Carlos Eugênio
09/04/2017
Camilo Santana (PT) deve ter se inspirado, ao oferecer 2% de reposição salarial aos servidores que ganham acimo do mínimo, no ensinamento bíblico: “Quando entre ti houver algum pobre, de teus irmãos, em alguma das tuas portas, na terra que o Senhor teu Deus te dá, não endurecerás o teu coração, nem fecharás a tua mão a teu irmão que for pobre; Antes lhe abrirás de todo a tua mão, e livremente lhe emprestarás o que lhe falta, quanto baste para a sua necessidade” (Deuteronômio 15, 7-8).
A coisa é demagógica mesmo, amigos. Vejam. Um servidor que ganha R$ 1000 passará a receber R$ 1020. Ele deverá agradecer os R$ 20 a mais em seu contracheque, ao bom coração do governador. Afinal, ser grato a quem lhe oferta uma esmola, também é um fundamento bíblico.
O pior é a Assembleia Legislativa ter aprovado a mensagem, sem acrescentar um ponto. Só 10 deputados se posicionaram contra. Os demais “representantes” atuaram como sempre atuam: dizendo amém ao executivo, sem deixar marca na história.
Os deputados tinham por obrigação verificar a situação econômica do Estado, diante da declaração do líder do governo na Casa, Evandro Leitão (PDT), quando afirmou que era o máximo que poderia ser dado, em virtude da crise que o país atravessa. Um legislativo sem independência para votar, discutir e fiscalizar o executivo, é um poder de portas abertas e ideologias fechadas.
A verdade mais insofismável é que a crise econômica virou álibi para gestores incompetentes, e o caos no Rio de Janeiro passou a ser desculpa para prefeitos e govenadores sacrificarem a população. Como essa gente se apega a teses cretinas para ocultar a malversação do bem público.
Palavras demagogas jogadas a multidão não são suficientes. O governador precisa mostrar à população a verdadeira causa da crise financeira do Estado. Os cearenses já têm ciência do que ocorreu no país, e da quadrilha que levou o Rio de Janeiro a breca. E no Ceará, Camilo? O que provocou a escassez de recursos? O que sua gestão fez para conter os gastos, além de sacrificar servidores? Não basta falar de crise. É preciso esclarecer os fatos.
Bem, não é bíblico, mas é um ensinamento da obra O Pequeno Príncipe, que Camilo e os deputados deveriam ter aprendido: um rei só deve dar ordens razoáveis para que seu general possa atendê-lo. Mas se os legisladores se tornaram marionetes nas mãos do governador, a ponto de ratificarem uma esmola de 2% para os servidores, que paguem o preço politico pelo desgaste. Em 2018, o povo terá a chance de decretar a morte politica do rei e dos bobos da corte.