Agamenon Viana
16/05/2016
Antes da Proclamação da República, as vinte províncias do nosso país se espelhavam no que acontecia na corte, mas em algumas regiões o povo tinha seus festejos, e ritmos mais rurais eram executados, como era o caso do lundu, dançado no região norte e na Bahia, e a dança do cateretê praticada no interior paulista desde a colonização. O cateretê é um tipo de ritmo meio indígena que é dançado por duas colunas de homens, uns em frente pros outros batendo bem os pés, e é tocado por viola. A viola, é bom que se diga, foi o primeiro instrumento trazido para o Brasil pelos portugueses. Os ritmos naquela época estavam muito ligados às danças e para o povo já existia o ditado: o que tocar eu danço. O lundu e o maxixe se originaram segundo os estudiosos por influência africana e vieram aos poucos das camadas populares para os salões dos ricos. Já a modinha, foi introduzida ao som de violas e depois ao som de pianos. As modinha eram canções variante das árias de operetas e eram executadas nas residências aristocráticas em saraus. De estilo doce e requintada, a modinha já era tradicional desde o século XVIII. Aproximadamente um século depois, esta se popularizou. Os temas das modinhas eram questões de amor, paixão e saudade. As gravações para gramofone se iniciaram em 1902 no Rio. Mas vamos saltar um pouco no tempo e vamos a 1922, centenário da independência que é quando vão ter início as primeiras transmissões pelo moderno aparelho que era o rádio.
Como eu disse em artigo anterior, no início do século XX a música popular brasileira não era classificada como de boa ou de má qualidade, era apenas a música de divertimento e se opunha à de concerto, ou música erudita. Assim, na década de 1920 é que surgem as primeiras distinções entre a música popular comercial feita atingir um público extenso ou a massa, e uma música popular artística apreciada por público restrito com dispositivos de apreciação mais racionalizados. Pesquisas na área nos mostram que:
“Esse processo de legitimação se deu por intermédio de alguns intelectuais, escritores, políticos, músicos concertistas imbuídos de um ideal de construção de uma identidade nacional, já nos primeiros anos do século. A música de divertimento, já bastante desenvolvida nesse momento, irá chamar a atenção dos homens de letras e músicos concertistas, como Mello Morais Filho, Brasilio Itiberê, Andrade Murici, Alberto Nepomuceno, Sérgio Milliet entre outros. Mas foi Mário de Andrade o primeiro a formular claramente a distinção entre uma música popular artística e uma música puramente comercial. Resta lembrar que depois da semana de arte moderna, as criações artísticas no Brasil mudaram um pouco de rumo”.
Continua na próxima edição.