Comprador da empresa cearense, produtor das marcas Johnnie Walker e Smirnoff, pagou R$ 900 milhões
A aquisição da marca cearense Ypióca - líder no segmento de cachaças premium no Brasil - e de parte de seus ativos pelo grupo britânico Diageo deverá elevar em 20% o volume de vendas da multinacional no País. O acordo, fruto de uma negociação que começou há cerca de um ano e meio, foi anunciado ontem. A transação custou aproximadamente R$ 900 milhões, conforme site da Diageo - líder no mercado mundial de bebidas alcoólicas premium, e detentora de marcas como Smirnoff e Johnnie Walker. Com o controle da Ypióca, o Nordeste passa a responder por um terço do faturamento do grupo em território brasileiro.
A compra faz parte da estratégia da empresa de alcançar em mercados emergentes metade de sua receita até 2015. A previsão é de que a transição esteja concluída em mais um mês, atendendo a questões meramente burocráticas, segundo anunciado ontem pelo presidente da Diageo para o Brasil, Uruguai e Paraguai, Otton Von Sothen.Conforme disse, a operação envolve a aquisição de 100% da marca cearense de cachaça, uma destilaria localizada em Paraipaba - a 100 km da Capital - a unidade de envasamento de Messejana, na Região Metropolitana de Fortaleza, e o centro de distribuição que fica em Guarulhos, em São Paulo. Nesse processo, a Diageo acrescenta mais 700 funcionários às suas operações no Brasil.De acordo com Von Sothen, na avaliação da compra, o grupo considerou a força da cachaça no País, refletindo a cultura nacional e a posição da Ypióca (terceira em volume e segunda em valor) entre as suas concorrentes. A multinacional também destaca a estrutura de distribuição da empresa pelo Brasil, em especial no Nordeste, com 250 mil pontos de venda.ExpansãoCom a aquisição, a Diageo deseja ampliar a participação da Ypióca no mercado brasileiro, atualmente em 8%. "Existe uma oportunidade muito grande para crescer. Hoje, a Ypióca tem 70% de suas vendas no Ceará e vamos buscar a expansão para o Nordeste e o Brasil, além de fortalecermos nossas marcas na região", adiantou o executivo. De acordo com ele, no ano passado, a Ypióca produziu 6,6 milhões de caixas de nove litros, representando um crescimento de 13% sobre o ano anterior, acima da média do setor.OperaçãoConforme explicou Von Sothen, a ideia, a princípio, é operar a Ypióca de forma exclusiva. "Serão mantidos todos os rótulos e a força de vendas. Mas vemos uma oportunidade de complementaridade", informou, descartando ainda o desligamento de funcionários. "Não temos a intenção de mudar nada no gerenciamento da empresa. Será tratada como uma unidade de negócios à parte. A aquisição se deu exatamente em função do trabalho bem feito, desenvolvido até agora", avalia.Ainda segundo ele, o atual presidente da Ypióca, Everardo Telles, passa para o Conselho Consultivo, mas sem função executiva. "Compramos 100% da marca e a transição será tranquila e nos próximos dias a família Telles sai totalmente do comando. Foi uma transação com um parceiro competente, que fabrica produtos de qualidade", elogiou Von Sothen. Segundo a Diageo, o negócio, além de expandir a presença do grupo no Brasil, dá mais acesso ao "número crescente de consumidores de classe média que estão puxando a elevação das marcas premium". "Neste ano, nossa meta é crescer dois dígitos em todas as categorias".Incentivos fiscais serão mantidos para o compradorDe acordo com legislação vigente do Fundo de Desenvolvimento Industrial (FDI) do Ceará, todos os benefícios fiscais hoje concedidos às operações do grupo Ypióca serão transferidos automaticamente para Diageo, que passa a controlar a empresa.Conforme o FDI, dependendo da atividade, dentre outros quesitos, o investidor pode vir a gozar de até 75% de diferimento do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Porém, por conta do sigilo fiscal, o Conselho Estadual de Desenvolvimento Econômico (Cede) não divulga os benefícios concedidos às empresas.Como ficaA Ypióca vendeu apenas um dos seus oito ramos de atuação. Permanecem no grupo os setores de água mineral (Naturágua); papel e papelão (Pecém Agroindustrial Ltda); embalagens e garrafas pet (Yplastic); produção de cana-de-açúcar, etanol, milho, feijão, leite e criação de suínos, caprinos e ovinos; e ainda o Y-Park, com diversas atrações, em Maranguape.O que foi vendido foi a divisão de bebidas alcoólicas com a marca Ypióca, incluindo ai a unidade de Paraipaba, a fábrica de envasamento em Messejana e o centros de distribuição de Guarulhos (São Paulo). As fábricas em Ceará Mirim (Rio Grande do Norte), Pindoretama, Acarape e Jaguaruana (Ceará) continuam com a família Telles, mas com contrato de produção exclusiva de cachaça para a Diageo.Atualmente, são gerados cerca de 3,2 mil empregos diretos e 23 mil indiretos.AnúncioPara comunicar a aquisição da empresa cearense, o presidente do Grupo Diageo para o Brasil, Uruguai e Paraguai, Otto Von Sothen, visitou na tarde de ontem o governador Cid Gomes, no Palácio da Abolição.PerfilA Diageo é líder mundial na produção de bebidas alcoólicas premium, com uma coleção de marcas nas categorias de destilados, vinhos e cervejas. A multinacional opera em mais de 180 países. Cerca de 60% do volume que é vendido no Brasil são produzidos localmente. Hoje, a Diageo emprega 400 pessoas. (ADJ)ANCHIETA DANTAS JR.REPÓRTER / Diário do Nordeste