COLUNISTAS / CARLOS EUGÊNIO

A sensibilidade humana

Carlos Eugênio

12/03/2013

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     A humanidade contemporânea permitiu emergir uma personalidade individualista, e deixou adormecida na psique, a capacidade de amar o próximo como uma entidade divina. Refiro-me ao amor que não exige troca, aquele desprovido de interesse e atração de corpos.  Reporto-me, portanto, ao amor pelo semelhante. A propensão de se comover com a dor do outrem e, engajar-se nas lutas sociais como um ato de defesa da própria vida. De estender a mão, abrir portas e dá oportunidades sem a troca de interesses. Olhar o outro e perceber sua essência. Acreditar na vida.

 

Em um mundo globalizado, onde a luta pela sobrevivência é um fator primordial no cotidiano das pessoas, a lei da selva predomina nas ações humana. O poder financeiro está a frete das decisões, e campeia as atitudes do ser humano. Aos olhos da sociedade, rotulada pela posição social conquistada, cada homem e mulher têm o valor de sua conta bancária. E sua essência divina? Perdeu-se nas parafernálias da modernidade. Ficou esquecida na simplicidade da vida, no Sol que se põe solitário no deserto e, no desabrochar de uma rosa desprezada num jardim, largado na existência.

 

Em que deserto perdeu-se a sensibilidade humana? Nascemos com a susceptibilidade das flores. Mas, ao longo do tempo, o coração fica calejado pelas provações que a vida impõe. Uma rosa enfrenta as tribulações, em um campo ermo, abre suas pétalas no alvorecer, e oferta sua fragrância sem se queixar. Por que a humanidade não segue o exemplo das rosas? Embora tenha espinho, nos oferta o que ela tem de melhor: a beleza de suas cores e sua fragrância natural. As pessoas podem ser rosa ou espinho. Oferecer o que elas têm de melhor, ou disseminar aversão, repulsa.

 

A violência tomou conta do cotidiano da vida moderna. Conflitos armados em nome de Deus, vidas ceifadas por motivos banais e, o pior de tudo, é que a humanidade está se habituando a essa tétrica situação. Mortes violentas, crimes monstruosos e o desprezo pela vida, já não surpreende mais a sociedade contemporânea. Virou ocorrência natural, no dia a dia, de uma sociedade que se conceitua desenvolvida. Precisa-se entender que violência não é sinônimo de desenvolvimento. Não dar mais para ser insensível perante fatos que agridem a existência humana. A humanidade necessita resgatar a sensibilidade das flores, e reaprender a valorizar a vida.

 

A percepção aguçada, que consiste no afloramento das emoções a respeito de algo, precisa ser direcionada, para mudar realidades adversas. Para isso, as pessoas têm que voltar-se para as causas sociais. Perceber que somos uma célula que compõe o cosmo. É questão de berço, de paradigma educacional. Direcionar a criança, a sensibilizar-se com os princípios socioculturais, para quando chegarem à fase adulta possa ser mais alma, e menos razão. Afinal, são as emoções que levam o mundo a épocas melhores. Mostrar as crianças que a sobrevivência está intimamente ligada às ações de uma sociedade justa, igualitária e, integrada à capacidade de vê o semelhante como parte de nós mesmo, é o caminho para resgatar a sensibilidade humana, perdida na intolerância.

 

O Brasil enfrenta a escassez de líderes sensíveis às causas populares. O próprio povo passa por uma crise de identidade. Não consegue canalizar seus objetivos, viabilizar costumes e valores. Não temos mais uma classe estudantil empenhada em seus ideais. Engajada numa filosofia de vida. Onde estão os estudantes que pediram o impeachment de um presidente? O país precisa que eles voltem a ocupar as avenidas para exigir educação de qualidade, saúde pública, segurança e o fim da corrupção. Somente com o afloramento da sensibilidade humana, esse país pode-se transformar em uma terra que germinará a semente de uma vida promissora para seus patriotas. 

Carlos Eugênio

Nasceu em Russas - CE. Graduado em Português Licenciatura Plena pela Universidade Vale do Acaraú; (UVA), Especialista em Ensino da Matemática e Física pela Faculdade Vale do Salgado (FVS). Professor, colunista do Jornal Correio de Russas e da TV Russas.

Carlos Eugênio

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