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Transferência das águas do Orós motiva protestos

Diário do Nordeste

29/07/2016

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Agricultores, piscicultores e moradores deste município e de Quixelô, no Centro-Sul do Estado, realizaram uma pequena manifestação, na manhã de ontem, na parede do Açude Orós, em protesto à decisão de transferência de água do referido reservatório ao Açude Castanhão. Segundo eles, a medida vai causar grande impacto em milhares de famílias ribeirinhas que dependem, exclusivamente, das águas do manancial para sobreviverem.

O presidente da associação dos irrigantes de Icó, Valdeci Alves Ferreira, se diz preocupado com a grande quantidade de água a ser liberada pelo Orós. Ele relata, ainda, que não está ocorrendo vazão para o Açude Lima Campos, o que compromete ainda mais a agricultura irrigada de 65 colônias. Segundo ele, somente no perímetro Icó/Lima Campos são sete mil pessoas que trabalham na agricultura irrigada, numa área de 10.400 hectares. "É um absurdo o que estão fazendo com a gente", desabafa. O irrigante afirmou também que ele e mais dois presidentes de associações entraram com ação na Justiça Federal para garantir a sobrevivência das comunidades envolvidas com a agricultura no local.

Em Orós, segundo informou o membro do Comitê da sub-bacia do Alto Jaguaribe, Paulo Landim, o número de afetados será grande. "A colônia de pescadores possui 1,2 mil cadastrados. Fora isso, são 700 famílias que vivem da produção de tilápias e 12 comunidades, com cerca de 60 famílias cada, também dependem diretamente das águas do manancial. A quantidade de pessoas prejudicadas será significativa", acrescenta.

O presidente da Associação de Piscicultores de Quixelô, Derivaldo Coelho da Silva, disse que o baixo volume da barragem não tem dado condições para os piscicultores continuarem suas atividades. "A maioria dos nossos criadores está colocando as gaiolas para fora porque não tem condições de criar. Eu, por exemplo, já perdi 90% da minha criação de peixe e, igual a muitos outros, estou com muitas dívidas nos bancos e não teremos renda para quitar nossos compromissos", reclama.

Paulo Landim ressaltou que o movimento é para dar visibilidade "aos graves problemas que vão acontecer caso o Orós mande o resto de suas reservas para dar suporte ao abastecimento da RMF e ao baixo Jaguaribe". As comunidades pedem uma contrapartida do governo para "minimizar os prejuízos".

A secretária de Agricultura de Quixelô, Jessilene Josino de Araújo, lembra que inúmeros agricultores adquiriram empréstimos bancários objetivando investir na piscicultura e agora se veem impossibilitados de quitar tais dívidas. "A maioria está com os empréstimos atrasados ou próximos de vencer. Mas como eles vão pagar? A renda já estava prejudicada devido à seca e agora, com essa redução no nível do açude, muitos ficarão sem nenhuma fonte de renda", critica ela, que também é piscicultora.

Em sua avaliação, o governo do Estado deveria sanar as dívidas, para que o agricultor tivesse o nome limpo e conseguisse capital para aplicar em outro segmento, como novo meio de sobrevivência. "Seria o pontapé para as famílias. Muitos vão ter que recomeçar do zero, e recomeçar com dívidas bancárias fica ainda mais difícil", ponderou.

Landim adverte ainda para a necessidade urgente de perfuração de novo poços e, sobretudo, um amplo trabalho de conscientização: "Que todo esse drama sirva, pelo menos, de lição. O Governo era para ter começado a agir há quatro anos e não agora, com a situação quase irreversível. Se tivessem desenvolvido um trabalho de conscientização ou até mesmo de racionamento, certamente os níveis dos açudes estariam melhores, sem a necessidade de retirar água de um reservatório para salvar outro".

Perfuração de poços e conscientização são duas dentre as 11 medidas emergenciais divulgadas na terça-feira, pelo governador Camilo Santana, a serem realizadas para a segurança hídrica de Fortaleza e RMF.

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