COLUNISTAS / AIRTON MARANHÃO (IN MEMORIAN)

DEDEU - O DUBLÊ DE FILME CAUBOY

Airton Maranhão (in memorian)

06/12/2013

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Existem coisas absurdas neste mundo do inestimável despertar mágico de acordes e encantamento, de fascinante impressionista, que inatingível pelos próprios méritos, pode-se classificar como perfeição de uma obra-prima. Na dublagem de história fantástica, do ser que imagina ser outra personagem na vida, cosmificanda pela natureza de fenomênico mocinho, como aqueles dos filmes de cowboy, conhecido como faroeste. Essa fantasia marcou a vida de um russano, com o ilusório invisível da mais remota fantasia do sonho. Em querer ser artista de filme que brigava com silvícola. Que duelava com bandido. Que escapava das guerras das cavalarias contra os índios. Que fazia parte de grupo de rebeldes que combatia os apaches assassinos e que desafiava o temível xerife. E como não podia ser um mocinho de verdade, na exploração do mundo fascinante do cinema, tornou-se um dublador de filme cauboy. O juvenil pensamento começou no Grupo Escolar Matoso Filho, quando conheci esse russano que dublava os filmes de cauboy que assistia. Um dia, depois que ouvirmos o Hino Nacional, ele falou que gostaria de ter nascido no Velho Oeste. Fiquei entre o tempo e o espaço sem entender nada. Depois, descobri que ele só gostava de filme de bang bang. E só assistia filme de cauboy, conhecido filme de faroeste. Que pena! Nunca mais verei o amigo de infância, que conheci na Escola abraçado com a gloriosa Bandeira da Nação, cantando o Hino Nacional Brasileiro, com a mão no peito e os olhos cheios de lágrimas, com todo fervor de um verdadeiro patriota. Essa cena dramática, presenciei por diversas vezes, quando estudava do Grupo Escolar Manuel Matoso Filho, reconhecido e nominado, como deveria, em homenagem póstuma ao saudoso filho de Russas, deputado Manuel Matoso Filho, em louvor e gratidão pelo que fez em prol da educação do município. O nosso saudoso herói, patriota, brasileiro e russano que pretendia ter nascido no Velho Oeste, partiu para duelar no céu. Era o Amadeu, Francisco Amadeu Leite Silva, irmão do Piano, filho do Parente que fabricava cachaça. Que por coincidência, serviu comigo o Tiro de Guerra de Russas TG/10/010, como soldado do meu grupo, quando mantinha o posto de cabo do Exército Brasileiro, da turma de 1968, instruída pelo Sgt. Martins. Para narrar com sinceridade, os meninos da Monsenhor João Luiz, que ficavam sentados no batente do Sandu, sem dinheiro para assistir a cessão de faroeste, reuniam as moedas, e inteiravam a entrada para o Dedeu assistir a película cinematográfica. Depois, tinha que contar o filme para a garotada, da forma mais realista possível. E o Marcondes Costa, ao transmitir pelo megafone do cinema, o início da sessão no Cine 5 de Junho, com a música Bésame Mucho, Dedeu corria em desespero para chegar a tempo e assistir o filme do começo, senão perdia a graça. E ansiosos, ficávamos esperando o dublador voltar para contar o filme, com a mais perfeita descrição. Se voltasse cabisbaixo, era a penúria dos infernos! O artista havia morrido. E muitos evitavam a dublagem da terrível morte do herói. Porque seria muito chocante. Dedeu chorava muito, e fazia tudo para salvar o seu herói-artista. Mas o artista havia morrido e não podia mudar o roteiro do filme. Como reproduzia a cena, técnica laboriosamente trabalhada na excelente memória, tinha que imitar a atuação do bandido e do artista, conforme o ocorrido. E descrevia o cenário com tanta perfeição, que parecia que a cena cinematográfica, estava sendo transmitida da imensa tela do Cine 5 de Junho, com as informações de relatos idênticos ao acontecido no filme. Lembro que uma vez, a mãe do Dedeu, foi reclamar a minha mãe que ele havia chegado à casa todo quebrado e arranhado. Não era briga não, não! A minha mãe contou o que ocorria, toda vez que no Cine 5 de Junho, passava filme de cauboy. A mãe do Dedeu quase que morre de tanto rir com as presepadas do filho, contada por minha mãe. Tanto, que o Macumbeiro Roseno admitia que a realidade transmitida pelo Dedeu, era reconhecida como certos fenômenos mediúnicos. Porque o dublê psiconeurótico reproduzia com reflexos condicionados o incomum, ao representar o papel completo das personagens. A pose burlesca e desafiante do artista ao duelar com o bandido. Ao puxar o revólver invisível no transmitir o tiroteio, com assobios de balas richicoteando. E ao imitar o bandido caindo ao chão, e o artista soprando a fumaça do cabo da arma. E a espanar a poeira das calças, ao apanhar o chapéu que havia sido atingido pelo disparo das armas. De repente, surgia fora da lei de todos os cantos: dos armazéns, telhados e esquinas, e Dedeu puxava o pau de fogo, pulava pelo chão, rolava por sobre muros e imitava bandidos caindo dos cavalos. E em meio ao imenso tiroteio eliminava os facínoras. Depois, abria porta do cassino, fazia pose escorado no balcão, e tomava uma dose de uísque. E como o revólver do artista nunca seca, outros fora-da-lei que o desafiavam, o dublê com tainhas pelo chão, transpunha mesa, cadeira, o balcão do cassino e matava os meliantes. E jogava uma moeda, como se fosse um dólar para pagar o prejuízo. E antes do xerife entrar pela porta abre e fecha, pulava no cavalo e sumia da cidade. Cheio de “roxas” pelo corpo, na Escola, Dedeu anunciava entristecido: “o próximo filme é de índio Cheyennes e Sioux, mas o artista morre no fim.” Que infância, meu saudoso amigo Dedeu! Espero que reinaugure o céu, honrado mocinho!         

Airton Maranhão (in memorian)

.Originário de Russas – CE. Formado em Direito pela Universidade de Fortaleza – Unifor, advogado militante da Comarca de Fortaleza, e romancista. Livros publicados: Deusurubu, Admirável Povo de São Bernardo das Éguas Ruças. Romances: A Dança da Caipora, Os Mortos Não Querem Volta e O Hóspede das Eras. Membro da ARCA – Academia Russana de Cultura e Arte.

Airton Maranhão (in memorian)

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