COLUNISTAS / AIRTON MARANHÃO (IN MEMORIAN)

Profecias do escritor Airton Maranhão

Airton Maranhão (in memorian)

14/08/2014

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Desde a linguagem primitiva das catacumbas misteriosas dos nossos ancestrais hominídeos, ouvimos o pranto terrível do recém-nascido. Que universalmente, de tão animalesco e triste, expressa uma profunda angústia de desespero e encanto. Quando ao mesmo tempo, inspira sofrimento em compaixão de algo tortuoso, maligno e cruel. Que pela ciência, mesmo posto em dúvida, o primordial vagido, causa piedade, dor e espanto. No mistério de que, o bebê ao nascer, apanha e chora sem verter lágrima. E por esse lamento de queixas inexplicáveis e imprescindíveis, diante da complexidade da vida e dos seres humanos, o bebê olha pela fechadura do ventre, para nascer. E para vir ao mundo fecha os olhos e espera para apanhar, e apanha sem verter lágrima. E foi por essa infinitude de enigma, sem adulteração da visão dos aspectroscópios, que este gigantopithecus (macaco gigante), impulsionado em manifesto ao lamento dos recém-nascidos, passou a prevê o futuro dos seres humanos. Que por mais extremo remorso do universo, não quer mais ouvir o mencionado vagido. Não somente por isso! Por muito mais. Sinceramente, com toda nobreza de sentimento criativo, não como um gênio sensitivo, original, surpreendente e harmonioso, de acentuado talento com a visão ampla das estrelas, ousarei da imaginação da arte, da escrita do realismo-mágico, para com a fantasia absurda das maiores dimensões, velar a especulação científica. Jamais com mitos e lendas. Se a visão dos meus olhos enxerga até o infinito, por que não enxergar além das estrelas? Com intelecto superior para tornar referência inaudita, de imenso idealismo na perfeição das idéias dos seres superiores, para representar a nova espécie humana, no novo milênio? Não sou fantasma com óculos de grau vindo dos impérios galácticos. Desde que saí da câmara de hibernação do ventre de minha mãe, sinto uma tristeza profunda ao lembrar a infância com medo de cemitério, de alma, de lobisomem, de corcunda e de moganguento, enfeitiçado com o canto das sereias do rio Jaguaribe, e com os malefícios encantatórios das rasga-mortalhas. Não me esqueci dos insultos dos vultos mal-assombrados e dos tabefes dos fantasmas, à meia-noite, ao ouvir os contadores de histórias. Não suporto tantas estórias de trancoso. No trajeto do cortejo fúnebre, sem visitar o túmulo de Julieta de Shakespeare, vou morrer, não muito distante de usar máscara antipoluição, no futuro do ser humano. Não como hipócrita, nem como charlatão, nem como louco, em contemplação aos mistérios da natureza. Embora mantendo um profundo fascínio por histórias fantásticas com cenas apocalípticas. Eu sempre sumi num pé-de-vento, quando a mãe-da-lua anunciava o canto de agouro. Porque eu não nasci para atiçar o fogaréu do inferno para manter viva a serpente maligna. Nem andar com oratório cheio de imagem nos braços, para tornar celebridade, para alcançar a fama e glória dos farsantes, que vendem terra fértil no céu, palácio de festim grotesco no paraíso e iceberg gigantesco no inferno. Não sou medonho, terrível e nem sobrenatural. E jamais serei uma espécie de ficção especulativa, capaz de controlar os fenômenos inexplicáveis. Não importa que me chamem de extraterrestre! Jamais desvendarei o segredo do medo do desconhecido, para um herói, para um cientista, para um vilão. Todos os dias, a maçã de Newton cai das árvores. As moças velhas se atiram ao caritó. Os poetas se curvam para colher flores para a amada. Porque a natureza é mais telepata que os patifes, com diálogos mentais. Nós criamos os nossos próprios sonhos. Assim como a voz silenciosa do boneco acompanha o ventríloquo. Não somos cegos. Os cegos de nascença não sonham com imagens, porque não têm memória visual. Eu tenho predições e nunca serei ovacionada por nada. A minha história é individual. Nasci narrando histórias que motivam o espanto do leitor, que revela generosidade, materializa o sonho impossível e prediz o inevitável. Não sou robótico com impulsos eletrônicos e nem temo os críticos de renome. Não tenho manias, para não viver acorrentado como monstro. Balzac tinha mania de grandeza, Victor Hugo de egoísta, Diderot de esquecimento, Wagner de decadência. Leonardo da Vinci de escrever ao contrário, com pensamentos profundos, sapiência e curiosidade. Forma única de pensar como sobrevivente. Não para voltar ao passado das descobertas de civilização perdida. E para esquecer aquele vagido, calculei que o homem moderno, no futuro, inventará a mente para enxergar o invisível. Construirá máquina cerebral para fotografar o sonho. Ativará luz nas sombras para iluminar os olhos dos cegos. Materializará a fala no silêncio, para vibrar a palavra na voz dos mudos. Inventará o método de pensar em conexão com o tempo, para o diálogo mental ser ouvido à distância. Inventará a fórmula do peso adequado para decolar e voar no espaço, como a onda de rádio viaja pelo vácuo. E povoará o mundo de loucos, maníacos e monstrengos, sem remorso e lágrimas, numa aglomeração terrível, suprema e excessiva de anormais, sem hospitais, asilos e hospícios, para alimentar o sentimento de medo, pavor e insegurança. Somente essa subespécie inferior, classificada como humanos maquiavélicos, com os seus instrumentos mortais, conseguirá sobreviver no esconderijo inexplorado do submundo dos patetas, dos robóticos e dos extraterrestres, imortalizados na nova espécie humana do novo milênio.

Airton Maranhão (in memorian)

.Originário de Russas – CE. Formado em Direito pela Universidade de Fortaleza – Unifor, advogado militante da Comarca de Fortaleza, e romancista. Livros publicados: Deusurubu, Admirável Povo de São Bernardo das Éguas Ruças. Romances: A Dança da Caipora, Os Mortos Não Querem Volta e O Hóspede das Eras. Membro da ARCA – Academia Russana de Cultura e Arte.

Airton Maranhão (in memorian)

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