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Avanço da maré destrói barracas no litoral do CE

Diário do Nordeste

18/10/2016

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O tormento iniciado na madrugada do último sábado (15) parece não ter fim para os donos de barraca de praia de parte do litoral cearense. O mesmo mar que outrora foi motivo de alegrias, por atrair turistas de todo o Brasil e gerar renda para os comerciantes, se tornou responsável por levar, em suas águas, muito mais que o concreto das barracas, arrastou consigo investimentos de décadas de trabalho.

Arpoeiras (Cidade de Acaraú), Icaraí (Caucaia) e Beberibe registraram problemas por conta da maré alta. Uma delas foi a Barraca Canarinho, no Icaraí, derrubada pela força da maré no último domingo.

Na tarde de ontem, em meio a uma movimentação intensa de voluntários que lutavam para preservar o que ainda restou, na Praia de Morro Branco, em Beberibe, podia-se perceber que tristeza, abatimento e perplexidade compunham os rostos daqueles que viram a sua fonte de sustento ruir diante dos olhos. A proprietária de uma das barracas, Marilene de Sousa Santos, 31, contou que nos 27 anos em que sua família viveu do comércio nunca tinha passado por uma situação tão grave.

"Quase 28 anos e nunca tinha visto isso dessa forma. Tentamos fazer o possível para não desabar tudo, pois temos que pensar nos nossos vizinhos também". A barraca de Marilene foi uma das mais afetadas. Apesar da situação adversa, a comerciante mostra que não perdeu sua fé e acredita em tempos melhores. "É uma mistura de sentimento, não consigo nem dizer o que estou sentindo. Eu não sei te responder o que vou fazer daqui para frente. Eu só espero que alguém lembre da gente, sei que Deus está lembrando. Ele nos dará um outro meio ou até aqui mesmo, só que em condições melhores. O que nos resta é ter fé", relata a proprietária com olhos marejados.

Condições

Na barraca ao lado de Marilene, a situação é ainda pior. Anderson Lima, 19, parecia não acreditar no que acontecera com a barraca do pai. "Fomos avisados às 5 horas da manhã do domingo, meu pai não teve condições de olhar a situação e foi encaminhado para o hospital. Até agora, ele está em casa tomando remédio para se acalmar, não consegue parar de chorar", revelou o jovem, no fim da tarde de ontem.

Anderson fala que pouco pôde ser feito para salvar o local, apenas alguns acessórios da cozinha e o piso foram retirados. "Domingo, a gente ainda veio recolher o que deu e levamos tudo lá para casa. Ontem, a maré veio e derrubou toda a estrutura da cozinha, falta só essa pequena parte ser levada. Tiramos parte do piso e das panelas. Não temos planos, vivemos disso aqui há mais de 20 anos", finalizou.

Há 32 anos no local, o comerciante e pescador Erivan Monteiro, 59, mostra-se surpreso com a situação. "Nunca vi isso na minha vida, já vi muitas ressacas do mar, mas nunca com essa dimensão". O pescador admite que conhecia os riscos de possíveis problemas. "A gente que conhece o mar e suas marés sabe que essas coisas podem acontecer. Sabíamos que o fim de semana era de Lua Cheia, sempre tem esse risco", revelou.

O proprietário acredita que em breve poderá reabrir sua barraca, mas lamenta por seus vizinhos que tiveram grandes danos. "São prejuízos incalculáveis, temos que ter muita fé e trabalhar. É preciso uma estrutura física forte e um financeiro bom para se reerguer, é de se lamentar que alguns dos colegas não possuam esse capital. É triste, gostaria muito que as autoridades tivessem a sensibilidade de nos ajudar nesse momento".

Ocupação

O professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Jeovah Meireles, afirma que a situação atual deve-se à manutenção do padrão de ocupação inadequada na região litorânea, o que diminui o aporte de sedimentos. "Os impactos cumulativos, como a invasão urbana ocupando áreas de praia e de dunas, que são os potenciais protetivos às grandes marés, explicam o que está ocorrendo no litoral. Já as mudanças climáticas apontam processos erosivos claros no litoral de todo o Planeta. A tendência é de que esses impactos cumulativos produzam mais colapsos ambientais", alerta.

O especialista Meireles lembra que são construídas barreiras e espigões na tentativa de mitigar o problema, o que acaba descaracterizando e impactando mais ainda a zona costeira. "Uma outra consequência desses eventos erosivos são as decisões individuais, sem um estudo mais abrangente, dentro de políticas públicas, o que agrava mais ainda a situação".

ENQUETE

O local já havia sido afetado?

"Eu já tinha visto isso sim. Quando eu era criança, vi a água do mar ir até os coqueiros que ficam ali na parte de cima da praia. Não é novidade para nós, que somos de uma geração mais antiga"

Francisco da Costa

Pedreiro

"Sim, eu já vi isso na época que comecei a pescar. Quando eu tinha uns 9 anos, essa área aqui toda era mar. Bate uma tristeza vendo isso aqui, sei que muita gente tira o seu sustento dessas barracas"

José Miguel

Pescador

Estragos

Destruição

Na Praia do Icaraí, cidade de Caucaia, a Barraca Canarinho foi arrastada pela

Força do mar durante o fim de semana foto: helene santos

Medo

Quem passou por Beberibe ontem encontrou, em diferentes locais, restos da estrutura de algumas barracas foto: jl rosa

Tempo

 

Os problemas causados pelo avanço da maré no entorno da Praia do Icaraí têm aumentado ao longo dos últimos anos foto: helene santos

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