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Nas comunidades rurais de Russas um traço marcante que caracteriza a vida em sociedade pode ser encontrado nos chamados “Cerões”. Esse termo designa um movimento espontâneo social onde as famílias da comunidade se unem para ajudar uma determinada família que precisa desenvolver um trabalho ligado à produção agrícola pós-campo e outros. Assim há diversos cerões: mandioca, milho, feijão, produção de esteiras, velas, vassouras ou qualquer outro trabalho que a comunidade se mobilize para dar sua contribuição de amizade e solidariedade ao dono ou dona do Cerão.
Geralmente os cerões acontecem embaixo dos alpendres ou nas casas de farinha, lá o ambiente, embora tenha a função do trabalho, torna-se singularmente um espaço para a dinâmica social. Nas trocas de experiências entre as mais velhas e as mais novas, a contação de histórias que reforçam as crenças, os valores, a ética, a fé o modo de ver e lidar com o mundo. No espaço dos cerões abre-se função para outras atividades de resistência artística, as declamações, os desafios, as emboladas, as modas de viola, a sanfona, ou seja, além de ser um espaço cuja função é trabalhar, outros elementos sociais são inseridos como forma de perpetuar, transmitir ou divertir os entes sociais que participam do cerões e inseri-los na visão de mundo da comunidade, na educação, na religiosidade e nas relações de comadrio.
Ainda podemos encontrar algumas manifestações como essa, no entanto, o sentido comunitário dos cerões se reduziu ou desapareceu, tendo os produtores à necessidade de pagar trabalhadores para realizar essas atividades. Hoje há um empreendimento de mercado, as famílias têm a facilidade de comprar seus alimentos prontos para o cozimento. Perdeu-se a utilidade dos cerões devido a este enfraquecimento da economia rural de pequenos proprietários, o avanço de comércios representantes dos grandes empresários da agricultura. Assim, não acaba somente esta tradicional e bela manifestação comunitária dos cerões, se acaba também as funções inerentes a ela, ou seja, a relação familiar, as experiências, as histórias, as canções, os versos, as paqueras e tudo o mais que estava embutido na função social dos cerões russanos.
Professor especialista em ensino de História; Historiador Pesquisador; Escritor; membro da diretoria da Academia Russana de Cultura e Arte (ARCA); Compositor e ligado ao movimento Cultural de Russas Fez parte do Grupo Teatral Arco-Iris; membro fundador da OFICARTE Teatro e Cia; Professor na EEM - Escola Manuel Matoso Filho; Blogueiro.
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