Camilo usa argumento vagabundo para uma causa digna

Carlos Eugênio

07/12/2016

Camilo usa argumento vagabundo para uma causa digna

Não, meus caros... Não dá para ouvir certas notícias, sem que o sangue coagule nas veias com maior fervor, fazendo o cérebro reagir com indignação. Mas o que esperar de alguns setores da imprensa cearense, que se tornaram tábuas rasas da informação? O silêncio! Nada mais que o abafar dos ruídos diante de argumentos ordinários, mesmo que estes sejam em prol de uma boa causa. E foi isso que ocorreu, quando o governador Camilo Santana culpou Michel Temer pelo eventual colapso hídrico no Estado.

Poucos veículos de comunicação questionaram o absurdo dessa acusação. Mas antes que algum esquerdopata afirme que estou em defesa do presidente, já antecipo: coloco os corruptos no mesmo saco, sejam de direita ou da esquerda. Caso se comprove algum ato criminoso contra o Temer, que vá para a Papuda fazer companhia a muitos outros que estão cumprindo pena. Mas este assunto não é o foco desse debate. Vamos lá.

A verdade mais insofismável é que, Michel Temer está no poder a pouco mais de seis meses. Como é que Camilo Santana pode responsabilizá-lo pela demora da transposição do Rio São Francisco? Isso é de uma cretinice ideológica! O partido do governador esteve 13 anos no poder. Por que não resolveu o problema, então? A resposta é simples: as obras foram superfaturadas. A Polícia Federal investiga desvio de R$ 200 milhões de superfaturamento. Está ai, o real motivo da não conclusão da transposição das águas do Velho Chico.

E agora, Carlos? Camilo deve se calar diante o quadro hídrico do Estado? É óbvio que não! A luta é relevante. Mas é importante ressaltar que, existe argumento digno, por uma causa vagabunda e, alegação vagabunda, em proveito de uma causa digna. A história nos mostra isso. Vejam.

No período da escravidão, o então deputado Bernardo de Vasconcelos, defensor do regime escravocrata, defendia que a África civilizava o Brasil, portanto a permanência do tráfico de escravos africanos enriquecia a cultura brasileira. Já os abolicionistas argumentavam que os imigrantes formavam uma raça inferior e, por isso, era necessário parar de trazê-los ao Brasil, para não causar prejuízos à cultura do país. Perceberam caros leitores? Alegações medíocres podem ser motivadas por razões decentes, e vice-versa.

Portanto, Camilo Santana tem todos os motivos de ir a Brasília exigir medidas que evitem o colapso hídrico do Estado. Mas tem por obrigação ser verdadeiro, e parar de usar argumentos vagabundos, em prol de uma causa tão digna. Onde está a culpa do seu governo com os problemas hídricos que o Estado atravessa? Fazer um mea-culpa não é sinal de fraqueza, pelo contrário, é exemplo de dignidade.

O cerne da crise hídrica do Estado, pode até estar no fato de a transposição do Rio São Francisco não está concluída. Mas existem outras vertentes que não podem ser esquecidas. O que levou o estado do Ceará a enfrentar esse problema tão grave, foi à falta de planejamento do executivo, aliado a incompetência do setor que gere as redes hídricas estaduais. Além de problemas naturais que fogem ao alcance humano.

A impressa cearense precisa trabalhar com essa verdade, para que a sociedade não seja ludibriada por declarações demagogas. É lamentação que, na Era da informação, alguns setores da imprensa funcionem como tábuas rasas da informação, a serviço de governos pautados em atitudes medíocres.

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