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Já no ano de 1984, o inverno foi bem generoso. Todos os rios, córregos e lagoas, ficaram em seu limite pela regularidade da quadra invernosa. Em janeiro de 1985, as precipitações começaram e vieram quase que diariamente. Não demorou muito para começarem os relatos de açudes estourando, cidades sofrendo com a elevação das águas, até que um dia o Araibu começou a comprovar o que os outros diziam.
As águas subiam muito rápido, constante engolindo suas margens e retomando seu território de rio. Ouvíamos nos rádios os boletins de acompanhamento da medida dos açudes de Orós e do Banabuiu. Impressionante como as águas continuavam subindo em ritmo acelerado. Os dias pareciam feitos de “guache”.
Depois da cheia de 1974, não havia se visto uma enchente como aquela, diziam os mais velhos, pois a cidade já estava bem mais elevada pelas construções, aterros, estradas e calçamentos. Mesmo assim, a cheia de 1985 conseguiu desabrigar milhares de moradores das áreas ribeirinhas e na cidade, em todo o Vale do Jaguaribe.
As multidões se aglomeravam em tendas armadas pelo exército nos Tabuleiros de Russas próximo ao campo de aviação, outros ficavam alojados nas igrejas, colégios e outros prédios públicos. Os casos de doenças típicas desse período começaram a aparecer e se multiplicava entre as pessoas que precisavam ficar em um lugar coletivo. O campo de futebol do quartel ficou servindo como heliporto, assim como o Campo de Aviação João de Deus para os helicópteros maiores que traziam as mercadorias que eram distribuídas pelo Exército e pela Polícia Militar.
Uma imagem ainda marca muito a minha experiência pessoal: um dia acordei as 5:30 da manhã para ir à aula de Educação Física, morava na rua Monsenhor João Luiz, próximo a capelinha das Irmãs. Ao sair no portão avistei uma das imagens que jamais sairão da minha memória. A água do rio passando calmamente enfrente da minha casa, não havia mais calçamento, só água, que vinha serpenteando e já subindo as calçadas mais altas.
Olhando para o lado da UNECIM, vi uma névoa densa sobre o rio da minha rua. E dela surgiu, em vez de um carro, um grande barco de madeira. Quem o trazia era o senhor Zé Lázaro, comerciante até hoje daquela rua. Com o barco carregado com os mantimentos que vendia, passou enfrente a minha casa, vagarosamente deslizando, como se fosse comum. Apesar das muitas famílias desabrigadas temporariamente e as perdas de lavouras e criações, quando as águas seguiram seu rumo, iniciou um período de muita fertilidade na agropecuária jaguaribana.
Professor especialista em ensino de História; Historiador Pesquisador; Escritor; membro da diretoria da Academia Russana de Cultura e Arte (ARCA); Compositor e ligado ao movimento Cultural de Russas Fez parte do Grupo Teatral Arco-Iris; membro fundador da OFICARTE Teatro e Cia; Professor na EEM - Escola Manuel Matoso Filho; Blogueiro.
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