COLUNISTAS / AIRTON MARANHÃO (IN MEMORIAN)

Flávio Cavalcanti Rei da Televisão Nogueira

Airton Maranhão (in memorian)

19/12/2012

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Existem acontecimentos absurdos, inimagináveis e verídicos, criados por pessoas de inteligência fantástica e extravagante, que demonstra como é fantasiosa a mentalidade estranha da conduta humana desses indivíduos excêntricos. Um desses acontecimentos inauditos, como quase-lenda da danação de Dr. Faustus, bruxo famoso de poções e urguentos mágicos, aconteceu em Russas, autorado pelo Sr. Alberto Nogueira, o conhecidíssimo Cabo Alberto, figura das mais populares de nossa terra natal, admirador do Programa Flávio Cavalcanti, da TV Tupi, do Rio de Janeiro. Que era apresentado por Flávio Antônio Barbosa Nogueira Cavalcanti. Que por um ato voluntário de admiração ao famosíssimo apresentador, deixou o mundo perplexo, o intrigado russano com o nome do seu filho Flávio Nogueira. Com aquelas suas expressões distintas de maneira respeitosa e a bom-tom, certo dia, chegando em casa, depois de umas e outras no bar do Vicente Silva, com os diletos amigos José Plácido Gonçalves, conhecido por Zezito, Coronel Zarlu, Coronel Amauri, Coronel Eugênio, Valdenor Meireles, Nelito e o patrulheiro Rodoviário, Miguel Toyota, sabendo que seria pai, arvorou-se o patriarca: “Nair, se for homem” disse ele para a esposa que estava grávida “vou registrá-lo no Cartório como Flávio Cavalcanti, e se for mulher registro Márcia de Windsor.” Cabo Alberto, como gentleman, sempre tratava as pessoas com boas maneiras e contava bravuras com galanteria, ao dizer que ao gratificar um serviçal, deve se fazer as ocultas dos anfitriões, como prova de boa educação, sem cometer gafe. E dar uma gorjeta a um garçom, tem que ser a modo francesismo, a demonstrar a arte própria de uma pessoa bem educada, mas sem a frescura de viadagem, porque expressão afrescalhada, não é para o nosso mata-bicho. E que para entrar no escritório do bar do Vicente Silva e sentar-se à mesa reservada dos abastados, famosos e renomados da cidade, tinha que saber o valor do cacifo, controlar os nervos, os atos e as palavras. E ao tomar whisky, jamais poderia mexer o gelo usando o dedo. Todos os freqüentadores tinham que ser pontuais. E alertava, não esqueçam: “Luís XVIII dizia que a pontualidade é a cortesia dos reis.” E como gostava de aprontar brincadeiras, fez uma rifa de um relógio histórico. No dia do sorteio, para a surpresa dos russanos, ele havia rifado o Relógio da Coluna da Hora, da Praça Monsenhor João Luiz. E para o espanto de todos, o agraciado da rifa fora o Coronel Kerginaldo. “Cabo Alberto, logo o Coronel Kerginaldo?” indagou Vicente Silva. “E vou é rifar ainda: a Serpente do Jardim do Éden, o Testamento de Salomão e a Burra-de-Padre que dá volta ao redor da Matriz.” Como estórias extravagantes que não evitavam gargalhadas ao contar das bundacanascas do padre Valério, no riacho Araibu. Da correria das internas do Patronato, segurando a saia no funil de redemoinhos. E do famoso lobisomem de Russas, o Emsebado, que se escondia a meia-noite na copa do pés de benjamins. Mas como essa de nome estrambótico: “Puxa” murmurou Dona Nair. “O que vai fazer homem de Deus?” Se Dona Nair não conhecesse o marido, seria maremoto e tempestade com raios caindo em cima da casa. Mas ele postou sólido à conversação, com a voz calma e pausada: “Nair, se for homem” repetiu para a esposa que estava grávida “vou registrá-lo no Cartório como Flávio Cavalcanti, e se for mulher registro como Márcia de Windsor.” Dona Nair olhou para o marido e sorriu desconfiada da absurda predileção. “Cabo Alberto” indagou Dona Nair perto de dar à luz à criança “por que Flávio Cavalcanti e Márcia de Windsor?” “Porque, primeiro, eu adoro o seu Programa” respondeu Cabo Alberto. “E segundo, Flávio, é meu Rei.” Não era estória de trancoso, nem maldição encantatória de catimboseira e nem pedido de visão do outro mundo. O que o preclaro russano falava, era tudo verdade. Realmente era fã do apresentador Flávio Cavalcanti. Por isso esperava ansioso o nascimento do Flávio Cavalcanti e/ou de Márcia de Windsor, com os amigos tomando uísque no bar do Vicente Silva. No dia 30 de maio de 1971, sabendo do nascimento de uma criança do sexo masculino, Cabo Alberto, correu para o Cartório do Rantzau e sem restrição fez o registro. Depois retornou para sua residência com todos os tributos de sua palavra. “Nair” disse Cabo Alberto olhando sorrindo para o filho recém-nascido “esse daí já registrei como Flávio Cavalcanti Rei da Televisão Nogueira.” Naquele momento, Dona Nair, quase não acreditou de tanto espanto ao olhar para o registro do filho, com o nome Flávio Cavalcanti Rei da Televisão Nogueira. O célebre Cabo Alberto teve esse episódio vivificado pelo mundo inteiro, com reportagens no rádio, jornal e televisão, ao ponto do Flávio Cavalcanti convidar Cabo Alberto para se apresentar no seu programa, pela fama do pai e do filho Flávio Nogueira. Somente depois de mais de uma década foi que “Flavinho” perdeu o seu reinado, por força da Lei dos Registros Público (Lei nº 6.015, de 31/12/73), quando no ano de 1983, mediante um Pedido de Retificação de Registro Civil de Nascimento impetrado pelos causídicos Dr. José Erismar Ferreira Lima (Mazinho) e Dr. José Ribeiro Dantas, (genitor do também russano, atual Desembargador Lincoln Tavares Dantas). Peditório processado pelo Juiz de Direito da Comarca de Russas, Dr. Celso de Albuquerque Macedo, julgou procedente a Ação de Retificação de Registro Civil, que depois do trânsito em julgado, por mandado oficial, autorizou ao Cartório de Registro Civil de Nascimento, alterar os assentos de nascimento de Flávio Cavalcanti Rei da Televisão Nogueira, fazer constar somente Flávio Nogueira. Sem deixar prejuízo nem qualquer transtorno psicológico para Flavinho, que fala com orgulho da brincadeira por tornar-se mundialmente conhecido. Cabo Alberto, por ser uma figura excêntrica e surpreendente, nas artes das coisas impossíveis, absurdas e inacreditáveis, por tamanha excelência, foi proclamado pelas palavras de Deus para jamais ser esquecido pelo povo russano. Porque as suas façanhas ficaram marcadas como sonhos realizados. Certa vez o Sr. Valdenor Meireles indagou: “Cabo Alberto, Flávio Nogueira não é mais o nosso Rei?” No fervor daquele diálogo, Cabo Alberto, mais uma vez impressionou com essa resposta que deu volta pelos quatros cantos do mundo: “Russas” respondeu Cabo Alberto, “é a única cidade do Brasil que teve um Rei: Flávio Cavalcanti Rei da Televisão Nogueira.”

 

Airton Maranhão                                                                             

Advogado Escritor                                                                   

Membro da Academia Russana de Cultura e Arte – ARCA

Airton Maranhão (in memorian)

.Originário de Russas – CE. Formado em Direito pela Universidade de Fortaleza – Unifor, advogado militante da Comarca de Fortaleza, e romancista. Livros publicados: Deusurubu, Admirável Povo de São Bernardo das Éguas Ruças. Romances: A Dança da Caipora, Os Mortos Não Querem Volta e O Hóspede das Eras. Membro da ARCA – Academia Russana de Cultura e Arte.

Airton Maranhão (in memorian)

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