COLUNISTAS / HIDER ALBUQUERQUE

Russas e as oportunidades de Emancipação Política

Hider Albuquerque

30/03/2013

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Durante o século XVIII havia três pontos de referência para o escoamento de mercadorias entre a capital da Capitania de Pernambuco e o Ceará. O intercâmbio entre Icó, Russas e Aracati, foi de extrema importância para o desenvolvimento social do interior dos sertões. Havendo a ponte entre essas povoações, começou o escoamento e movimentação das riquezas regionais por todo o Vale do Jaguaribe. A cidade de Russas é citada nos primeiros relatos de viagens, quando os comboieiros, as mercadorias e as tropas de gado, usavam como referência as terras Russas, para descanso, comércio e rota de chegada ao porto de Aracati.

 

No entanto, a cidade de Russas foi a última a ser emancipada politicamente, por interesses escusos que manipulavam a dominação dessa rica terra. Destas três povoações, a primeira que foi elevada à Vila foi a cidade de Icó. O ano de sua emancipação é de 1729. Aracati vem logo em seguida, elevando-se a Vila em 1748. Russas por sua vez, teve a primeira oportunidade em 1766. Quando foi enviada a Paróquia de Russas, uma circular assinada pelo Marquês de Pombal, mandando criar Vila nas terras do Jaguaribe, para melhor provimento da Coroa Portuguesa.

 

O vigário de Russas nesse período era o Pe. Manoel da Fonseca Jaime. Ele foi responsável pela omissão desse documento, que deveria ser exposto à comunidade russana. Registrou no Livro de Visitações, no entanto, não pronunciou publicamente em três missas consecutivas, como era de costume acontecer, nem afixou do documento na porta principal da Matriz. Com isso, não haveria entusiasmo pela comunidade russana, nem muito menos manifestações populares.

 

O motivo para isso? Nesse momento o Vigário e Cura das Russas tinha poder total, tanto na administração do espiritual, como no poder temporal. Ou seja, ao Vigário cabia cuidar das questões da celebração da missa, a fábrica da Igreja, os tributos sobre casamento, batizados, enterros e encomendação das almas. E ao ser também Cura, era responsável pelas questões de justiça. Também chamado de Juiz de Paz, tinha em suas obrigações, o julgamento de questões territoriais e comerciais, assim como a aplicação de penas.

 

Com a elevação da Freguesia de Russas em Vila, certamente o Vigário perderia a metade de seu poder político. Pois, uma vez criada a Vila das Russas, imediatamente se constituiria um corpo administrativo eleito entre os moradores. Os cargos eram: 3 vereadores; 1 Capitão das Armas; 1 Juiz Ordinário, 1 Juiz de Órfãos e 1 Procurador. Restringindo a ação do Vigário somente ao espiritual.

 

Nova tentativa veio em 1798. Quando a comunidade russana se uniu para reivindicar a sua autoridade local. Tendo a frente o vigário José Bernardo Galvão, faz solicitação ao governo da província em Pernambuco, para a instalação do poder local. O povo de Russas é atendido no dia 16 de maio de 1799, com a lavração do Termo de Vila, a qual deveria ser denominada como Vila de Santo Antônio do Ouvidor. No entanto, mas uma vez o sonho russano é adiado. Tendo em vista a criação da Capitania do Ceará, independente de Pernambuco. Com isso, todos os documentos de elevação outorgados pela antiga Capitania perdia seu valor legal.

 

Russas só veio a ser erigida a Vila, no dia 06 de agosto de 1801. Erguendo o pelourinho, símbolo do poder local, com o nome de Vila de São Bernardo do Governador. O pelourinho era onde os escravos, índios e transgressores eram açoitados, assassinados ou simplesmente expostos à ridicularização pública. A denominação proposta pela Província não demorou muito para ser substituída, pelos russanos, por São Bernardo das Russas e depois, simplesmente Russas.

 

No ano de 1859, Russas passa a ser designada cidade, novo termo que ficou comum na época. Mas a estrutura política continua quase a mesma. Os Intendentes eram os presidentes das Câmaras, que tinham mandatos de três anos. Somente em 1914, a República divide os poderes e é criado o cargo do executivo municipal. Foi nosso primeiro prefeito Intendente o senhor João Nogueira de Freitas Costa, em 1893. E o nosso primeiro prefeito executivo, foi o Coronel e sacristão Francisco Ferreira de Araújo Lima, no ano de 1914 (Chico Sacristão).

Hider Albuquerque

Professor especialista em ensino de História; Historiador Pesquisador; Escritor; membro da diretoria da Academia Russana de Cultura e Arte (ARCA); Compositor e ligado ao movimento Cultural de Russas Fez parte do Grupo Teatral Arco-Iris; membro fundador da OFICARTE Teatro e Cia; Professor na EEM - Escola Manuel Matoso Filho; Blogueiro.

Hider Albuquerque

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