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Grupo levou mais de 150 mulheres em 7 anos para se prostituir na Europa

G1 Ce

20/02/2017

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Perfil de casa noturna em rede social mostra uma das mulheres (Foto: Reprodução/TV Globo)
Perfil de casa noturna em rede social mostra uma das mulheres (Foto: Reprodução/TV Globo)

O grupo criminoso acusado de fazer parte da rede de uma rede internacional de tráfico de seres humanos e favorecimento à prostituição desmontado pela Polícia Federal nesta semana agia desde 2010 e levou para a Europa mais de 150 mulheres nesse período, segundo as investigação.

O Fantástico acompanhou a operação que prendeu 15 pessoas em Fortaleza, Itália e Eslovênia na quarta-feira (15) e teve acesso à parte da investigação que mostra como funcionava o esquema. Os mandados de prisão foram expedidos pela 32ª Vara da Justiça Federal no Ceará. Na Operação Marguerita, a PF teve a parceria das polícias da Itália, da Eslovênia e também da Interpol.

Se condenados, os envolvidos com a quadrilha podem pegar 25 anos pelos crimes de tráfico internacional de pessoas, associação criminosa e lavagem de dinheiro.

Prisões
A ação começou ainda de madrugada. Em um condomínio da Avenida Beira-Mar, em Fortaleza, a Polícia Federal prendeu os eslovenos Vito Camerník e Tíne Mótoh, suspeitos de fazer parte da rede que explorava brasileiras na Itália e na Eslovênia. Três italianos – Marco Paolo Villa, Flávio Frúgis e Pasquale Ferrante – também foram presos.

Brasileiros que trabalhavam para a quadrilha também foram presos na Itália e na Eslovênia.  Com a ajuda da Interpol e dos adidos da Polícia Federal na Embaixada em Roma, a polícia italiana prendeu três brasileiras acusadas de fazer parte da quadrilha: Carla Sueli Silva Freitas, Dayana Paula Ribeiro da Silva - conhecida como Paloma, e Emanuella Andrade Bernardo. Carla, Dayana e Emanuella ainda não foram extraditadas ao Brasil.

Ilusão financeira
Em um telefonema gravado com autorização da Justiça, Emanuella e Paloma conversam sobre a dúvida, de uma outra brasileira, em relação ao faturamento das prostitutas da quadrilha.  “Não é possível que ela não ganhe 250 euros em dois dias. Não existe isso. Eu ganhei quase mil euros na primeira noite; por que ela não vai ganhar? Ela é bonita como eu”, diz Emanuella na ligação. Duzentos e cinquenta euros equivalem a cerca de R$ 820.

Cada programa custava 200 euros (cerca de R$ 620) e a quadrilha ficava com metade desse dinheiro. Explorando 20 brasileiras, eles podiam ganhar 10 mil euros por dia (cerca de R$ 65 mil).

Para a polícia, esse dinheiro é, na verdade, uma ilusão. “O canto da sereia é que muitas já estavam se prostituindo aqui, então decidiam se prostituir lá porque iam ganhar em euro. Chega lá a realidade é diferente, porque ela tem que cumprir com o que eles determinam, de se submeter a diversas relações sexuais mesmo doente ou cansada. Todos os dias”, explica a delegada da PF Juliana Pacheco.

Esquema milionário
A investigação descobriu ainda remessas de dinheiro movimentado pela quadrilha entre a Eslovênia, a Itália e o Brasil. Em um único dia, por exemplo, a quadrilha recebeu em uma conta bancária em Fortaleza R$ 1 milhão.

O esquema utilizava várias agências de turismo. Uma delas, do italiano Marco Paolo Villa, um dos presos na operação. Segundo a polícia, a agência financiava as passagens das brasileiras que, depois, tinham de reembolsar o valor - se prostituindo.

“Ela às vezes vai consciente de que vai ser explorada sexualmente, mas não de vai ter a liberdade cerceada. Porque quando chega no local de destino os documentos são apreendidos, e ela já chega com uma dívida enorme, de tudo que foi contraído aqui”, explica Alessandra Xavier Nunes, que integra o Ministério da Justiça.

As brasileiras voavam em aviões de empresas aéreas italiana que fazem voos fretados entre Fortaleza e Milão, na Itália. De lá, viajavam 400 quilômetros de trem até Gorítza, cidade italiana que fica na fronteira da Itália com a Eslovênia. Era na cidade eslovena de Nova Gorítza que elas se prostituíam.

As brasileiras viviam na cidade italiana e usavam um hotel em Nova Gorítza, na Eslovênia, para se prostituir. O principal ponto era a boate eslovena 'Marguerita', que deu nome à operação da Polícia Federal.  Na internet, a boate é apresentada como "um ótimo lugar pra relaxar e se divertir. A atmosfera prazerosa é complementada por banho turco, hidromassagem e uma surpresa quente". O site do estabelecimento diz que o horário de funcionamento é de 14h até 2h ou 4h, dependendo do dia.

A Polícia Federal diz que, na verdade, as brasileiras trabalhavam em dois turnos e também em uma segunda boate, a Faraon na mesma cidade eslovena. “Elas tinham que fazer no mínimo seis relações sexuais por dia. No horário lá de 7 da noite às 3 da manhã. Terminava lá na boate Marguerita,  elas iam para a outra boate, Faraon, e lá também teriam que manter outras relações sexuais”, afirma a delegada.  A Polícia não divulgou a identidade dos donos das duas boates.

Imigração
De acordo com a polícia, o primeiro problema das brasileiras era entrar na Itália. Em um telefonema, Emanuella e Paloma, duas participantes da quadrilha falam sobre outra brasileira. A mulher em questão tem pouco dinheiro em mãos e no controle da imigração, para entrar na Itália,  é difícil convencer as autoridades de que está no país para fazer turismo. “Ela tá chorando no aeroporto. Ele deu 50 euro, fia. Com 50 euro ela não entra na Itália. Tá dando tudo errado na viagem”, comenta uma delas.

Na mesma conversa, elas mencionam um documento chamado carta-convite. Ele é preenchido por uma pessoa que mora legalmente na Itália quando ela convida um turista estrangeiro para visitar o país. “E a carta de convite que tu deu a ela, da onde é?”, pergunta uma delas. “Eu não dei, não. Ela não me pediu, não, a carta-convite”, responde a outra.  A pessoa que convida tem de declarar ter 3,9 mil euros – ou mais de R$ 12 mil -  disponíveis para o visitante, se ele precisar de dinheiro.

Segundo as autoridades, o crime de tráfico para exploração sexual é pouco notificado no Brasil. Os dados mais recentes são de 2015, com 122 casos de tráfico internacional de pessoas. “Porque ela fica com vergonha, porque ela não quer dizer que é prostituta. Isso dificulta a investigação”, revela a delegada Juliana Pacheco.

Outro lado
Um advogado que se apresentou em Fortaleza como amigo das brasileiras presas disse aos repórter Eduardo Faustini que elas não se manifestariam sobre o assunto.

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