Diário do Nordeste
09/01/2017
Várias cidades do Estado foram afetadas pela 'Operação Tolerância Zero', iniciada às 18h do último sábado (9) e intensificada ontem. Conforme a convocação dos organizadores, feita pelas redes sociais, o intuito era levar um número grande de ocorrências para as Delegacias de Polícia Civil, para que as viaturas fiquem o maior tempo possível no local e o policiamento ostensivo nas ruas fosse reduzido. Segundo os próprios PMs, a ação acontece em retaliação ao Governo, por conta do aumento salarial.
Somente das 8h às 16h, 18 viaturas estiveram na Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA). Conforme o policial que estava na permanência, 13 ocorrências foram levadas pela PM. O agente afirmou que o movimento triplicou se comparado a um domingo normal.
"Teve até crime ambiental. Nunca tinha visto aqui na DCA. Dois adolescentes mataram um passarinho com uma baladeira e foram conduzidos para cá. Trouxeram a baladeira e o passarinho morto como prova. Está tudo ai", declarou o policial, que preferiu não se identificar.
As outras ocorrências registradas na DCA foram por receptação, tráfico de drogas, pilotar veículo sem documentação e a maioria por uso de drogas. No momento em que a reportagem esteve na Especializada havia seis viaturas paradas. Três delas do Batalhão de Policiamento Turístico (BPTur), responsável pelo patrulhamento da orla.
O policial na permanência informou que os flagrantes estavam durando, em média, uma hora e meia para serem finalizados. "Além do procedimento daqui, os policiais ainda precisam levar o adolescente para a o exame corpo de delito, na Perícia Forense do Ceará (Pefoce), que está muito cheia também".
Um funcionário terceirizado do Complexo, onde fica a DCA, se disse admirado com o movimento. "Fazia tempo que não via tanta viatura aqui. Chega mais a todo instante. Toda hora tem muito policial esperando para ser atendido. Já teve horas que contei mais de 20", afirmou.
Capital e Interior
Na Delegacia plantonista do Centro, o 34ºDP, foi lavrado um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) por uso de entorpecente e dois flagrantes por roubo, das 8h às 18h. "Até agora o movimento não foi alterado. As ocorrências que registramos foram as de rotina. No Centro da Cidade há realmente uma incidência grande de roubos. Não fugiu da normalidade. O que pode ter sido motivado pela operação foi o T.C.O. Por uso, porque a pessoa conduzida portava uma quantidade diminuta de maconha, apenas um cigarro. A presunção é que seja um usuário", afirmou o delegado plantonista, Carlos Eduardo Pires Rocha.
O movimento para o registro de Boletim de Ocorrência (B.O.) e expedição de Guias Cadavéricas foi muito alto, segundo o delegado. Durante a tarde, a expectativa é que cada pessoa esperasse, no mínimo, três horas por um B.O.. "Os flagrantes têm prioridade. O registro de B.O. Só é retomado quando não tem mais flagrante. Por conta disto, muita gente desiste ou procura outra Delegacia", afirmou um policial que estava na permanência.
No 30ºDP (São Cristóvão) e na Delegacia Metropolitana de Maracanaú muitas viaturas estavam paradas. Um policial militar que aguardava na porta da DP disse que o movimento estava ganhando corpo. "Não adianta negar. Estamos sim fazendo um movimento em busca de salários melhores e de condições de trabalho. O Governo quer enganar o povo dizendo que está fazendo alguma coisa pela Polícia, mas não está. Agora é tolerância zero mesmo", declarou.
Uma mulher que aguardava para fazer B.O. Afirmou que ficou surpresa com a operação. "E já não era tolerância zero? Quer dizer que a Polícia fazia vista grossa para alguns crimes ou que só se sente motivada quando quer pressionar o Governo?".
Continuidade
Lideranças políticas e membros das associações divulgaram um vídeo, na noite de ontem, dizendo que haverá a continuidade da operação. Segundo o soldado Noélio, o objetivo do movimento "é sensibilizar o Governo sobre a tabela enviada à Assembleia, em que um soldado tem um aumento de R$ 2,62 em uma das parcelas". As lideranças consideraram o movimento do fim de semana "um sucesso" e ressaltaram a "participação em massa dos policiais do Interior".
O coronel Lauro Carlos de Araújo Prado, secretário adjunto da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), disse que a Pasta acompanhou a movimentação de perto e implantou medidas para que não houvesse prejuízo à sociedade. "As ocorrências não foram acima do fluxo normal de domingo. Tentaram, mas não houve a adesão que eles esperavam", afirmou.
Segundo o coronel, houve também a tentativa de espalhar notícias falsas para disseminar uma sensação de insegurança. "Tentaram criar um caos nas redes sociais. Querem passar como verdade uma coisa que não é. O número de ocorrências está dentro do esperado e as Delegacias e o policiamento ostensivo estão funcionando normalmente. Não houve prejuízo nenhum no número de PMs nas ruas", declarou Prado.