CONFIRA TAMBÉM
-
28/03/2019
-
06/02/2019
-
25/01/2019
-
23/12/2018
Era inacreditável, incrivelmente inacreditável para se ter certeza que um sujeito analfabeto, para resguardar a sua moradia, dizia que de muito longe da alcova solitária, ouvia música profana de canto lírico e madrigal, que falava de amor maldito. Canto de vários menestréis, que somente poderia ser ouvido pelos membros de nobreza real, por gênio, alienígena e ou pelo analfabeto vigarista, especialista em conto-do-vigário, que morava próximo do Parque da Criança, no centro de Fortaleza. Que ouvia cânticos de amor romântico, depois que os sinos da igreja do Coração de Jesus dobravam ao entardecer. Esse pensamento engenhoso seria realismo-mágico, de mitos e lendas, do estranho que não sabia ler nem escrever? Iletrado que desconhecia totalmente o alfabeto? Que se benzia assombroso e infeliz diante de uma flor? Quem seria a misteriosa criatura bizarra? Sujeito que rondou pela cidade de Russas, no mercado, cabaré da Eufrozina, Pavilhão, bardalask, quermesse do padre Valério, bar do Vicente Silva e no Cinema do Marcondes Costa? Sujeito esquisito que dizia ter vindo de um império galáctico, era o malandro Picirica. Vivaldino astucioso, com os lábios fechados, mais misteriosos que o enigmático sorriso da "Mona Lisa". Que se gabava em dizer que era um extraterrestre. Quando ninguém acreditava na verdade, sobre a existência dos ETs. Mas que temiam quando a fera repetia: "eu sou um extraterrestre." Aquilo era assombroso. "Vocês, estão sendo visitados por OVNIs." Tão assombroso, que às vezes, olhando para ele, não sabia se era real ou não. Sombrio como muitas aparições sinistras que causam terror e arrepiam nas lápides dos túmulos. Mas nunca ensinou o pulo do gato, nem a verdade sobre os OVNIs. Apenas dizia: "Vocês ainda estão vivendo na era das válvulas, em vez de usar transistores." Que estranho! O quanto era abominável, era sagaz e boêmio por excelência. Conquistador barato, malandro oportunista, que levava vantagem em tudo. Era assustador e inacreditável para um ser analfabeto! Ainda mais, enigmático, por conta do fechado sorriso sombrio e marcante. E muito mais que misterioso, porque Picirica tinha paixão de querer explicar o sorriso da Gioconda, por ser apaixonado pela Mona Lisa. Dois extremos num universo intenso. Porque, nem todos os talentosos têm o fascínio de querer explicar o mais famoso, impossível e quase inimaginável sorriso erótico da Mona Lisa. Picirica era analfabeto. Um leigo que via a escrita apenas pela imaginação e pela fantasia. Enquanto nem mesmo o maior especialista em Leonardo da Vinci, sabia informar que esse mestre da pintura do renascentista, além de todos os gênios do planeta, foi arquiteto, mecânico, urbanista, engenheiro, fisiólogo, químico, escultor, botânico, geólogo, cartógrafo, físico; precursor da aviação, da balística, da hidráulica; inventor do escafandro, pára-quedas, isqueiro e pintor. Foi ele quem pintou o quadro da "Mona Lisa", segurado em cerca de 100 milhões de dólares, e que recebeu a menção no "Guinness Book of Recordes, como o objeto mais valioso da pintura existente no mundo. Somente sendo ultrapassado, posteriormente, pelo "Garçon á la pipe", quadro de Picasso, vendido por 104,1 milhões de dólares. Como o Picirica conseguiu essas informações, se era analfabeto? Seria mesmo um extraterrestre? Como acreditar num analfabeto que afirmava que os objetos Voadores Extraterrestre existiam. Em Russas, não desvendou os mistérios mais consagrados. E quando ninguém sabia quem era Leonardo da Vinci, nem mesmo Gioconda, a maior atração do Museu do Louvre, em Paris, o malandro Picirica, já falava da tão misteriosa Mona Lisa. Por ser o retrato mais famoso na história da arte. Qualificada pintura de uma pequena tela de tamanho oficial de 77cmx53cm, exposta no Museu do Louvre, em Paris-França. Ah! Contraste abismal dessa foto parecida com o Picirica. Quanto mistério dessas duas figuras! Para saber que no dia 22 de agosto de 1911, quando "Mona Lisa" foi roubada por um empregado do Louvre, de nome Vincenzo Peruggia, para botarem na cadeia, como suspeito do roubo, o poeta francês Ghuillaume Apollinaire, como também o pintor Pablo Picasso. Havia como ignorar o analfabetismo do Picirica, se ninguém entendia a magnitude do seu saber? Seria mesmo um extraterrestre? Um russano analfabeto, que usava blusão de couro, topete, sapato bicolor? Que andava com palito na boca, cigarro na orelha e uma caixa de fósforos na mão. Hipnótico, cheio de lábia a comentar sobre política, música, artes culturais, segredo das pirâmides e "diálogos mentais" entre os seres humanos? Quem seria mesmo o incomum Picirica, fã do cantorTabica Kid, Bienvenido Granda e Edith Piaf? Alguém sabe informar o nome de batismo desse amigo do Fon-fom, Biró-do-Papa-Sebo, Goía, Gasolina, Gastura, Pé-De-Chumbo, Timá da Gibiril, Piru, Chico Porto, Tabica Kid? Que somente revelou o seu mistério ao cantor Tabica Kid, imitador do Valdik Soriano, ao partir para São Paulo? "Tabica, passei a vida enganando o povo de Russas. Confesso, que nunca fui analfabeto, sou um extraterrestre, e Van Gogh nunca pintou a Capela Sistina, nem o Caçote é um ET. Tudo mentira do padre Valério! Eu sou o único extraterrestre de Russas."
.Originário de Russas – CE. Formado em Direito pela Universidade de
Fortaleza – Unifor, advogado militante da Comarca de Fortaleza, e
romancista. Livros publicados: Deusurubu, Admirável Povo de São Bernardo
das Éguas Ruças. Romances: A Dança da Caipora, Os Mortos Não Querem
Volta e O Hóspede das Eras. Membro da ARCA – Academia Russana de Cultura
e Arte.
Tem alguma dúvida, crítica ou sugestão?