COLUNISTAS / AIRTON MARANHÃO (IN MEMORIAN)

O Silêncio do poeta Francisco Carvalho

Airton Maranhão (in memorian)

09/03/2013

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      É muito triste aceitar que existem pessoas nesse mundo que nascem para a prática da culpa consciente, com toda vontade a exercê-la livre e conscientemente. Somente para alcançar o resultado pela aplicação de leviandade e pelo desrespeito para com a preservação do patrimônio histórico e cultural da cidade de Russas. Desprezando os russanos, para ser mais justo, os gênios renomados, as figuras brilhantes e os homens ilustres, filhos da terra natal. Pertencentes à galeria magnífica das letras, das artes e da cultura, com relevância universal. Para nomear sem glória, a casa da intelectualidade russana de Centro Cultural Padre Pedro de Alcântara. Ao glacial filho de uma terra distante que, por quarenta anos, afundou nosso município no maior atraso de todos os tempos. E pela segurança louvável da dignidade e honradez da história de nosso povo, sem desigualdade social, discriminação e preconceito, não vale a pena, nem por direito ou por justiça, lembrar o nome do prefeito que cometeu esse crime, por sua tamanha bestialidade. Pelo erro cometido dos mais terríveis, teratológico e temerário, em face da escolha do atual nome do Centro Cultural de Russas. Bem que lutei, incansavelmente, para que fosse descortinada a excelsa placa comemorativa, para figurar  CENTRO CULTURAL FRANCISCO CARVALHO. Presenteando para os russanos a memória do maior poeta da terra de São Bernardo das Éguas Ruças. Pela profundidade de sua obra, através da grandiosa construção inimitável de seus poemas. Configurando o valor que merecia o nosso genial poeta, ganhador de vários prêmios, principalmente o “Nestlé de Literatura, porque o nosso poeta Francisco Carvalho não fez somente literatura. Prestou pleno cuidado de zelo e apreço com a valiosa contribuição para a história do nosso Estado e do nosso município. Ao representar Russas para o mundo inteiro como imortal da Academia Cearense de Letras, e como Professor da Universidade Federal do Ceará (UFC). Com os seus poemas, que foram escolhidos para leitura do vestibular da UFC, chegou a inspirar o cantor Raimundo Fagner, que musicou poesias de sua autoria “O bicho homem”, “Esse touro vale ouro”, “Cestabásica” e “Reino/Minueto da Porta”. Para provar que na sua carreira literária, nenhum poeta no mundo lançou mais livros de poesia que o poeta Francisco Carvalho. Onde se faz o registro de 32 obras lançadas para todo o universo. Que ganhou os seguintes prêmios: Prêmio Nestlé de Literatura, em 1982, com o livro Quadrante Solar. Prêmio da Fundação Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro,  em 1997. Comenda Dom Lino Deodato Rodrigues de Carvalho, Câmara Municipal de Russas, em 2006. No aniversário de 85 anos, Francisco Carvalho recebeu pela data comemorativa as leituras dramáticas de suas obras, gravadas em vídeos pelos jornalistas do jornal OPovo e pelo ator Ricardo Guilherme. Mas tudo foi em vão, e o nosso poeta morreu no silêncio. Sem ter na cidade do seu berço natal, uma rua com o nome do memorável vate. Uma praça, com o busto do poeta conterrâneo. Uma escola com relevo do seu nome para lembrar o talento poético de um dos mais importantes gênios da poesia mundial. Sabe por quê? Porque Russas não tem político inteligente. Não tem prefeito de talento. Não tem cultura literal. Não tem memória do acervo de sua gente. Russas cresce de forma fragmentária no seu antológico de morta-viva, desordenada e sombria. Depredando sua origem, seu povo e seus costumes. Para assim, perecer sem contemplar as duas gigantescas estátuas de São Bernardo das Éguas Ruças, que seriam erguidas nas entradas principais da cidade, como lembrança expressiva da origem da urbe. E aqui, orgulhosamente, quero agradecer e reverenciar o meu grande amigo e poeta Francisco Carvalho, que no limiar de sua existência, fez o prefácio do meu livro Admirável Povo de São Bernardo das Éguas Ruças, ao deixar o registro de sua linguagem poética: “de parabéns o povo russano por mais esse empreendimento literário do escritor Airton Maranhão, numa prova cabal de sua estima à cidade onde nasceu, plantada nas entranhas sedimentares do Vale do Jaguaribe, banhada pelo rio dos jaguares, o maior e mais importante do Ceará. Parabéns aos filhos da ensolarada cidade de Russas, cuja memória será preservada, em letra de forma, para honra dos contemporâneos e para os tempos vindouros.” É uma pena que o seu velório tenha ocorrido no Cemitério Jardim Metropolitano, na cidade do Eusébio, onde o seu corpo foi cremado. Mas, em louvor a esse memorável russano, espero que algum dia, na casa onde nasceu esse grande vate, seja descerrada, em ato solene, uma placa comemorativa do tombamento pelos poderes públicos municipais. E com a translação dos seus restos mortais, para Russas, que deixem grafado no seu epitáfio, a frase que sempre me alertava:  “Russas nunca fez nada por mim, também nunca fiz nada por Russas.” Adeus, meu admirável poeta, pintor do milagre fabuloso das palavras.

 

Airton Maranhão

Advogado Escritor

Membro da Academia Russana de Cultura e Arte – ARCA

 

Airton Maranhão (in memorian)

.Originário de Russas – CE. Formado em Direito pela Universidade de Fortaleza – Unifor, advogado militante da Comarca de Fortaleza, e romancista. Livros publicados: Deusurubu, Admirável Povo de São Bernardo das Éguas Ruças. Romances: A Dança da Caipora, Os Mortos Não Querem Volta e O Hóspede das Eras. Membro da ARCA – Academia Russana de Cultura e Arte.

Airton Maranhão (in memorian)

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