Diário do Nordeste
07/12/2016
O adolescente que assassinou o juiz Edvalson Florêncio Marques Batista, 77, durante um assalto ocorrido no dia 8 de março deste ano, fugiu, ontem, do complexo onde ficam a Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA) e a 5ª Vara de Execuções da Infância e Juventude. Esta é a segunda vez que o garoto escapa do local em 12 dias. O infrator havia sido recapturado, na última segunda-feira (5), e menos de 24h depois escapou de novo. Com esta fuga, o adolescente já soma 21 passagens pela Polícia.
A primeira vez que foi apreendido, o menino tinha 12 anos. Porém, já era suspeito de envolvimento com roubos e furtos antes disso, mas não podia ser capturado pela Polícia, porque o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece como 12 anos a idade mínima para que uma pessoa possa ser punida.
Dos 12 aos 17 anos, o menino coleciona apreensões por latrocínio, homicídio, porte ilegal de arma, tráfico e roubo. Conforme a 5ª Vara, nos últimos cinco anos, ele esteve internado em Centros Educacionais ou foragido. Só de dezembro de 2015 até agora, já fugiu quatro vezes do Sistema Socioeducativo. O garoto era fugitivo de um Centro Educacional, quando praticou o assalto que terminou com a morte de Edvalson Batista.
Ele foi apreendido e internado por conta do latrocínio. No Centro Educacional em que cumpria a medida tentou matar outro interno e foi conduzido à DCA para ser autuado pela tentativa de homicídio, no dia 24 de novembro. Na oportunidade se livrou das algemas e conseguiu fugir do local.
Na tarde de segunda-feira, ele interceptou um veículo utilizando um simulacro de escopeta, próximo a um shopping, no bairro Papicu, e acabou sendo apreendido pela Polícia de novo.
Na manhã de ontem, o adolescente tinha uma audiência com o promotor de Justiça da Infância e Juventude, mas foi encaminhado ao prédio da 5ª Vara. "Houve um erro. Não era aqui que o promotor iria ouvi-lo. Mesmo assim trouxeram o infrator para cá e o deixaram sozinho em uma cela, em um momento que não havia movimento nenhum na 5ª Vara. Para completar não colocaram o cadeado. Uma negligência total", afirmou o juiz Manoel Clístenes de Façanha e Gonçalves, titular do Juizado.
Conforme testemunhas relataram ao juiz, alguns tiros foram disparados no interior do Complexo, na tentativa de parar o infrator. No entanto, ele pulou o muro e conseguiu ir embora. A mesma testemunha disse que o garoto não usava algemas.
O magistrado explicou que o infrator é perigoso e representa um risco à sociedade. "Todas as vezes em que ele foi apreendido foi pela prática de atos infracionais graves e gravíssimos. O crime está na vida dele. Se acostumou a viver assim. O Sistema não consegue ressocializa-lo, nem ele quer. Nunca demonstrou nenhuma boa vontade de sair da vida que está", afirmou Clístenes Gonçalves.
O juiz demonstrou preocupação com a situação dos adolescentes que passam na 5ª Vara. "Nem só ele, mas a maioria tem valorações completamente distorcidas. Valorizam demais coisas erradas. O modo que lhes parece certo viver é o errado. Não ligam de estarem tão próximos ao crime".
A PM iniciou as buscas logo após a fuga. Uma aeronave da Coordenadoria de Operações Aéreas (Ciopaer), cães da Ronda com Cães (Roca), patrulhas do BPRaio e do Ronda do Quarteirão fizeram um cerco em um matagal, onde o suspeito podia estar, mas ele não foi localizado.