COLUNISTAS / AIRTON MARANHÃO (IN MEMORIAN)

Ao toque do magnífico hino de Russas

Airton Maranhão (in memorian)

19/08/2013

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Desde que a nossa cidade se encheu de almas inodoras, incolores e invisíveis, daquelas que aparecem e somem sem deixar rastros e sombras, no desfecho iluminado de facho de incógnita, o coração russano pulsa por baixo das portas, fadado à cova rasa, sem inscrição e sem flores. À procura das orquídeas na areia do deserto, dos diamantes no brilho das estrelas, da educação na sepultura dos analfabetos e da saúde no manicômio dos esquecidos. Sem mais esperança, com as promessas falsas de quem iria explorar petróleo nas terras do mendigo Zé Temóteo. De quem iria enriquecer com as botijas da Chica Doida. De quem iria apreciar o jardim do Zé Delfino, para colher flores. De quem iria debruçar na escuridão, sobre a lâmpada de Thomas Edison, a esperar que Russas fosse iluminada com a luz dos vaga-lumes, com a visão dos cegos e farolins da cidade luz. Russas, trilhando nesse estopim de manipulação de egoístas, catacegos e arrogantes, não evitará o analfabetismo. Não terá filho graduado em direito por Harvard, como Obama. Não terá jovem com a inteligência de Mark Zuckerberg, fundador do facebook. Não terá cientista como o professor Lindemberg Gonçalves. Não terá médico como Dr. Dalto Holanda, e educadores como padre Cabral, irmã da Graça e Gilvanise. Nessa ignorância, renascerá o temível lobisomem, vestido de trapos, portando chocalhos, para atrair as donzelas. Retrocesso do tempo da lamparina, utensílio de iluminação de casebres paupérrimos. Não sou Nostradamus para prever nada, mas se não for criado, com urgência, uma filosofia de educação, saúde e bem-estar, com profissionais modernos e talentosos, a metralhadora “Irene” do revolucionário Che Guevara, e o bacamarte do valente Pinto Madeira, reaparecerão para faiscar fogo pelas ruas de Russas. E quem sabe, talvez, a famosa “Lurdinha”, metralhadora portátil MP-40, do deputado federal Tenório Cavalcanti, destemeroso “Homem-da-Capa-Preta, por usar uma capa preta idêntica à dos alunos de direito da Universidade de Coimbra, surgirá em Russas, para entrincheirar os estudantes da terra, que sem suporte e empreendimentos educacionais, tentam abandonar a cidade, por falta de incentivo de esporte, educação, saúde e da construção do Campus da UFC-Russas, faculdade de educação superior. Quanta ignorância e estupidez! Que vergonha para os políticos de alto escalão do município! Se a maioria dos russanos perderam o hábito da leitura de enciclopédia, romance e jornais! Dessa forma, como serão bem-sucedidos na leitura em tablets e celulares? Poderão ser mal interpretados como internautas ignorantes, analfabetos e pornográficos, por esfacelar a língua portuguesa, com a grafia de hieróglifo. Que vexame! Fico perplexo com a incredulidade atribuída a quem não pensa no sucesso de uma criança, e no futuro de sua cidade. Tudo por culpa dos mentirosos sensacionalistas. E Russas arqueja nas mãos dos estranhos, enquanto em outras cidades já inauguraram o aprendizado digital. Será que o povo russano não percebe que está servindo de sentinela ao velório do município moribundo? Aguardo esse funeral, há muito tempo. Russas está doente, e não tem médico nem gestor para evitar o morticínio. Russas, como uma anã obscura, caminha com sapatos rotos, sem político para reconstruir a cidade. Há visionários e idealistas que tentam ajudar, mas os sensacionalistas evitam, por disputa e prestígio. E Russas já dá sinais de fraqueza de quem está no fim da vida. Alguns entoam hinos fúnebres nas preces de extrema-unção. E outros, diante da farsa, vão demolindo os nossos patrimônios históricos, mudando o seu perfil, pincelando as suas cores, enfeitando as praças. E mesmo assim, o ar de beleza torna-se cada vez mais tétrico. Porque se engana quem pensa que Russas está bonita! Quando Russas não começava a vislumbrar um município despedaçado, funesto e empobrecido, por baixo das águas turvas, sugiram os estranhos paraquedistas. Seres espinhosos que construíram um muro de lamentações e dividiram a nossa cidade, para afundá-la em profundos vendavais. E Russas nunca mais foi a mesma, com os traços distintivos de sua história. Porque por trás desse muro de lamentações, criaram termômetros para medir a temperatura do inferno e pirâmides de fantasmas, com mariposas circundando as falsas luzes de Paris. Sucumbiram crepúsculos, flores e a harmonia da urbe. E sem alma, construíram ilusões de argamassa no centro da cidade, como sedutora chave milagrosa para ludibriar os bestas, os babacas e os fanáticos. E os escombros surgiram nos lugares carentes do município. Porque tem pavor a educação, o analfabetismo, o esporte e o Tiro de Guerra. Para a terra das laranjas, dos padres, dos ourives, dos coronéis e dos músicos, será que o Tiro de Guerra permanecerá em Russas? A lagoa Caiçara será soterrada? O Araibu ficará perene? O Quartel da Polícia Militar será demolido? A periferia continuará além da vida? A Seleção de futebol de Russas será, novamente, campeã do Intermunicipal de Futebol? A Casa dos Amigos de Russas e a Academia Russana de Cultura e Arte, serão extintas? O hospital será implodido? O matadouro de Russas será o IML? Nos Dias de finados, o Cemitério dos Bons Aflitos receberá flores do céu? Russas terá um novo Fórum? Afagu/Russas será novamente Campeão Cearense de Futsal? Será que Russas voltará a ser premiada com o selo da UNICEF? A Associação Atlética e Cultural de Russas será desativada? A Banda Municipal Maestro Orlando Leite, será exterminada? Antes que o Cristo Redentor da Coluna da Hora cruze os braços, a agência do Banco do Brasil voe pelos ares, a faculdade seja remanejada para Quixeré, e a política de Russas, mergulhe na fanfarra da chafurdice, perseguições e intrigas, em homenagem à terra dos educadores, dos coronéis e dos músicos, ponho a mão sobre o peito e canto o Hino de Russas, composto pela educadora Irmã Maria da Graça. “Hoje, ó Russas, teus filhos te cantam...”

Airton Maranhão (in memorian)

.Originário de Russas – CE. Formado em Direito pela Universidade de Fortaleza – Unifor, advogado militante da Comarca de Fortaleza, e romancista. Livros publicados: Deusurubu, Admirável Povo de São Bernardo das Éguas Ruças. Romances: A Dança da Caipora, Os Mortos Não Querem Volta e O Hóspede das Eras. Membro da ARCA – Academia Russana de Cultura e Arte.

Airton Maranhão (in memorian)

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