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A ideia de se construir um hospital em Russas teve início em 1936[1] com a união de um grupo de pessoas dispostas a ajudarem nessa causa. Procuraram o então vigário Monsenhor Vital. No entanto por motivos desconhecidos o plano não se concretizou naquela ocasião. Houve uma segunda tentativa, mas sempre esbarravam em algum problema, por exemplo, quando esteve aqui o Dr. Batista Oliveira, que tinha recursos segundo o que se registra, mas quando foi procurado pelos filhos de Russas, esse “alegou” já está com a idade avançada demais para enfrentar essa construção.
Embora, várias tristezas vieram a interromper a construção do hospital de Russas, esse era um ideal que nunca foi esquecido pelo povo russano. Quando, em 1940, ainda sendo estudante de medicina o Dr. Daltro Holanda, encampou na cidade uma verdadeira “cruzada”. Depois de formado, em 1941 na Bahia, regressou para Russas onde foi nomeado diretor do Posto do IPEC na cidade, deste momento em diante ele passa a convocar o governo municipal, a Igreja e as organizações da cidade, como a Sociedade Beneficente que contava entre seus membros, alguns cidadãos ligados a Maçonaria, e, principalmente, a população como um todo assumiu esse desafio.
Com toda essa mobilização do Povo de Russas, em 1º de janeiro de 1944 foi inaugurado a pedra fundamental no terreno que seria construído o Hospital e Casa de Saúde de Russas. Somente no ano de 1955, já com todas as instalações e equipamentos, o pavilhão central do Hospital começa a funcionar tendo a frente o Dr. Daltro Holanda, sua conclusão foi no ano seguinte, em 1956, quando foi entregue ao povo de Russas o nosso tão esperado Hospital e Casa de Saúde de Russas.
Em conversa de pesquisa que tive com a Parteira senhora Luísa Ferreira, me revelou, por parte do povo, o medo de deixarem seus antigos costumes, como o parto por parteiras e outros problemas de saúde com rezadeiras e benzedores. Dono Luísa era sempre chamada quando o paciente temia o “novo”:
“...Eu trabaiei muito pro Dr. Daltro. Quando ele ia fazer uma operação ele dizia: “Chama aquela nega” aí eu ia lá, aí pedia, pedia preu rezar oração. Tanto que eu dei muita oração a ele por escrito, pra quando ele fosse operar chamar um espírito... da espiritual, chamar os médicos que é espírito. Aí eu dava a ele as orações. Se lembro (da oração) não, porque é mais incorporado né? aí a gente tando assim num sabe, eu num sei ( ri ). A coisa que eu ainda sabia era tomar sangue de palavra, que quando a pessoa tava com hemorragia, ele mandava me chamar, que é assim:
Deus quando andou no mundo
Foi curando todos os mal
Cego e os aleijados
Lepra de leproso
Põe-te sangue em te
Como trás Jesus Cristo em si
Põe-te sangue no outro
Como tá Jesus Cristo no corpo
Põe-te sangue nas veia
Como tá Jesus Cristo na ceia
Procura sangue o teu lugar”[2].
Essas histórias e lembranças da memória do nosso povo vem reforçar as mudanças culturais em nosso município. Tempo onde o povo não tinha a quem se valer, a não ser pela fé, as orações e as plantas medicinais de nossa rica flora. Ver esse patrimônio russano hoje, atendendo uma gama considerável da nossa população faz nos lembrar daqueles nossos ancestrais, que tanto lutaram para oferecer ao povo russano, de todas as gerações, uma porta aberta para o socorrer. A saúde é mil maravilhas, não, muito precisa ainda e políticas estão sendo tomadas pela administração do Hospital de Russas. Espero que o município possa voltar a estabelecer convênios com esse, que durante décadas vem sendo o auxílio, único talvez, das pessoas mais necessitadas do nosso município.
Professor especialista em ensino de História; Historiador Pesquisador; Escritor; membro da diretoria da Academia Russana de Cultura e Arte (ARCA); Compositor e ligado ao movimento Cultural de Russas Fez parte do Grupo Teatral Arco-Iris; membro fundador da OFICARTE Teatro e Cia; Professor na EEM - Escola Manuel Matoso Filho; Blogueiro.
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