Diário do Nordeste
25/05/2017
O Abrigo Tia Júlia é amplo e bem equipado com diversos espaços lúdicos que trazem sensação de aconchego e diversão. As salas com leitos possuem climatização e são espaçosas ( Foto: Reinaldo Jorge )
O espaço conta com 158 profissionais, funcionários públicos e terceirizados, que trabalham 24h por dia.
Acordar, ir à escola, almoçar, tirar uma soneca, fazer os deveres de casa, brincar com outras crianças. Esta poderia ser a descrição da rotina comum de qualquer criança que vive com os pais, em um lar estruturado e com todo o conforto possível. Mas é assim, também, que acontece na vida das 58 crianças e adolescentes que vivem atualmente no Abrigo Tia Júlia, instituição de acolhimento no bairro Parangaba.
Dentre essas crianças, muitas são vítimas não apenas de abandono, mas também de violência, abuso sexual e desnutrição. Além disso, algumas também possuem necessidades especiais, sejam cognitivas ou motoras, e precisam receber tratamento especializado e individualizado praticamente 24h por dia. O cotidiano no abrigo também propõe cuidados básicos, apoio psicológico, educacional, terapias físicas e um ambiente acolhedor, para que elas possam se sentir, o máximo possível, parte de uma família.
"A gente tenta manter tudo como se fosse da rotina de uma casa. Mas é uma casa diferente, claro, porque são várias crianças, mas a gente faz tudo com muito carinho e o engajamento é real", conta a diretora da entidade, Luiza Helena Frota.
Estrutura
De acordo com Luiza Helena, o espaço conta com 158 profissionais, tanto funcionários públicos como terceirizados, que executam os cuidados das crianças 24h por dia.
São fisioterapeutas, pedagogas, psicólogas, fonoaudiólogas, enfermeiras e auxiliares de enfermagem, assistentes sociais, nutricionistas, educadores, economista, pessoas responsáveis pela cozinha e pela limpeza, além das pessoas que cuidam da administração do local. "Você pensa que é muito, mas não é. Esse trabalho em regime de plantão exige muito esforço, ainda mais quando cuidamos das crianças especiais, que precisam estar com alguém o tempo todo", ressalta.
O local também é amplo e bem equipado com diversos espaços lúdicos que trazem sensação de aconchego e diversão. As salas com leitos possuem climatização e são espaçosas. Os dormitórios comportam, atualmente, todas as crianças que vivem no abrigo. Também há espaço para refeição, televisão, parquinho, salas pedagógicas com brinquedos, jogos e mesas para a realização das tarefas escolares, sala de fisioterapia, sala de enfermagem com Unidades de Terapia Intensiva (UTI), entre outros espaços, todos adaptados e apropriados para a rotina infantil.
Adaptação
As crianças chegam ao abrigo após indicação do Conselho Tutelar e autorização judicial. E a partir da entrada, é feito esse trabalho em equipe para a inserção da criança em uma vivência mais saudável.
"A equipe tenta trabalhar os vínculos familiares dessa criança, fazendo um resgate emocional. Mas, na maioria das vezes, essas crianças nem família têm, e foram deixadas a ermo, na rua mesmo", explica Luiza Helena.
Segundo ela, dependendo da idade e das dificuldades que essas crianças já passaram, a adaptação pode ser muito mais difícil. "É um trabalho que você tem que gostar, mas tem que estar bem resolvido porque você se envolve. A gente batalha enquanto equipe, enquanto ser humano, para que elas tenham uma condição de vida melhor até serem adotadas".
Ver o progresso emocional e educacional das crianças torna-se, portanto, o momento em que se sabe que o dever foi cumprido. "Tem criança que chega aqui e só chora todo dia, não interage, tem medo. Mas, depois de um tempo, ela volta a sorrir e esse momento é extremamente gratificante", conta a diretora, emocionando-se.