COLUNISTAS / HILDEBERTO AQUINO

TRAGÉDIA NO RIO

Hildeberto Aquino

11//2/10/0

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É fácil conjeturar depois de um fato trágico como o da escola de Realengo, no Rio de Janeiro. Mais ainda, imputar culpa a isto ou a quem quer que seja. Não passam de meros lugares-comuns. Jornalistas, psicólogos, educadores e, como não poderia deixar de ser, políticos, são os primeiros a externarem suas conclusões sobre a tragédia. Mesas redondas são constituídas e debates são pensados tentando achar explicações para o imponderável. Muitas vezes com o sensacionalismo além do conveniente, quando não desrespeitoso. Observam-se os excessos e até rotulam de heróis quem cumpre apenas o seu dever. Todas as ponderações, uníssonas e, por óbvias, em desaprovação ao acontecido. Agora é fácil!

Enquanto isso as mais simples das verdades passam despercebidas. Esquecem que esse jovem, que nem seu Deus o perdoará, é apenas mais uma resultante desse processo questionável e quase irreversível no qual está estruturada a nossa sociedade. Sobre ele, somente agora com 23 anos, repararam um comportamento “estanho”. Estranho ou típico de grande parte dos jovens atuais? Quantos que quando não entregues às drogas e bebidas se enclausuram e nos seus cubículos, suntuosos ou não, à frente de um computador, especializando-se em jogos violentos (jogos não proibidos e vendidos livremente porque há interesses capitalistas que se sobrepujam), entediados pela falta de opção e oportunidade, ou pelo que a sociedade não lhes oferece em mais saudável entretenimento, postam-se, quase petrificados, e se esquecem do mundo? Aquele é o único mundo que lhes oferecemos. Muitos, milhares de jovens na mais tenra idade!

Mundo e pais que nesse ritmo alucinante, muitas vezes forçados a garantir a sobrevivência da família, sem alternativas, esquecem-nas sem poder lhes dispensar uma assistência apropriada. E, como última opção, descarregam seus filhos nas escolas para que professores (eternas vítimas), muitos dos quais sem preparo algum na área específica, com total desvirtuamento das suas funções primordiais, além de pessimamente recompensados, sejam obrigados a tentar transformar esses jovens em “normais”. Tarefa nobre, quase impossível, mas que tentam, precária e abnegadamente, mas ousam heroicamente e sem reconhecimentos.

As escolas deveriam ter em seus quadros profissionais especializados – psicólogos etc. - para acompanhar e atuar quando coubesse sua intervenção. Mas, prefeitos e governadores se dizem sem condições de mantê-los (afirmam apenas, mas sabemos que não procede) enquanto o Governo Federal subestima a educação como um todo na sua eterna incúria. E as escolas, a quem antes se lhes confiávamos os filhos, sabendo-os guardados e no caminho certo da cidadania, hoje já não são mais ambientes confiáveis e sagrados como deveriam ser reconhecidas. Elas foram transformadas em ambientes perigosos. Às suas portas convergem traficantes e demais exploradores. Assaltos, insegurança e violência predominam, dentro e fora, por desassistidas que estão do poder público que é tecnocrata, cego e relapso. Hoje, a evasão não só é de alunos. A cada dia, num crescente, professores também desistem desiludidos, vencidos. A insegurança, a sobrecarga, a exploração por parte de diretores e secretários de educação é notória. Até os direitos fundamentais lhes são cassados. E quando um simples piso salarial tem que ser alçado ao Supremo Tribunal Federal, posto que contestado por alguns insensatos governadores, os nossos mestres cantam vitória e não um direito mínimo que lhes assiste. Perseguições e falta de estrutura física e tecnológica que não lhes são disponibilizadas adequadamente são fatores que pesam nas suas lamentáveis, mas justificadas decisões. Some-se a isso tudo a cobrança dos pais que maioria das vezes sequer participa das atividades, do acompanhamento e também enxergam a escola como último refúgio e supridora de mantimentos para seus filhos.

Observam-se também incongruências nas nossas leis como no caso da proibição do porte de armas, enquanto nunca cogitaram do fechamento das fábricas. Por quê? É o jugo do capitalismo que se impõe. Os lobbies é que ditam no Congresso. E continuamos a ouvir políticos dizer que o Brasil vai bem enquanto os seus índices pessoais de aprovação permanecem em patamares não justificados. Pior que acreditamos. É o que resultado do processo de alienação proposital do qual padecemos.

Que a tragédia da nossa eterna capital – Rio de Janeiro - que já classificada entre as 10 piores do mundo nessa modalidade, seja a primeira e única! Talvez tiremos lições para agir enquanto podemos. Enquanto isso nos restam lágrimas, vergonha e indignação, mas que jamais nos conformemos. Sempre é tempo! 


J. Hildeberto Jamacaru de AQUINO
hildebertoaquino@yahoo.com.br
(Visitem o Blog: http://hildebertoaquino.blogspot.com/ )

"Devemos preferir o som das vozes críticas da imprensa livre ao silêncio das ditaduras."
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"Indigne-se por você e por todos contra as injustiças, quais forem! Clame, exija, exerça a sua cidadania e não seja mais um abmudo. "
(J. Hildeberto Jamacaru de AQUINO)

Hildeberto Aquino

Nascido em Crato (CE). Formação: Língua Portuguesa e pós-graduado em Gestão Escolar. Ex-funcionário do Banco do Brasil, 1972/1997, assumiu em Russas em 1982. Corretor de Imóveis. Articulista (crônicas e poesias). Meu lema: "Indigne-se por você e por todos contra as injustiças, quais forem. Clame, exija, exerça a sua cidadania e não seja mais um abmudo!" José HILDEBERTO Jamacaru de AQUINO

Hildeberto Aquino

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