COLUNISTAS / AIRTON MARANHÃO (IN MEMORIAN)

Um gênio chamado Finin

Airton Maranhão (in memorian)

15/01/2014

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Existe figura em Russas que merece construir um monumento em sua homenagem por apresentar-se como personagem inusitada ao tornar-se famosa num momento honroso. Não só pelo aspecto amistoso, brincalhão, zombeteiro e folclórico, mas pela principal característica do mistério dos sonhos impossíveis, das fantasias da criação absurda e das invenções inauditas. Para lembrá-lo na decoração histórica de túmulo de reflexão, com cenas dos templos veneráveis e estátuas de seres extraordinários. Que da morte desse nosso gênio russano, por volta de 00h00min, no dia 16 de outubro de 1993, lembrei da história fúnebre, do dia 20 de julho de 1937, que foi considerado um dos dias mais triste do mundo, porque provocou o luto mais cruciante e melancólico para toda raça humana, quando o rádio anunciou para todo universo, que o gênio Marconi, havia morrido. Aquela notícia espalhou como uma bomba devastadora para todos os ouvintes, que ao pé do rádio, desmanchavam-se em lágrimas, num pranto terrível. Porque não sabiam que o primeiro inventor do rádio, na transmissão de voz, foi um padre brasileiro Roberto Landell de Moura, e não o italiano Guglielmo Marconi. Padre Landell, dois anos antes que Marconi, em 1894, inventou o rádio na transmissão de voz e Marconi só transmitia sinais telegráficos. E como o povo brasileiro, pobre, supersticioso e ignorante acreditava que o padre Landell não passava de um louco, um bruxo, um macumbeiro infernal. Zombaram e desprezaram a sua invenção, por acreditar que o grande inventor conversava com ETs, em linguagem interplanetária. Sem apoio, sozinho e isolado, abandonou tudo e refugiou-se na clausura da vida religiosa. E quando foi patentear a sua invenção em 1904, Marconi já havia patenteado em 1896. Para todo o efeito o inventor do rádio, é um padre brasileiro. E nós, da terra de São Bernardo das Éguas Ruças, tivemos um inventor, que montou uma oficina para consertar motocicletas, ao alegar que consertava motocicleta porque estava à frente do grande inventor italiano Leonardo da Vinci, que havia deixado projetos em desenho da invenção da bicicleta, documentos históricos, guardados atualmente no Museu de Madrid. Esse gênio russano chama-se Francisco Aldaciz de Araújo, de cognome Finin, filho de José Pereira de Araújo e Maria Bezerra da Silva, irmão do Miguel Bezerra de Araújo, Raimundo Bezerra de Araújo, José Maria de Araújo, Darcluce Maria de Araújo, Maria de Araújo Cordeiro, Maria Lucimar de Araújo Faustino. Estudou até o 5º ano primário, e participou da banda de música de Russas, ao lado do Campelim, tocando “Pratos”, com a alcunha de Zapelin. Finin sempre se postou no seu trono com meritório de prestigio de traquinagem de amarrar pecados.  Brincalhão por natureza, não dispensava uma corrida atrás dos vira-latas, um finca-pé para assustar a Chica Doida, uma chacota, uma zombaria, uma mofa, com os amigos e fregueses. A imitar a professora Ana Maria, do Grupo Matoso Filho, dando aula para os alunos. A transmitir a voz do Dr. Estácio, como se fosse à do dentista mouco, se confessando com o padre Valério. A caminhar por trás do Cabo Guedes, imitando o andar do temeroso policial, sem temer levar uma bofetada de revestrés. Na hora do terço às 18h00min, Finin salteava as contas para terminar mais rápido, a reza. Dona Maria que chamava o gênio de Titi, apelido familiar, indagava: Titi você já terminou o terço? Finin respondia: já mamãe. Mas foi tão curto.  Mãe é porque eu sou ligeiro. Finin com sempre foi criativo nas suas invenções, montou uma oficina para consertar motocicleta, e só ele era quem fazia esse trabalho em Russas. E numa das suas invenções, colocou um motor numa bicicleta com varão baixo (chamada de bicicleta para mulheres). A sua invenção naquela época dos anos 60, com tamanha magnitude, foi um assombro para os matutos, para os bestas e para o povo russano. E garboso Finin saia desfilando nas ruas da cidade, e o povo boquiaberto com a novidade, corria para portas e janelas, para olhar o Finin passar. E quando parava a sua bicicleta a motor, era ovacionado pelo público de estudantes, curiosos, professores e toda a espécie de gente humana. Montou uma bicicleta para criança e participou de uma exposição em Russas. Sendo o ganhador do prêmio, Finin doou a bicicleta para os organizadores do evento. Inventou uma espécie de cadeira acoplada numa Vespa, para conduzir cargas e pessoas. Coisa que o inventor da Vespa, Eurico Piaggio nunca imaginou no seu primeiro protótipo. Já bastante famoso por seus inventos, com oficina em Fortaleza, criou uma minimoto, e diante de uma aposta com um amigo, que duvidava que ele, naquela sua nova invenção, não chegaria a Russas. Dai aconteceu o que não estava previsto. Finin Saiu de Fortaleza e com pouco tempo chegou a Russas. E às pressas tomou a bênção a Dona Maria alegando que tinha que voltar na mesma hora para a capital cearense. Tinha feito uma aposta com um amigo, e queria ganhar aposta. E contra a vontade de sua genitora, na despedida, montou na minimoto, e ao se abraçar com Dona Maria, cantou a música do Agnaldo Timóteo: “Mamãe estou tão feliz./Por que voltei pra você./Alguma coisa me diz./Que hoje eu volto a viver./Penso feliz ao seu lado. Viver distante por que...” e logo retornou para Fortaleza. Chegando defronte a Fábrica Fortaleza, na BR 116, uma camionete guiada por um indivíduo imprudente, saiu de súbito de um beco, e colidiu com a minimoto do Finin. Nesse fatídico acidente, por volta de 00h00min, do dia 16 de outubro de 1993, ocorreu o falecimento do Gênio russano. Admirador secreto do inventor italiano Leonardo da Vinci.

Airton Maranhão (in memorian)

.Originário de Russas – CE. Formado em Direito pela Universidade de Fortaleza – Unifor, advogado militante da Comarca de Fortaleza, e romancista. Livros publicados: Deusurubu, Admirável Povo de São Bernardo das Éguas Ruças. Romances: A Dança da Caipora, Os Mortos Não Querem Volta e O Hóspede das Eras. Membro da ARCA – Academia Russana de Cultura e Arte.

Airton Maranhão (in memorian)

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