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Padre francês Henri Le Boursicaud, fundador do Emaús Liberté, morre em Fortaleza aos 96 anos

O Povo

05/05/2017

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Padre Henri viveu em prol dos mais pobres (Evilazio Bezerra/O POVO)
Padre Henri viveu em prol dos mais pobres (Evilazio Bezerra/O POVO)

Henri fundou o Emaús Liberté e dois projetos sociais surgiram em Fortaleza das suas vindas - Emaús e 4 Varas. Ele dizia que gostaria de morrer entre os pobres, por quem dedicou à vida. Os últimos anos foram passados em casa no Pirambu

Aos 96 anos, o padre francês Henri Marie Le Boursicaud morreu de causa natural na noite dessa quinta-feira, 4, em sua residência no Pirambu, onde vivia há seis anos. Fundador da primeira Comunidade Emaús do Brasil, o redentorista dedicou a vida às questões sociais e conviveu entre os pobres. O corpo está sendo velado no Projeto 4 Varas, ao qual Henri deu nome.

A missa de corpo presente será a partir das 15 horas desta sexta-feira, 5, também na comunidade 4 Varas, acesso pela Vila do Mar. O sepultamento será no cemitério Parque da Saudade, a partir das 16 horas.

Autor de 27 livros, Henri nasceu em 23 de agosto de 1920 em Elven, na Bretanha francesa. Nos últimos três meses, estava com a saúde debilitada pela idade, como conta o responsável pelo Emaús no Ceará, Airton Barreto. "Um padre pobre que denunciava as injustiças sociais. De bens materiais, deixa apenas duas calças, duas camisas, uma bengala e um chapéu. Sendo que uma calça e uma blusa estão no caixão", diz.

Apesar da idade avançada, a presença e convivência com o padre Henri era muito forte. "O que mais marca é sua coerência. Ele sempre dizia para tentarmos pensar bem, falarmos como estamos pensando e agir como pensamos e falamos. E que se você queria dizer alguma coisa, dissesse, senão ninguém ia dizer por você", narra Airton.

Henri entrou para o seminário dos Redentoristas aos 9 anos, foi ordenado sacerdote aos 26 e, anos depois, abandonou o convento para vivenciar o evangelho e conviver com os mais pobres. O primeiro contato com essa realidade foi na barraca de Champigne, comunidade de imigrantes portugueses em que havia apenas três torneiras de água. De lá para cá, morou no Iraque, no Haiti, com pigmeus, entre outros povos.

Aos 75 anos, andou a pé 1.500 quilômetros de Paris à Roma para chamar atenção da Igreja sobre as incoerências do Vaticano. "No fim da vida, ele dizia que a chegada do papa Francisco foi resposta à sua caminhada", explica Airton.

Em 2009, o redentorista morou três meses na comunidade Vila Velha, próximo ao mangue do rio Ceará. Em entrevista ao O POVO, falou sobre essa e outras experiências: “Se meu pai me visse ali (Vila Velha), aos 90 anos, diria: depois de velho, o Henri virou mendigo. A minha experiência foi de que não tinha vivido tudo ainda. Ali há malandros, criminosos, mas criminosos há em toda a parte. Também encontrei muito calor humano, a bondade, a simplicidade, a lealdade, a porta aberta. Vivi-se uma miséria horrível no Vila Velha, como se fossem porcos. Quando chove, mais ainda. Como ficam os pequenos? É horrível. Mas estão sonhando, não sei como pode isso”.

Convivência

"Nós somos únicos, Deus não nos repete, ele dizia. Na vida, há dois caminhos: o do poder e do dinheiro; e o outro é o caminho do amor e da justiça. Para entrar no do amor e da justiça, é preciso fazer ligação permanente com os pobres", rememora Airton sobre os ensinamentos do padre Henri. O anfitrião dos últimos anos de vida do redentorista explica que pediu para cuidar dele como um filho cuida de um pai.

"Um homem vivaz, que quando tomou a decisão de morar conosco disse que queria morrer entre os pobres. Já tinha suas limitações de saúde, mas falava com emoção e penetrava nossos corações", afirma o consultor de marketing e vizinho do padre, Erivardo Silva, 38. Segundo Erivardo, Henri adorava caminhar pelo calçadão e apreciar o mar, o qual já conheceu em idade avançada. "De passos curtos, encurvado, ele falava com altivez. Amante dos animais, das pessoas mais simples e desassistidas", frisa o vizinho.

Legado

O Movimento Emaús Amor e Justiça é uma organização sem fins lucrativos, que atua na comunidade Pirambu desde 1992. Com o objetivo de luar contra a miséria, a ONG atende mais de 400 crianças de jovens e conta com colaboradores para recuperar objetos usados e gerar renda.

Já o projeto 4 Varas foi criado em 1988 para resgatar direitos básicos de migrantes sertanejos. Trata-se de um Movimento Integrado de Saúde Mental Comunitária, com estímulo às descobertas de valores pessoais e culturais dos asssistidos. 

AMANDA ARAÚJO

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