COLUNISTAS / HIDER ALBUQUERQUE

Massacre Indígena de Russas

Hider Albuquerque

03/12/2013

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Logo após a instalação do Forte de São Francisco Xavier em 1694, começaram as formações das primeiras estruturas religiosas para aldear os indígenas de várias famílias étnicas. No intuito de formar novos cristãos e contar com mão-de-obra escrava, usavam-se os mais variados meios de tortura e desmoralização do indivíduo e das famílias. Como podemos observar em Limério[1] a constatação da existência de uma Polé, instrumento de tortura tão terrível que só poderia ser instalado com a autorização do Rei ou do Papa, era uma das paisagens encontradas bem ao lado do Forte. Muitos guerreiros indígenas ou revoltosos preferiam se suicidar, ao passar pelos dias intermináveis da Polé. Havia o aldeamento denominado Aldeia Velha e o outro, foi instalado nas proximidades da atual cidade de Morada Nova e chamava-se Aldeia de Nossa Senhora das Montanhas. Todas sob o comando do Pe. João da Costa, um péssimo representante de Deus, que fornecia mão de obra indígena para lavrar suas terras e as terras de parentes. Assim como todos os proprietários de terras (sesmeiros), o Pe. João da Costa combatia com fúria os indígenas que ainda moravam em tribos, alegando que estes lhe roubavam o gado e assassinavam cruelmente pessoas que se aventurassem em seus territórios. Escreveu ao Bispado de Pernambuco, ao qual Russas fazia parte, pedindo que enviasse tropa para combater de vez os últimos resistentes da colonização na região. Fora atendido em 1699, quando chegou a Russas aBandeira Paulista com quatrocentos homens bem armados e inúmeros guerreiros jandoíns que acompanhavam os portugueses.  Comandados pelo famigerado bandeirante Capitão de Campo Manoel Álvares Navarro, que se aquartelando no Forte de São Francisco Xavier, mandou convocar todos os indígenas Tapuias Paiacu da região jaguaribana, com o argumento de que receberiam um presente do Rei, e também levassem suas mulheres e filhos para verem a honra que os indígenas iriam receber. Tal foi a armadilha traiçoeira, que todos os aldeados, assim como, grande parte dos indígenas livres, rumaram para frente do Forte São Francisco Xavier. Eis que, ao se ter enorme quantidade de pessoas na frente do Forte, o capitão Navarro mandou que sua tropa atirasse sem piedade contra a multidão despercebida. Aqueles que tentavam fugir eram apanhados pelos Jandoíns que estavam escondidos na retaguarda. Quase todos os homens morreram e as mulheres e crianças que sobraram desse genocídio, foram aprisionados e enviados para aldeamentos na Paraíba e Rio Grande do Norte. Centenas de índios morreram na emboscada. Esse ato foi tão repugnante que o Bispo de Pernambuco mandou que o Capitão Navarro fosse excomungado, tendo em vista a covardia criminosa que utilizou para matar aquele enorme número de pessoas inocentes. O Pe. João da Costa foi um dos denunciantes de Navarro, embora tenha pedido força armada para combater os índios rebeldes, não contava que a estratégia de Navarro fosse o extermínio definitivo dos indígenas da ribeira do Jaguaribe. Não contava, sobretudo, que os índios de suas aldeias, ou seus trabalhadores não remunerados, fossem atentados e caíssem nessa armadilha maligna. Principalmente depois que Russas recebeu a denominação de Paroquiato, erguendo sua primeira igreja em 1707. Nesse sentido, a comunidade russana já gozava de certo aparelhamento burocrático (Igreja) e militar (Império). Embora ainda houvesse alguns ataques esporádicos nos sítios mais distantes da sede da Freguesia de Nossa Senhora do Rosário das Russas. A sociedade expandia-se em oficinas, comércio e principalmente nas feiras que ofereciam mercadorias de outras províncias. O núcleo urbano começava a tomar forma.


[1] ROCHA, Limério Moreira; Russas 200 anos de Emancipação Política; Ed. Fortaleza Banco do Nordeste, 2001; pág. 49.




Hider Albuquerque

Professor especialista em ensino de História; Historiador Pesquisador; Escritor; membro da diretoria da Academia Russana de Cultura e Arte (ARCA); Compositor e ligado ao movimento Cultural de Russas Fez parte do Grupo Teatral Arco-Iris; membro fundador da OFICARTE Teatro e Cia; Professor na EEM - Escola Manuel Matoso Filho; Blogueiro.

Hider Albuquerque

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