Por trás das fantasias

Carlos Eugênio

06/03/2014

O Brasil é o país das falsas verdades. É preciso desmistificar certas mentiras que foram contadas ao longo da história e, na percepção do povo, tornaram-se fatos verídicos. Uma delas é a afirmação de que o carnaval é uma festa genuinamente brasileira. Uma mentira histórica!O carnaval moderno, feito de desfile e fantasia - semelhante ao que vemos atualmente no Brasil - surgiu na Europa. É produto da sociedade vitoriana do século XIX - período em que a Rainha Vitória governou a Inglaterra. Popularizou-se naEuropa, e a cidade de Paris exportou a festa carnavalesca para todo o mundo.

Um dos principais rituais de carnaval, praticado no continente europeu, foi o entrudo - palavra originaria do latim que significa início, abertura da quaresma. O europeu comemorava com um ritual bárbaro: as pessoas arremessam ovos e água suja das janelas dos antigos sobrados, enquanto nas ruasocorria uma verdadeira guerra com restos de comidas, frutas podres e todo tipo de atrocidades. Portanto, o carnaval brasileiro originou-se do entrudo português, chegando aqui com as primeiras caravelas da colonização.

Com o passar dos anos, o carnaval no Brasil deixou de ser uma festa popular. Passou a ser um bom negócio para fabricantes de bebidas alcoólicas, empresários de bandase parentes de políticos - que promovem o carnaval fora de época financiado pelo dinheiro público. E o povo? Contenta-se com o circo, embora muitas vezes falte pão na mesa! É revoltante ver os postos de saúde sem médicos, faltando medicamentos, enquanto o dinheiro público escoa na promoção de festivais, ao som de músicas que ridicularizam a figura feminina e o papel da mulher na sociedade contemporânea.

O carnaval virou festa de rico. A elite viaja para a casa de praia, passeiam pelo litoral brasileiro e ocupam os camarotes Vips no ritmo de artistas como Cláudia leite, Ivete Sangalo e do grupo Chiclete com Banana, entre outros. Enquanto a ralé contenta-se com bandas de menor expressão nacional. Uma espécie de pirulito para calar o choro de criança. Ainda dizem que carnaval é uma festa popular.

Por trás das fantasias o país se sucumbe. A produção industrial, a política econômica, o zelo com o desenvolvimento do país - se é que existe - sede lugar a violência no trânsito, a disseminação das drogas licitas e o consumo de drogas pesadas. Os olhos se voltam para as avenidas, enquantoocorrem os mais diversos tipos de violação as necessidades básicas. Afinal, é carnaval.Na mentalidade de muitos, tudo pode acontecer em nome da folia.

A quem realmente interessa o carnaval?Aos artistas musicais que garantem o circo, aos produtores de bebidas alcoólicas, aos traficantes que lucram com o aumento do consumo de drogas, e a muitos políticos que aproveitam a festa para tirar proveito próprio. No mais, as ambulâncias que não atende uma criança ou um ancião doente ficam à disposição para socorrer os bêbados; ospoliciais que não estão presente para garantir a segurança dos cidadãos no cotidiano são destacados para conter os arrojos dos valentões. Entretanto, não importa quantos litros de sangue jorram no asfalto, ou quantas vidas se vão coma violência. Tudo acaba em festa, ao som deritmos a exemplo do Bonde do Tigrão: só as cachorras/ as preparadas... Enquanto as célebres machinhas carnavalescassão engolidas por “hits” similares.

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