Diário do Nordeste
04/06/2016
Há mais de um ano na disputa para tornar-se a sede do hub (centro de conexões) da Latam no Nordeste, Fortaleza foi, segundo fontes próximas do governo estadual, recomendada diretamente pela presidente Dilma Rousseff à CEO da TAM, Cláudia Sender, e ao presidente da Latam, o chileno Henrique Cueto. No entanto, a menos de um mês para a provável decisão da companhia aérea, e sem o apoio do governo federal, Estado e Prefeitura apostam todas as fichas no ambiente de negócios que criaram para vencer Natal e Recife, e buscam assinar um protocolo de intenções com a companhia.
Ao desenvolver uma legislação e uma série de incentivos fiscais (estaduais e municipais) benéficas a qualquer empresa interessada em implantar um hub no município e sem medidas sequer parecidas nas outras duas cidades nordestinas que competem pelo equipamento, o secretário da Infraestrutura, André Facó, disse ter conseguido elaborar o texto em conjunto com técnicos da multinacional.
"Um protocolo de intenções entre o governo e a Latam estabeleceria os compromissos de cada uma das partes para, no caso da implantação, dizer quais as responsabilidades de cada um. Esse é o instrumento que falta para nos colocar bem diferenciados comparado aos outros estados", afirmou Facó, destacando a "transparência e a confiança que o protocolo representa para o negócio". O documento, segundo o secretário revelou com exclusividade ao Diário do Nordeste, deve ser assinado até o fim deste mês, o que marcaria mais um elo entre o Ceará e a companhia aérea.
Preparados para adiamento
A assinatura pelas partes, de acordo com a expectativa de Facó, deve acontecer mesmo que a Latam adie mais uma vez a data de escolha, como fez no fim do ano passado. Inclusive, esta possibilidade é considerada pelas pastas estaduais envolvidas na negociação.
O secretário do Turismo do Estado, Arialdo Pinho, observa que pode ser mais estratégico para a Latam decidir se deve mesmo optar por Fortaleza após a definição de quem será o administrador do Aeroporto Internacional Pinto Martins, que será concedido. Para ele, "a concessão é decisiva para a companhia saber com quem vai negociar". Caso o adiamento realmente ocorra - e as chances de Fortaleza fiquem mais evidentes -, a escolha do consórcio ou empresa que deve suceder a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) à frente do Aeroporto de Fortaleza deve ser conhecida entre setembro e agosto deste ano. Outro fator de peso para um possível adiamento da decisão é a crise econômica pela qual passa o País.
No entanto, o secretário de Infraestrutura observou que o hub para o Nordeste faz parte dos projetos globais e estruturais planejados pela Latam e, "do ponto de vista de um projeto de longo prazo, com maturação de 20 anos a 30 anos, as decisões não são tomadas assim" e, por isso, o anúncio da cidade não deve ser adiado mais uma vez.
"Eventualmente, a Latam pode querer saber o que venha a acontecer nos próximos meses (em relação a Fortaleza devido à concessão). Mas nós temos instrumentos que balizam a escolha de forma clara. Possuímos estudos, legislação, ou seja, já temos elementos, tirando esse contexto político atual e que é momentâneo, para que se possa ser tomada a decisão", diz Facó.
Procurada pela reportagem, no entanto, a Latam enviou a mesma nota que repassa à imprensa há seis meses, desde que adiou a data de escolha da cidade: "A Latam Airlines Brasil continua avaliando todas as condições para a definição da capital que abrigará o hub no Nordeste. Esta decisão poderá ocorrer ainda no 1º semestre de 2016".
Crises política e econômica
Com forte influência no campo político, vide o apoio do governo federal até menos de um mês atrás, é evidente que Fortaleza perdeu influência nesse campo de atuação com a saída da presidente Dilma Rousseff e a ascensão do vice Michel Temer. O cenário ainda é agravado quando informações de bastidores dão conta que o ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, de Natal, deve influenciar Temer, como fez Camilo Santana, do PT, com Dilma.
Responsável pelo contato mensal com o corpo técnico da Latam, André Facó garante que o tratamento dado a Fortaleza continuou o mesmo após o afastamento da presidente.
O secretário da Infraestrutura afastou a possibilidade de uma influência política ser maior que a competência técnica adquirida pela Capital e se mostrou confiante da escolha.
"Entendemos que, tecnicamente, temos as melhores condições, não só pela localização, mas pela infraestrutura, o processo de concessão (do Aeroporto de Fortaleza) e também a base legal criada, que dá conforto e incentiva a empresa", afirmou.