Diário do Nordeste
22/03/2017
As usinas Pecém I e II, instaladas no Ceará, estão entre as maiores do Brasil ( Foto: Antônio Azevedo )
Baixo nível dos reservatórios no País e potencial retomada da economia devem aumentar demanda.
Com o nível dos reservatórios das principais hidrelétricas do País abaixo do registrado no mesmo período do ano passado e com a possível retomada do crescimento da economia neste ano, a expectativa é de que aumente a necessidade de uso das termelétricas. Nesse cenário, as usinas Pecém I e II, no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp), que estão entre as maiores do Brasil, deverão continuar em operação mesmo com os custos do Encargo Hídrico Emergencial (EHE), taxa extra estabelecida pelo governo, em outubro do ano passado, devido à crise hídrica que afeta o Estado.
"Embora elas tenham um alto consumo de água, essas térmicas estão operando normalmente e a expectativa é de que, se essas chuvas continuarem no Ceará e o Castanhão se recupere, elas continuem normalmente", diz Jurandir Picanço, presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Energias Renováveis do Estado do Ceará (CS Renováveis). "As usinas térmicas que têm um preço mais barato, como as de carvão aqui do Ceará, funcionam praticamente de forma permanente".
No ano passado, as empresas EDP e Eneva, responsáveis pelas usinas, ameaçaram desligá-las devido ao alto custo do EHE e questionaram o encargo na Justiça. Mas, depois de analisar o pleito das empresas, que já havia sido rejeitado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o Tribunal Regional Federal do Distrito Federal também negou o repasse da taxa extra para o consumidor de energia. De acordo com dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a produção das usinas vem aumentando desde o início deste ano, chegando a 1.056,3 MW médio na última segunda feira, praticamente a capacidade máxima da usina.
Reservatórios no País
Segundo dados do ONS, referentes ao último domingo, (19) os reservatórios das hidrelétricas do subsistema Sudeste/Centro-Oeste, responsável pela maior parte do abastecimento do País, estava com apenas 41,3% da capacidade total. No mesmo período do ano passado, o nível era de 56,3%. Nos subsistemas Sul e Nordeste, o nível também caiu nos últimos 12 meses, passando de 95,6% para 48,8% no Sul, e de 33,5% para 21,6% no Nordeste. Apenas no Norte houve crescimento do volume armazenado, que passou de 52,6% para 62,9% no mesmo período.
"O que ocorre é que nós estamos chegando ao final do período chuvoso e as barragens ainda não se recuperaram. No rio São Francisco, cujas cabeceiras estão no Sudeste, os reservatórios se recuperaram muito pouco e isso foi uma frustração porque se tinha uma expectativa de boas chuvas neste ano", diz Picanço. Com o baixo nível das principais hidrelétricas e aumento da demanda, possivelmente as usinas térmicas com custos mais elevados começaram a operar.
"Quando essas térmicas entrarem em operação, aí entrará a bandeira amarela e a bandeira vermelha", diz Picanço. Tudo dependerá do nível dos reservatórios até abril, quando termina o período chuvoso no País.
Fontes renováveis
Para o presidente da CS Renováveis, se houvesse mais usinas eólicas e fotovoltáicas no País, "o risco de entrar na bandeira vermelha seria muito menor. Porque temos capacidade para gerar muito mais energia renovável", ele diz.
Segundo o ONS, no último dia 19, as usinas eólicas foram responsáveis por 4% da geração no País, enquanto as hidrelétricas responderam por 77,8% e as térmicas por 16,8%.
Armazenamento
41%
É o nível dos reservatórios das hidrelétricas do subsistema Sudeste/Centro-Oeste