O Ceará enfrentou em março o sétimo mês consecutivo de queda no número de postos de trabalho formal. Foram 4.701 vagas fechadas, saldo decorrente de 36.240 admissões e 40.941 demissões. O resultado superou os registrados em fevereiro deste ano (-4.171 postos) e em igual mês do ano passado (-397), tornando-se o pior para um mês de março nos últimos 25 anos. Esse período representa toda a série histórica do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), cujos dados mais recentes foram divulgados ontem pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social (MTPS).
O levantamento também mostra que, de acordo com a série ajustada (que inclui as informações das empresas declaradas fora do prazo), no primeiro trimestre de 2016, o Ceará teve um saldo negativo de 17.533 vagas, o que representa mais que o dobro do número constatado em igual período do ano passado (-8.525). Nos últimos 12 meses, foram 44.819 postos a menos.
Setores
Os dados do Caged mostram que todos os setores da economia cearense tiveram mais demissões do que contratações. A maior parte do encerramento de vagas formais de emprego ocorreu na indústria de transformação (-1.592). "Esse é o 16º mês consecutivo de queda para a indústria, um setor-chave para a economia do nosso estado", salienta o coordenador de Estudos e Análise de Mercado do Instituto do Desenvolvimento do Trabalho (IDT), Erle Mesquita.
Já o segmento da construção civil, que em fevereiro havia apresentado resultado positivo, teve saldo negativo de 1.339 postos no terceiro mês de 2016.
O comércio chegou ao terceiro mês consecutivo de queda no número de postos de trabalho, com 841 vagas a menos no mês. "Boa parte das vagas fechadas no comércio em janeiro atingiu os empregos temporários. Agora, isso pode vir a atingir mais fortemente para além dos temporários", defende Mesquita.
O segmento da agropecuária teve queda de 651 vagas de trabalho. Logo em seguida, figurou o setor de serviços industriais de utilidade pública (-174). Os menores impactos no fechamento de vagas de emprego foram sentidos nos segmentos de serviços (-92), administração pública (-9) e a extração mineral (-3).
Segundo o coordenador do IDT, não há perspectiva de melhora no cenário de geração de emprego a curto prazo, e isso dependerá da resolução na crise econômica e política vivenciada no Brasil atualmente.
"Nós temos uma inflação ainda elevada, um desemprego elevado, e não está havendo ciclo de contratações. São reposições no mercado de trabalho em menores quantidades (do que as demissões). Há um ciclo muito desfavorável para o trabalhador", salienta.
Nordeste e Brasil
Dentre os estados do Nordeste, o Ceará obteve o quinto pior resultado no mês passado. O maior saldo negativo de postos de trabalho foi registrado por Pernambuco (-11.383), seguido por Alagoas (-9.872), Sergipe (-5.827) e Bahia (-4.803). Registraram retrações menos acentuadas Piauí (-1.137), Maranhão (-2.307), Rio Grande do Norte (-2.383) e Paraíba (-3.856).
O Brasil perdeu 118.776 vagas em março, pior resultado para o mês desde 1992, início da série histórica do Caged. Os dados são fruto de 1.374.485 contratações e 1.493.261 demissões no período. No primeiro trimestre deste ano, o saldo é de -319.150 postos, com ajuste.
Empresas sem fôlego
Os dados mostram que as empresas estão "sem margem de manobra" para lidar com a recessão. Esta é a avaliação do economista da Parallaxis Consultoria, Rafael Leão.
"Em 2015, as companhias ainda tinham algum fôlego para manter sua folha de pagamento, mas isso se esgotou na medida em que o empresário não vê perspectiva de aumento da demanda. Ao longo deste ano vamos ter intensificação desse quadro ruim", disse. O resultado de março não foi tão negativo quanto o previsto pela consultoria, que esperava fechamento de 136.600 vagas. "Eu estava mais pessimista, mas ainda assim o número é muito negativo", afirmou.