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Ópio contemporâneo
Carlos Sombra
Em grego, ópio significa suco. Este é obtido mediante incisões no envoltório de uma planta popularmente conhecida como papoula do Oriente. Ganhou esse nome por ser oriundo da Ásia. Cultivada, nos tempos clássicos, na Turquia, Irã, Líbano, China, Índia, Grécia, entre outros países asiáticos. O látex desse vegetal é leitoso e coagulado. Ao ser transformado em suco torna-se uma massa acastanhada, que ao ser fervida, transforma-se no ópio. Essa substância química é considerada uma das mais viciantes que existe. Quando consumida, causa efeito hipnótico e analgésico, entre outras ações nocivas.
Na antiguidade, o ópio já foi motivo de disputas. Em 1839 desencadeou um conflito armado entre Grã-Bretanha e China: a Guerra do Ópio. Mas, os tempos são outros. Os países desenvolvidos, no mundo contemporâneo, comercializam tecnologias. Exportam produtos industriais de alto poder tecnológico, estimulando o consumismo e provocando efeito alucinógeno na população. As tecnologias tornaram-se o ópio contemporâneo. A cada dia surgem ferramentas mais sofisticadas que as precedentes, causando encanto, seduzindo e estimulando o consumo desenfreado.
Dos celulares com avançados recursos fotográficos, GPS (Sistema de Posicionamento Global), jogos com download no Google e alta capacidade nos recursos de vídeos, ao tablet, ipad, galaxy, xoom -produtos que se diferenciam apenas nos quesitos modelos e fabricantes- com sistemas operacionais de última versão. O que não falta são elementos que agucem o excesso de consumo. Quando se pensa que adquiriu um equipamento de alto poder tecnológico, surgem outros ainda mais modernos.
A internet, com infinito universo de informações em tempo real, é a ratificação de que as tecnologias tornaram-se o ópio da sociedade moderna. Muitos não se veem sem computador com acesso às redes sociais. Um círculo vicioso que afasta as pessoas das conversas informais “isolando-as socialmente”. Entretanto, abre novas oportunidades de contato com pessoas em todas as partes do mundo. Um verdadeiro paradoxo! Isolar-se defronte uma máquina para ter contato com o ser humano. Uma forma de comunicação na Era digital: as conversas virtuais. Ferramentas que caíram no encantamento popular.
Os novos paradigmas tecnológicos conquistaram espaço inquietante no seio familiar. Embora seja fonte de informações, pode produzir efeitos psicológicos nocivos. Estudos mostram a relação entre, a falta de tempo para a família, solidão, ansiedade e sintomas crescentes de depressão, como consequências da dependência da internet. Para usuários dependentes, a interação humana é desnecessária, quando se tem uma máquina ao alcance. Por outro lado, essa ferramenta sendo utilizada com moderação e disciplina, difunde conhecimentos, aproxima povos com hábitos culturais diversificados, diminui a inibição e propaga valores.
Com a revolução da informática alicerçou-se as bases da época da comunicação. Os países desenvolvidos investiram em novos parâmetros comerciais, onde a informação é a matéria prima. A tecnologia passa, portanto, a permear qualquer atividade humana.
Ficamos refém de um modelo social que depende de ferramentas tecnológicas para gerir a vida em todos os âmbitos. As novas tecnologias, verdadeiramente, escravizam a humanidade contemporânea. Bebemos da seiva da modernidade, e nos tornamos vitimas de um sistema que cativa os hábitos, robotiza o corpo e hipnotiza a alma.
Carlos Eugênio Sombra Moreira
Professor e Escritor
Nasceu em Russas - CE. Graduado em Português Licenciatura Plena pela Universidade Vale do Acaraú; (UVA), Especialista em Ensino da Matemática e Física pela Faculdade Vale do Salgado (FVS). Professor, colunista do Jornal Correio de Russas e da TV Russas.
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