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Bailarino propõe ações de dança para pessoas com e sem deficiência

Roberta Souza - Repórter/DN

18/05/2016

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Cedo João Paulo percebeu que ser uma pessoa com deficiência física não o limitava. Começou cantando, dançando e interpretando junto ao Coral da Universidade Federal do Ceará. E lá mesmo redescobriu a paixão pelo movimento corporal que tinha desde antes de perder o membro inferior direito, aos 13 anos.

Do grupo, ele fez parte de 2003 a 2007. Fortaleceu-se ali seu interesse por uma dança integrada, que avançasse para além de um conceito de inclusão da pessoa com deficiência.

Nos intercâmbios realizados na Europa, especificamente Inglaterra e Irlanda, essas relações foram intensificadas. "Lá, ficou ainda mais claro para mim que diferentes corpos podem elaborar performances, ter aulas juntos. A questão da deficiência não fica em segundo plano, mas se torna parte das realidades, da corporeidade", salienta o bailarino.

Seu corpo tinha uma característica específica e João Paulo precisava descobrir as potencialidades dele. Fez isso sem pestanejar. Primeiro, estudando, depois colocando em prática o que poderia ter ficado apenas na teoria; felizmente, não ficou.

"A diferença do corpo não é motivo para a pessoa não exercer a dança. Na verdade, é uma potência. Os trabalhos que desenvolvi com pessoas com outras deficiências ou mesmo sem deficiências me possibilitaram descobertas. As diferenças fazem os trabalhos terem composições, modos de interpretação e modos de se mover fora do convencional, e a dança contemporânea foge do convencional", lembra João Paulo.

A política "inclusiva", para ele, muitas vezes parte para o lado assistencial, o que nem sempre é coerente com a real necessidade das pessoas com deficiência. O bailarino reconhece uma exclusão histórica, mas acredita que a saída, na verdade, é uma política de reconhecimento, integrada, que a "inclusão" não abarca.

"Quando você fala de uma dança integrada, a responsabilidade é geral, compartilhada; um se integra ao outro e os processos se tornam mais potentes", aponta João Paulo. "Eu me reconheço como artista com deficiência física, levanto a bandeira, mas não acho que isso exige uma política social de autoajuda, terapêutica. É preciso discutir a dança integrada como algo artístico e falta um pouco disso", argumenta ele.

Políticas

Duas metas do novo Plano Estadual de Cultura dialogam com essas demandas. Elas propõem a garantia de acesso de pessoas com deficiência a 100% dos equipamentos culturais estaduais e a promoção de formações e apoio à produção cultural de artistas com deficiência. O plano, que já foi aprovado pelos deputados, e agora segue para sanção do governador Camilo Santana, caso seja executado, atenderá a demandas básicas desse processo de integração.

"Fortaleza precisa de um lugar que abra oficinas plurais, para todos, independente de já terem a técnica da dança ou não; sem barreiras, é preciso criar oportunidades. Se for dado o primeiro passo, aparecerão as pessoas interessadas", acredita João Paulo.

Mas ele mesmo encontra dificuldades na hora de propor ações nesse sentido. "Se eu levo uma proposta para o Estado, eles querem logo números, e eu não vou abrir uma turma antes sem a devida estrutura. Seria preciso, para um projeto assim, a presença de psicólogos, fisioterapeutas, professores de dança. É como em qualquer outra parte educativa; precisa de suporte profissional".

Ainda assim, alguns passos em direção à conquista desses direitos João Paulo já deu. Desde que retornou dos intercâmbios ele tem pensado propostas, dado aulas na Universidade; até mesmo já inscreveu alguns projetos em editais. Os resultados, felizmente, estão chegando e ficarão ainda mais evidentes nesta semana.

Há pouco mais de um mês, o bailarino e a consultora do Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB), Rildete de Góis, reuniram-se para discutir a possibilidade de realização de uma Mostra de Dança Integrada.

A ideia era abraçar os conceitos nos quais o cearense mergulhou em seus intercâmbios e mesmo no mestrado que está realizando na Europa, e promover um evento para os corpos que dançam, com ou sem deficiência. Não demorou até a parceria se firmar, e, de hoje (18) até o dia 20, o CCBNB recebe as atividades, que incluem espetáculos, oficinas e rodas de conversa sobre o tema.

A abertura da Mostra inclui uma oficina de formação artística ministrada por João Paulo, dividida em duas turmas, de 25 alunos cada. Ele abordará, tanto hoje como amanhã, em 120 minutos, sempre a partir das 10h, diferentes tipos de exercícios de percepção corporal, considerando o espaço e a relação com o outro na dança contemporânea.

São convidadas todas as pessoas que se sentem motivadas a ter uma experiência em dança; tenham elas algum tipo de deficiência física, psicomotora, ou sejam profissionais em geral que se interessem pelo tema de inclusão e integração através das artes cênicas.

Interessados em participar devem enviar e-mail com número de telefone, nome completo, currículo resumido e breve texto sobre o que motiva a participar para joaopawel@gmail.Com.

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