COLUNISTAS / AIRTON MARANHÃO (IN MEMORIAN)

A Arca de Noé do canoeiro Chico Rés

Airton Maranhão (in memorian)

11/11/2014

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Uma das histórias mais estranha, absurda, interessante, assustadora e inacreditável, que se conta neste planeta, que poderia ser arrebatadoramente verdadeira, mas que não podemos acreditar na narrativa dos heróicos do nobre rei, nem dos membros da corte, nem nas lendas de escritores famosos e celebridades diversas da época, nem nas escritas invisíveis de suas lápides. Sem nenhum registro arqueológico de ruína das cidades e vilas, sem deixar qualquer marca da existência do dilúvio universal. Porque os desejos dos falecidos ficaram escritos, somente no lodaçal imenso do processo de decomposição das carcaças dos seres humanos, e dos animais que serviram de alimentos para as hienas, urubus e os abutres dos mitos e das lendas. E jamais nas placas de mármore e de metal, colocadas sobre os túmulos e mausoléus, nos campos, povoações, várzeas, vales, montanhas e nos cemitérios de todos os tempos. Para simplesmente fazer acreditar com o único fim de homenagear os mortos sepultados pelo grande Dilúvio da Bíblia, com a história contada em Gênesis. Dilúvio que de tão assustador, cobriu até o pico do Everest, a mais de oito mil metros de altitude. Se não fora mais assustador, que exterminar crianças que não elevavam qualquer maldade humana. Só porque o Criador, num ato abominável de ódio, ira e amargura, todo poderoso, numa fúria jamais assinalada por qualquer criatura humana, fez despencar do céu, o dilúvio sobre a Terra. Para varrer do mundo os famigerados malditos? Se tudo não fosse mito e lenda, colibri, faisão dourado, ave-do-paraíso, arara azul e flamingo, teriam desaparecido da face da terra. É difícil acreditar que uma criança tivesse qualquer maldade humana. Qual foi a crueldade praticada pelos dizimados no dilúvio, que Deus fez desabar sobre a Terra? Com chuva caindo do céu, por quarenta dias e quarenta noites? Que se não resistiu às tentações, não pode negar o caráter genocida de assassino da humanidade. Que poderia ter ficado no obsoleto inimaginável, se o dilúvio não fosse narrado como lenda aberrante, bizarra, cruel, terrível, desumana. Fantasioso de assunto tão cheio de mistério. E Noé seria a única pessoa justa na terra, para ser escolhida, como diz a Bíblia, para extirpar o resto da humanidade, por causa da perversidade humana? Diante de infame atrocidade, sua esposa, seus três filhos (Sem, Cam e Jafé) e as três noras, esposas dos seus filhos, eram justos como Noé? Qual o nome da mulher do patriarca? No livro de Gênesis não há nenhuma menção ao nome da esposa de Noé. Por que propósito? A descomunal Arca foi construída somente para salvar o gênio da carpintaria, sua família e um casal de cada espécie de animais do mundo, antes do Grande Dilúvio da Bíblia? Por que as crianças não foram excluídas da morte terrível dos afogados? Expurgar a inocência e a pureza, sem maldade e violência, de uma criança, para o resto de humanidade desaparecer na aflição dos afogados, na maior inundação de toda história? É caminhar para a estaca, ser emparedado ou queimado vivo! Que Inquisição! No dilúvio, ninguém teve chance de escapista. Que indignação para o resto da humanidade ser devastada num aguaceiro sem fim! “Assim foram exterminadas todas as criaturas que havia sobre a face da terra, tanto o homem como o gado, o réptil, e as aves do céu; todos foram exterminados da terra; ficou somente Noé, e os que com ele estavam na Arca”. É chocante! Para acreditar que Noé tenha construído uma embarcação de 135m de comprimento, 22,5m de largura, 13,5m de altura, com três conveses. Um gigantesco baú à prova d’água, sem quilha, proa, velas, remos ou lemes? Quando alguns historiadores afirmam que a Arca de Noé foi construída entre 6.000 e 4.500 A.C. Mesmo que a Bíblia, antes do Dilúvio, mencione forjadores de ferramentas de cobre e ferro, Noé usou somente pinos ou cavilhas para fixar as madeiras umas às outras? Se não existia polia, martelo, serra, prego, e nem ferramentas diamantadas para cortar a madeira? Com tanta madeira, Noé levou as duas mil espécies de cupim? Como conseguiu reunir os insetos que compreendem o mais numeroso grupo de animais da terra? E milhões de espécies de vegetais de cada região do mundo? E apenas com oito pessoas domou, prendeu, conduziu e separou todas as espécies de animais selvagens, carnívoros, herbívoros e predadores da Terra? Armazenou água potável e alimentos para todas as espécies? Com centenas de dinossauros, que teria que transportar dois de cada? Quando cada um pesava 50 toneladas, com 26 metros de comprimento? Como alcançou o ganso-indiano que sobrevoava o Monte Everest? O boto-cor-de-rosa, do rio Amazonas? O preá da América do Sul? O coala da Austrália e o pingüim da Antártica, para levá-los para o Oriente Médio, e colocá-los na Arca? Oito pessoas poderiam alimentar tantos animais e remover a bordo as fezes de um ano e seis dias? Depois do dilúvio...? Como sobreviveram as minhocas sob a terra? Os animais aquáticos de água doce com a salinidade dos mares? As aves do céu, sem lavoura, na fetidez dos lodaçais de cadáveres insepultos? Não há registro arqueológico, nem prova da existência do dilúvio mundial. Nem mesmo vestígio do aniquilamento da raça humana. A Bíblia é cópia dos Vedas. Mas em Russas, nas enchentes do rio Jaguaribe, a canoa do Chico Rés flutuava como a Arca de Noé.

Airton Maranhão (in memorian)

.Originário de Russas – CE. Formado em Direito pela Universidade de Fortaleza – Unifor, advogado militante da Comarca de Fortaleza, e romancista. Livros publicados: Deusurubu, Admirável Povo de São Bernardo das Éguas Ruças. Romances: A Dança da Caipora, Os Mortos Não Querem Volta e O Hóspede das Eras. Membro da ARCA – Academia Russana de Cultura e Arte.

Airton Maranhão (in memorian)

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