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Durante os primeiros momentos da História Russana, os cadáveres eram enterrados dentro da igreja Matriz. Com o tempo a população foi crescendo e ficou impraticável os sepultamentos dentro da igreja. Já que as epidemias de peste bubônica e posteriormente a cólera morbus, mataram centenas de pessoas no Vale do Jaguaribe durante o século XIX. Criando um ambiente impreguinado do cheiro da morte, a Vila não podia mais continuar suportando os muitos enterros diários.
Construiu-se então um cemitério atrás da Matriz, em 14 de janeiro de 1800. Cercado de madeira, com jardim e cruzes, além de ser bento oficialmente pelo Vigário. Só assim a população começou a aceitar a idéia de seus parentes serem enterrados fora da igreja. Durante a construção do prédio da Betânia na década de 1970, os trabalhadores encontraram várias ossadas durante as escavações do alicerce. Foram todos retirados e colocados em caixas, sob os cuidados do Pe. Pedro de Alcântara, que mandou depositar os restos mortais dos nossos ancestrais embaixo do novo altar.
Com o desequilíbrio ambiental causado tanto pela ação do homem, como pelas secas, o Rio Jaguaribe estanca suas águas pela primeira vez em 1816. A partir de então, aumentou o número de epidemias durante o século XIX. Foi nesse ambiente de grandes secas, grandes cheias e muitas doenças (principalmente cólera, febre amarela e peste bubônica), que nasce Lino Deodato Rodrigues de Carvalho (Dom Lino) em 1826. No ano de 1855, assume o cargo de Professor da Escola de Primeiras Letras, já como padre. Acompanha a implantação do Cemitério Bom Jesus dos Aflitos, oficialmente inaugurado em 1859 (atual cemitério público). Na época era cercado com arame, somente em 1878, é construído o seu muro de alvenaria e contava apenas com um portão.Outra grande realização do Pe. Lino, além das igrejas de Quixeré e Palhano, foi a igreja de São Sebastião, 1872/73. Erguida para simbolizar a vitória do povo russano diante das epidemias que assolaram a nossa terra durante o século dezenove. Dom Lino não teve a oportunidade de ver sua inauguração, por conta da viagem para São Paulo. No entanto, voltou pela última vez, um ano depois, em 1874, já como Dom Lino Deodato, para ver a igreja do seu Santo de devoção e padroeiro protetor do seu povo russano.
Oração rezada por Dom Lino:
“Ó Mártir de Cristo, Ó Santo Varão,
Livrai-nos da peste, São Sebastião.
Nasces-te no berço, do vil paganismo
Porém a Fé Santa, Vos deu o batismo
P’ra ser militar, Fostes escolhido,
De Deus para serdes mais favorecido.
Soldado Fiel, guerreiro, valente,
Tocado da Graça do Onipotente,
Então prisioneiro foste amarrado,
E, na laranjeira, de setas passado.” [1]
Achamos interessante transcrever aqui as primeiras páginas do Livro de Registro de Óbitos do Cemitério Bom Jesus dos Aflitos de Russas.
Página I – Termo de abertura:
“Este livro há de servir para os termos de Óbitos das pessoas que se sepultarem no cemitério desta Vila como dispuserem o regulamento do mesmo o qual vai assinado e rubricado com minha rubrica que uso “Araújo” no fim leva o competente termo de encerramento. Vila de São Bernardo, 16 de fevereiro de 1859. ”[2]
“Nº.1- ‘Aos nove dias do mês de fevereiro de mil oitocentos e cinqüenta e nove, dei sepultura a dois cadáveres, párvolos, filhos legítimos de Joaquim José de Moura, e sua mulher Maria Maciel de Jesus, pardos desta Freguesia, sendo uma de nome Josefa de idade 6 para 7 anos e outra de nome José de 5 para 6 anos e acompanhou ordem do Sr. Vigário da Freguesia com os direitos pagos, os quais ficam sepultados nas covas nº. hum e dois da primeira divisão do Cemitério da Vila de São Bernardo.”[3]
Professor especialista em ensino de História; Historiador Pesquisador; Escritor; membro da diretoria da Academia Russana de Cultura e Arte (ARCA); Compositor e ligado ao movimento Cultural de Russas Fez parte do Grupo Teatral Arco-Iris; membro fundador da OFICARTE Teatro e Cia; Professor na EEM - Escola Manuel Matoso Filho; Blogueiro.
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