Diário do Nordeste
21/07/2016
Um ano após a confirmação do último caso de sarampo no Ceará, a Reunião para Verificação da Eliminação do Sarampo no Estado do Ceará, que reuniu autoridades locais e nacionais de saúde em Fortaleza, avaliou como encerrada a epidemia da doença no Estado.
O encontro, organizado pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS), avaliou os impactos da transmissão da doença entre dezembro de 2013 e julho de 2015; as falhas e os acertos do Governo do Estado, além da sustentabilidade da interrupção da circulação do sarampo.
Os dados apresentados pelo coordenador de Promoção e Proteção à Saúde da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), Márcio Garcia, mostraram detalhes sobre os 20 meses da epidemia no Ceará. A doença voltou a se espalhar no território cearense após 13 anos sem novas ocorrências, conforme a tabela de casos confirmados de sarampo do Ministério da Saúde. Em 2013, o ex-secretário de saúde, Carlile Lavor, comentou sobre a preocupação da OMS diante da possibilidade do Ceará oferecer risco de contágio do sarampo para o restante das Américas.
Segundo os dados apresentados por Garcia, o último caso confirmado foi em de 6 de julho de 2015. No Ceará, os meses com maior número de casos confirmados foram janeiro, julho e agosto de 2014, quando também foi registrada a maior incidência de pessoas infectadas, 8,6 por 100.000 habitantes.
No total, a Sesa registrou 1.052 casos confirmados em 38 municípios, sendo uma ocorrência em 2013, 840 em 2014 e outras 211 em 2015. O município mais afetado foi Fortaleza, seguido das cidades de Massapê, Caucaia, Uruburetama e Sobral. Em relação ao total de ocorrências suspeitas da doença, foram 4.611 no mesmo período.
Fatores
Entre os fatores contribuintes para o início da epidemia, a Sesa reconheceu falhas nas políticas públicas de saúde, incluindo o déficit na execução dos compromissos assumidos pelos prefeitos e secretários de saúde; limitações na execução de recursos financeiros para a realização de atividades de vigilância e alterações nas estratégicas de trabalho da atenção primária, bem como dos membros da equipe de saúde da família, especialmente o agente comunitário.
Além disso, também foi considerada como falha a falsa sensação segurança por parte do órgão devido as altas coberturas vacinais em todas as faixas etárias no Ceará, associada a uma percepção de que os municípios teriam uma rápida reação resposta em relação a introdução do vírus. Equipe técnica reduzida, quantidade insuficiente de vacinas no início da epidemia e a incapacidade de acompanhamento dos casos através de cada unidade de saúde também foram citados como fatores determinantes para a disseminação do sarampo.
Também foi comentada a identificação e notificação tardia de casos suspeitos, a dificuldade de acesso às comunidades de risco para executar ações de bloqueios e varreduras e a questão cultural da resistência da população em relação à vacina, e dela buscar as doses somente nas unidades de saúde.
O secretário da Saúde do Estado, Henrique Javi, comentou que o atual governo firmou o compromisso de estimular políticas de prevenção e promoção à saúde, principalmente no que se refere ao atual quadro de prevenção contínua, para que novos surtos do sarampo e de outras doenças não ressurjam. Entretanto, ressalta que é preciso uma maior participação ativa e constante da população.
"O sarampo é simbólico porque demonstra exatamente isso. Todos os anos nascem novas crianças que precisam passar pelo processo continuo de imunização. Quando não há adesão das famílias ao processo vacinal, você tem a potencialização de pessoas suscetíveis. Dessa maneira, qualquer ente que venha de fora pode provocar facilmente uma transmissibilidade grande", explica.