Substâncias constantes em xaropes expectorantes comuns podem ajudar a tratar Covid-19 em níveis fraco e moderado. A descoberta foi apresentada em um estudo da Universidade Federal do Ceará (UFC) em parceria com outras instituições. As informações foram publicadas pela Agência UFC.
As substâncias pesquisadas foram a bromexina e a N-acetilcisteína, princípios ativos de medicamentos usados para fluidificar e facilitar a eliminação das secreções do trato respiratório. O grupo partiu de evidências científicas já disponíveis sobre ambas.
Os pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Farmacologia da UFC conseguiram comprovar que a associação de duas moléculas reduz em 39% os sintomas dos pacientes. A descoberta ajuda a pensar em um tratamento de baixo custo contra a doença.
Os achados foram publicados recentemente na revista internacional Translational Medicine: Open Acess. O artigo também foi assinado por pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP-RP) e da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM-UNIFESP).
Nas universidades paulistas, os professores Érico Arruda e Hugo Monteiro avaliaram, em laboratório, se essas moléculas seriam capazes de inibir a replicação do vírus SARS-CoV-2, o causador da Covid-19. Com isso, eles identificaram, por exemplo, que a bromexina age em uma proteína secundária do receptor do vírus. Sem ela, o SARS-CoV-2 não consegue entrar na célula.
Com o resultado positivo se confirmando nos testes laboratoriais, os pesquisadores conseguiram financiamento da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP) para a realização de um novo estudo, desta vez na forma de ensaio clínico (feito em humanos) em Fortaleza.
Como funcionou o ensaio clínico?
Os pesquisadores consideram essa fase como crítica, uma vez que nem todas as situações identificadas em laboratório se reproduzem no organismo. A parte clínica foi coordenada pelo Prof. Aldo Ângelo Moreira Lima, do Programa de Pós-Graduação em Farmacologia da UFC.
A etapa foi feita com pacientes de quadro leve e moderado na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro Cristo Redentor em plena segunda onda da doença, no fim de 2021 e começo de 2022.
Os pesquisadores classificaram os pacientes de acordo com a quantidade de sintomas ou sinais desenvolvidos, em uma escala de zero (nenhum sintoma) a três (a partir de três sintomas).
Depois, dividiram os participantes em grupos:
Um primeiro, que não recebeu as substâncias, apenas o tratamento padrão (grupo de controle);
Um segundo, que recebeu a N-acetilcisteína;
E um terceiro, a quem foi ministrada uma combinação da bromexina com N-acetilcisteína.
O estudo foi realizado com o método que os pesquisadores chamam de duplo-cego: nem os pacientes, nem os pesquisadores sabiam quem estava em cada grupo para evitar qualquer viés.
Resultado positivo
O resultado revelou que a combinação reduziu o número de sintomas em 39%, se comparados ao grupo de controle. O resultado é válido para qualquer tipo de variante do vírus da Covid-19.
“Isso porque todas as variantes usam o mesmo receptor de entrada”, explicou o professor Aldo Ângelo. No caso dos que receberam apenas N-acetilcisteína, os resultados não foram significativos. Para o pesquisador da UFC, o resultado sugere que a bromexina seja o principal fator para a redução dos sintomas, o que abre espaço para um aprofundamento posterior do trabalho.
“Pelo estudo e pela análise que fizemos, estamos apostando que a bromexina seja crítica nesse efeito. Porque quando você coloca N-acetilcisteína isoladamente, você não tem efeito. A gente não pode dizer que a bromexina esteja com ação isolada, mas pode dizer claramente que a N-acetilcisteína não é a fonte primária (do resultado)”, complementou.
Outro dado importante para os pesquisadores é que a febre foi o sintoma que mais foi reduzido. “Para a infectologia, reduzir a febre é o sinal mais forte para dizer que o paciente está melhorando de uma infecção”, destacou o professor universitário.