"Não vou mais mexer nisso, já me aborreci demais", disse o deputado federal Adail Carneiro (PP) ao saber da última decisão judicial, conhecida ontem, afastando-o novamente da presidência estadual do PP cearense. Na última sexta-feira, uma decisão da desembargadora Vera Lúcia Correia Lima, do Tribunal de Justiça, havia garantido a presidência do partido a Adail, revogando uma liminar, concedida anteriormente, para manter na presidência da sigla o Padre Zé Linhares, afastado por ato da presidência nacional da agremiação.
Ontem, muito cedo, Adail foi até a sede do PP e assumiu o cargo de presidente, mas imediatamente foi comunicado de uma nova decisão, esta no processo original contra o ato da direção nacional do PP que havia afastado toda a direção estadual. Toda essa movimentação aconteceu pelo fato de Adail ter votado a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff, contra a orientação do seu antigo grupo político local, comandado pelo ex-governador Cid Gomes.
De acordo com a decisão dada no dia 24 de julho pela juíza Maria Valdenisa de Sousa Bernardo, da 11ª Vara Cível, a ação contra a posse de Adail como presidente estadual do PP é inteiramente procedente. Por isso, ela autorizou o imediato retorno de seus anteriores integrantes às funções de comando no partido, "o que faço mediante concessão de tutela de urgência por ocasião desta sentença".
Conveniente
Segundo a decisão, a tutela de urgência pode ser concedida liminarmente quando o tempo ou a atuação da parte contrária for capaz de frustrar a efetividade da tutela sumária. Neste caso, o contraditório tem de ser postergado para o momento posterior à concessão da tutela.
"Não sendo o caso de concessão limitar, pode o juiz concedê-la depois da oitiva do demandado em justificação prévia na audiência de conciliação... Isso quer dizer que nada obsta que a tutela de urgência seja concedida em qualquer momento do procedimento, inclusive, na sentença a fim de neutralizar o efeito suspensivo da apelação ou mesmo nos recursos".
Procurado pelo Diário do Nordeste, Adail disse que lhe cabe apelação, mas destacou que não o fará. "Não vou mais mexer nisso, porque já me aborreci demais. Já tomei conhecimento e a partir daquele momento achei conveniente me resguardar. Não vou apelar", afirmou. Segundo ele, o processo todo serviu de aprendizado na sua vida pública, ressaltando ainda que permanecerá na base do governador Camilo Santana, caso seja chamado.
"Quando se recebe flores todos os dias e elas não vêm com espinhos, você precisa ficar atento", disse. Adail Carneiro foi conduzido à presidência do PP após votar favoravelmente ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, em maio passado, contrariando orientações do governador Camilo Santana e de Cid Gomes.
O parlamentar se disse pressionado pela direção nacional do partido a votar a favor do processo de impedimento do mandato da petista, ainda que horas antes tivesse afirmado que estaria do lado da presidente. Logo em seguida, a presidência atual do partido, formada pelo ex-deputado federal José Linhares e pelo prefeito de Massapê, Antônio José, entrou com recurso na Justiça contra a decisão da executiva nacional da legenda.
Na Assembleia Legislativa do Ceará, o PP tem a segunda maior bancada da Casa, com seis parlamentares, a maioria ingressa durante a abertura de janela partidária ocorrida no início deste ano. São eles: Bruno Pedrosa, Fernando Hugo, Zé Ailton Brasil, Walter Cavalcante, Leonardo Pinheiro e Lucílvio Girão.
No fim da semana passada, ao saberem da decisão de retorno do partido para as mãos de Carneiro, parlamentares do partido na Assembleia se rebelaram e chegaram a dizer que sairiam do partido caso ele fosse, de fato, reconhecido como presidente da sigla. O deputado federal, no entanto, disse que não mexeria no resultado das discussões feitas em prol de candidaturas para prefeito e vereador no Estado.
Em Fortaleza, o PP, além de ser aliado do prefeito Roberto Cláudio, faz parte da gestão atual, inclusive, comandando a Secretaria Municipal de Educação (SME). Quando informações davam conta de que o PP poderia ir para as mãos de Carneiro, a bancada do PP na Assembleia se reuniu e decidiu que abandonaria a sigla.