CONFIRA TAMBÉM
-
28/03/2019
-
06/02/2019
-
25/01/2019
-
23/12/2018
As cacimbas que se enfileiram no leito seco do Araibu, serviam, além de fornecer água, também para marcar o avanço das águas nos anos de invernada. Quando havia notícia de que as águas do Jaguaribe estavam dando de beber ao riacho das Russas, as irradiadoras do cinema alarmavam no prédio da Sociedade Beneficente, emitiam em boletins informativos, quais as cacimbas que as águas já haviam engolido. O interessante, é que nas informações veiculadas, não se dizia o nome do proprietário da terra daquela cacimba, mas o nome das lavadeiras de roupa que utilizavam as cacimbas para o seu ofício.
Ao primeiro alarme de que as águas estavam chegando, imediatamente grande número de pessoas se encaminhavam para o Sítio Canto, com o intuito de acompanharem, juntamente com a Banda de Música, a trajetória incessante da água. Ao se aproximar da sede do município, o foguetório anunciava esse tão aguardado líquido. Se por um lado destruía o trabalho das lavadeiras, por outro, irrigava todas as terras a sua margem e a resposta era uma grande explosão de fartura de frutas, legumes, cereais e animais.
O mercado velho servia como pretexto para que as barracas se espalhassem em sua volta. Todas recheadas das muitas variedades de víveres da região jaguaribana. As festas da igreja eram realizadas nesse espaço, pela noite que dava mais frescor aos transeuntes e acolhia melhor as apresentações musicais e as diversas brincadeiras, entre elas, o piado do carrossel de madeira do Antônio da Marta.
Os cheiros inundavam o espaço. As lavadeiras, assim como a maioria das mulheres, entregavam-se ao ofício de preparar os sabores mais apreciados desses sertões. Carne cozida com jerimum e maxixe, pirão coberto com peixe no coco, carne assada com farinha e leite, galinha capoeira no sangue acompanhada com pirão e feijão de corda, tutano machucado com feijão e farinha, beiju, pamonha, tapioca no leite de coco, costela de criação e porco assada, avoante torrada na banha de porco, doces de rapadura, caju, mamão e quarenta, suco de manga, ata, qualhada com bolacha seca, laranja com pato cozido, capote no quiabo com farofa de cebola, tatu refogado com cebola, pimenta e macaxeira, panelada, fuçura, pirão de rabada e mão de vaca, buchada, aluá, cachaça, suco de tamarina, castanha de caju assada, quebra-queixo, bolo de milho, bolo de batata doce, farofa de tripa de porco assada, peixe torrado com farofa de cebola e tomate, pão de milho com carne seca, churisco, caça, etc. todas as comidas enfeitando com seus sabores e aromas as conversas que permeiam aquela gente.
Até que a próxima estiagem reforce a necessidade de comer carnaúba preta. Café de manjirioba adoçado com rapadura sustenta o estômago enquanto não chega a hora do sono. Os sinos da matriz badalam indolentes e põe em marcha todas as almas que esperam hóstia para salivarem seus impulsos de fé. Os olhos sempre arribados para o céu, esperam o nublado que trás novamente a alegria de ver o Jaguaribe esporrando toda a sua riqueza e esplendor, da aurora ao arrebol. Estômago satisfeito.
Professor especialista em ensino de História; Historiador Pesquisador; Escritor; membro da diretoria da Academia Russana de Cultura e Arte (ARCA); Compositor e ligado ao movimento Cultural de Russas Fez parte do Grupo Teatral Arco-Iris; membro fundador da OFICARTE Teatro e Cia; Professor na EEM - Escola Manuel Matoso Filho; Blogueiro.
Tem alguma dúvida, crítica ou sugestão?