entanto, há poucos que compreendem e revertem os ensinamentos em práticas, observa Patrícia Pereira, consultora pedagógica e escritora da literatura infantil. “É um conteúdo que precisa de novas abordagens. Ir além do livro e da sala de aula, que são importantes também. Mas precisamos ir até os rios, mangues, levar as crianças para que elas vejam de perto”, argumenta.
O investimento é nas crianças como sementes de novas relações com a natureza no futuro. Para que ela seja respeitada como irmã, não submetida aos abusos do homem, ensina Patrícia. “Precisamos entender que estamos interligados. Se poluirmos e sujarmos as nossas águas, não iremos sobreviver”.