COLUNISTAS / HIDER ALBUQUERQUE

Patrimônio e Desconstrução da Identidade

Hider Albuquerque

10/11/2014

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A cidade de Russas tem um grave problema cultural, assim como em quase toda a Baixada Jaguaribana e outras regiões brasileiras, a destruição de seus marcos ou edifícios históricos, seja por uma má e deturpada ideia de modernidade inspirados pela lógica do consumo, seja para encobrir, esconder as formas de detratação humana por que passaram diversas pessoas em nossa cidade em séculos passados.

No primeiro ato, um marco, embora por ser feito em sua maioria de madeira, ficou a mercê de uma fuga seguida de incêndio provocado por uns cativos indígenas no ano de 1705. Como o Forte de São Francisco Xavier também era chamado de presídio, pois tinha duas celas para prisioneiros, deixou de ter serventia militar no local e foi demolido quase toda a sua parte deixando a antiga capela e aumentando-a a qual batizaram de Casa de Nossa Senhora. A povoação a essa altura, já contava com mais de 600 currais espalhados nos arredores, e no centro, antes militar, efetivou-se a criação da Paróquia em 1707 e todos os ofícios e trabalhos para o funcionamento de uma pequena parcela governante.

Depois do desmonte do Forte de São Francisco Xavier houveram outras dezenas de destruições seja no âmbito sociocultural como natural. Entre outras se destacam como mais representativas, a seca que parou as águas do rio Jaguaribe em 1816, a demolição do pelourinho que ficava na Praça principal, a explosão das pedras de granito brancas que foram servir de calçamento, o Coreto, o Pavilhão, a igreja Matriz de Russas, entre tantos e tantos outros prédios ou símbolos da memória russana, que até o dia de hoje continuam nessa interminável (?) substituição pelo MODERNO.

Mesmo o mercado imobiliário, vilão impiedoso dos casarios, vem crescendo de forma a não mais investir somente em prédios apenas no centro da cidade. Hoje há uma demanda por lotes mais afastados do centro urbano, os próprios investidores compram e loteiam um terreno para a venda e posterior construção de casas (chamando a atenção aqui para diversas lagoas que são aterradas), formando novas ruas e bairros nascendo onde antes era a mata virgem local. Fazendo assim, que nesses novos ambiente familiares, comecem a existir toda uma logística ocupada pela iniciativa privada, os pequenos mercantis, as bodegas, as lojinhas etc.

A cidade não pode se modernizar somente demolindo o que já temos de tradicional e construindo no lugar lojas comerciais seguindo modelos globalizados e compartilhando da moda que sempre é melhor que chega “de fora” via tevê. É por isso que aprecio tanto o termo CENTRO ANTIGO, sinal de que existem outros locais em que a população possa buscar suas mercadorias necessárias ou não. Evitando a contínua “matança” do patrimônio arquitetônico para o comércio pueril do capitalismo.

O ponto principal é que existe apenas uma forma de proteger definitivamente esses bens, sejam naturais ou culturais. A normatização em lei específica na Câmara Municipal cuidando de zelar e proteger as construções ou locais que representem a memória da cidade e a identidade de seu povo. Certamente o setor imobiliário e os proprietários dessas casas vão fazer o possível para que uma lei desse tipo não seja implantada. É bom ressaltar, nessas questões, que existem dois tipos gerais de tombamento, o Parcial, que exige a permanência integral apenas da frete/fachada do imóvel ou o tombamento total, onde todo o imóvel dever ser mantido o máximo possível em sua construção original.

O antigo ou tradicional pode conviver em harmonia com o moderno. Um não anula o outro necessariamente. Existem diversos espaços que foram reformados e utilizados comercialmente, mas mantendo o charme da arquitetura original de cada prédio. Essa também é uma forma de nos diferenciar dessa mesmice de toda cidade é uma réplica de um modelo excludente e materialista. Não acredito que tenhamos que copiar TUDO que nos chega de outras culturas, mas preservar a nossa é FUNDAMENTAL para a existência de um povo civilizado e identificado com suas raízes.


Hider Albuquerque

Professor especialista em ensino de História; Historiador Pesquisador; Escritor; membro da diretoria da Academia Russana de Cultura e Arte (ARCA); Compositor e ligado ao movimento Cultural de Russas Fez parte do Grupo Teatral Arco-Iris; membro fundador da OFICARTE Teatro e Cia; Professor na EEM - Escola Manuel Matoso Filho; Blogueiro.

Hider Albuquerque

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