Diário do nordeste
04/04/2017
A dona de casa Francisca da Costa Oliveira, de 52 anos, estava preparando o almoço, no último sábado, dia 1º, quando percebeu que a água da pequena lagoa, próxima ao casebre onde mora, no bairro Alto da Brasília, no município de Granja, começou a invadir tudo. Segundo ela, em pouco tempo, roupas, objetos da sala e da cozinha, e até documentos, foram levados pela correnteza, que também danificou a geladeira e encharcou por completo o colchão da cama.
Parte do casebre chegou a ruir, quando Francisca buscou abrigo na casa da filha, que mora ao lado. "A água invadiu a casa toda. Não consegui salvar quase nada. Minha filha me ajudou a resgatar poucos objetos. Fiquei na casa dela, até que a ajuda chegasse", disse a dona de casa que, por hora, não pretende voltar ao local, pois a lama ainda toma conta de tudo.
Em outro ponto da cidade, no Bairro da Cachoeira, a dona de casa Raimunda Nonata de Morais se viu na mesma situação. A casa de taipa, com cerca de quinze pessoas, entre adultos e crianças, foi completamente tomada pela água. Além de documentos, Raimunda só conseguiu salvar o sofá, um pequeno guarda-roupas e o fogão. "Foi tudo muito rápido. Apesar de ter muita gente na casa, não deu para salvar quase nada", disse a dona de casa que, juntamente com outras oito famílias, foi resgatada por equipes da Guarda Civil do município e da Secretaria de Assistência Social. Todos foram transferidos para o Polo de Convivência Social da cidade.
Abrigadas no Polo, nove famílias, com cerca de 28 pessoas no total, têm recebido alimentação, assistência social, médica e psicológica, além de colchões e água potável. De acordo com Ana Luiza da Silva Rocha, subsecretária da Assistência Social de Granja, a situação de cada família está sendo avaliada, assim como os prejuízos causados pela chuva nas moradias, localizadas em áreas de risco.
"Estamos avaliando a situação de cada família, dependendo dos estragos causados pela água, pois cada caso tem sua necessidade diferenciada. Todas as equipes dos Centros de Referência da Assistência Social já iniciaram os atendimentos para vermos o que deverá ser feito. Acredito que, com a expectativa de mais chuvas, outras famílias sejam trazidas para cá, nas mesmas condições".
O município de Granja é cortado por pequenas lagoas e riachos, o que cria diversos pontos considerados de risco pela Defesa Civil, principalmente durante a quadra invernosa. Os bairros localizados na periferia da cidade mais propensos ao alagamento, e que foram atingidos nessa última enxurrada, são o Boca do Acre, Alto da Brasília, Barrocão, Lagoa e Favelão. De sexta-feira para sábado (dias 31 março e 1º de abril) choveu 111 milímetros.
Enchente
A invasão da água é resultado da cheia do Açude Parazinho, não monitorado oficialmente pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), que recebe água do Rio Jaguarapi, que banha a cidade.
Segundo Francisco Aquino, coordenador da Defesa Civil de Granja, "estamos monitorando esses pontos críticos da cidade, que na verdade abrigam famílias reincidentes na questão das enxurradas. Elas receberam novas residências, mas retornaram para as áreas de risco. Além da assistência nesses pontos, estamos realizando um levantamento das condições do distrito Parazinho, que já começa a sentir os efeitos da sangria do açude. O município está em alerta, mas contamos com apoio da Cogehr e Defesa Civil do Estado, que enviaram equipes de trabalho".