Diarío do Nordeste
16/08/2017
Um dos crimes que mais comove a população e interfere no psicológico das vítimas permanece se apresentando recorrente no Ceará. Conforme levantamento da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), de janeiro de 2017 até o último mês, pelo menos, 996 pessoas foram vítimas de crimes sexuais no Estado. As ocorrências incluem atentados violentos ao pudor, estupro, estupro de vulnerável e exploração sexual de menor.
Em igual período de 2016, foram contabilizados 988 crimes sexuais. O aumento foi de, aproximadamente, 1%. Nos 31 dias do mês de julho deste ano, a Secretaria contabilizou 154 ocorrências desta tipologia. Os dados, obtidos por meio de denúncias registradas em delegacias, podem ser ainda maiores, pois segundo especialistas muitas vítimas guardam o episódio traumático para si e não procuram a Polícia para registrar o caso.
Todos os dias, uma média de quatro pessoas sofre crime sexual. Segundo dados da SSPDS, o período diurno é onde mais acontece este tipo de ocorrência. Em julho, 35,7% dos crimes foram registrados das 6h às 11h59. Outros 30,5% das 12h às 17h59. Sábado, domingo e segunda-feira são os dias da semana com mais registros.
Na Capital, a Área Integrada de Segurança (AIS) 6 é a que mais registrou crimes sexuais neste ano. Nos sete primeiros meses foram 37 ocorrências na Área que contempla 17 bairros, incluindo o Antônio Bezerra, Padre Andrade e Quintino Cunha.
A universitária Mirella Gadelha, 19, mora no bairro Padre Andrade e revela que teve de adaptar sua rotina e a da família devido ao receio de sofrer algum atentado. "Tenho medo de andar sozinha nas ruas perto de casa, apesar de nunca ter acontecido nada desse tipo comigo. Chego da faculdade umas 23h30 e meu pai me espera na parada de ônibus. Ele vai todos os dias para evitar que eu esteja sozinha até o caminho de casa. Sempre ligo antes. Aí ele para o que estiver fazendo e vai até lá", contou Mirella.
Outras regiões
O panorama crítico se agrava no Interior do Estado. Segundo dados da SSSPDS, da AIS 14 até a AIS 22, ou seja, nas nove áreas interioranas, já houve, pelo menos, 557 registros neste ano.
Destes, 117 foram na AIS 14, que abrange localidades como Camocim, Martinópole, Uruoca, Tianguá e Viçosa do Ceará.
A reportagem entrou em contato com a delegada responsável pela AIS 14 para saber sobre as investigações dos casos. No entanto, a delegada pediu que a reportagem ligasse depois. Nos contatos posteriores as ligações não foram atendidas.
Vulnerabilidade
No último mês, um caso envolvendo violência sexual repercutiu no Estado. De acordo com a Polícia, um homem de 58 anos de idade foi preso em Aquiraz, no dia último dia 27, suspeito de abusar sexualmente de dez meninas, sendo cinco delas da sua própria família.
Conforme a mãe de uma das crianças, o crime foi percebido em uma brincadeira entre primas. Na ocasião, as meninas trocaram cartas e revelaram os abusos que vinham sofrendo. Segundo a Polícia Civil o homem deve responder por estupro de vulnerável e o caso segue em investigação na Delegacia de Combate à Exploração da Criança e Adolescente (Dececa).
O psicólogo e integrante da organização do Fórum de Defesa dos Direitos de Crianças e Adolescentes do Ceará (Fórum DCA Ceará), David Vieira Araújo, afirma que a maioria das vítimas dos crimes sexuais é de meninas de 7 a 18 anos de idade, negras e moradoras das periferias.
Para David Vieira Araújo, a frequência deste crime no Estado permanece devido ao machismo. "Há quem viva sob a ótica de que a mulher é objeto do homem. Temos casos de violência contra meninos cuja motivação foi porque eles seriam afeminados. Muitas vezes, as famílias não querem denunciar porque acham que não vai dar em nada. Ressaltamos que é preciso que as famílias e as vítimas denunciem para que sejam tomadas providências", afirmou o coordenador do fórum.
Para denunciar:
Discagem direta e gratuita do número 100, que funciona diariamente das 8h às 22h
181 - Disque denúncia
190 - Ciops