COLUNISTAS / AIRTON MARANHÃO (IN MEMORIAN)

Teatrólogo José Carlos Matos

Airton Maranhão (in memorian)

12//2/29/0

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Russas realmente é uma terra de criaturas notáveis, e muitas vezes de idolatria dramática, de inteligência resgatada da primordialidade dos mestres do teatro, como Ésquilo, Sófocles e Eurípides que incendiaram a arte dramática do talento do gênio Molière, que na mesma lucidez fez renascer, no dia 04 de novembro de 1949, o nosso renomado ator e diretor de teatro José Carlos Bezerra de Matos, filho primogênito de Manoel Ferreira de Matos e Carminda Bezerra. E foi no despertar do nascer do sol, na Vila Gonçalves, na casa do meu tio Zequinha Ribeiro Santiago, irmão da minha mãe Osmira Ribeiro Santiago, casado com a minha tia Rosa Santiago, irmã do ex-deputado estadual Gerôncio Bezerra, quando ninguém sabia quem era Castro Alves, Shakespeare, Dante Alighieri e Molière, conheci José Carlos Matos, com a sua dramática transcrição de traços intelectuais, qualidade artística e manifestações teatrais que já assomavam na sua ocultista inteligência, de um intitulador da hipermodernidade de personagens em sena. Aquele encantador de artifícios, ao selecionar livros de comédias, de qualquer janela exibia sua arte e de qualquer calçada fazia o seu palco. Com pouca vida na voz de mestre, sentimento humanitário e social, não protestou pelo próprio realismo de sua identidade, morreu com quase a mesma idade de Cristo, nos gestos do fascínio alegórico de sua temática. Nunca esqueci pelos meandros de sua vida, na infância do menino-prodígio, quando Zé Carlos Matos, com pensamentos inenarráveis, já incomodava a muita gente das falsas camadas sociais.

 

Como a representar diferentes comédias satíricas, com profundo realismo cotidiano e fantástico. Com incrível expressão encantatória nos olhos de vidrais, silenciosos e escuros, definia os seres fracos da humanidade, ao enobrecê-los sem palavras de sarcasmo, de críticas indecifráveis e de gestos cômicos. E com dignidade do pretérito, compreendo o inusitado amadurecimento precoce do nosso teatrólogo, com o diálogo das palavras de preencher vazios de quintais, de intitular a errônea dos escribas e de perdurar os aplausos nos teatros. Zé Carlos era um questionador meticuloso da história do nosso povo, a iluminar a penúria e defeitos dos arrogantes, o agravo dos homens poderosos e a virtude da alma humana. Conhecido artisticamente como Zeca ou Zé Carlos, sobrinho também do famoso russano, o ex-deputado Gerôncio Bezerra, que pelo igualmente conterrâneo General Cordeiro Neto, prefeito da cidade de Fortaleza, no ano de 1958, Gerôncio Bezerra, ao empenhar-se pela candidatura do General Cordeiro Neto, que foi advogado, Chefe de Polícia, Secretário de Polícia e de Segurança Pública do Estado do Ceará, que quando eleito prefeito de Fortaleza, fez uma exigência: Gerôncio Bezerra ocuparia a Sub-prefeitura do bairro de Antônio Bezerra. Que como russano honesto e trabalhador, empenhou-se com hombridade do novo ofício de Sub-prefeito do Bairro de Antônio Bezerra, e o elevou, com muitos benefícios, sucesso e progresso aos habitantes menos privilegiados daquela parcela de cidade. Aos 17 anos, Zé Carlos partiu para a capital cearense. E em meio aos novos amigos da arte, da filosofia, da política e da faculdade, do antigo Curso de Arte Dramática (CAD), reúne ali os seus primeiros companheiros talentosos de cena. E já como artista ativista e militante, funda a Cooperativa de Teatro e Artes. E ainda a Federação de Teatro Amador, na década de 1970.

 

E assim, vivendo artisticamente, passou a ganhar destaque como dramaturgo no mundo teatral, quando fundou o Grupo Independente de Teatro Amador (Grita), em 1973. E pelo incrível brilho intelectual, com o Grita, o nosso teatrólogo perambulou pelas periferias da capital cearense, como artista de circo, com o seu Penico sem tampa. Profissional do teatro, José Carlos Matos, para a sua montagem de estréia, assinou o texto de manifesto em que a Cooperativa de Teatro e Artes reconhecia o Romance do Pavão Mysterioso como expressão de teatro puramente cearense, com a parceria de Marcelo Costa. De artista que somente era, passou a artista de bastidores. E criou a montagem de Calígula, de Albert Camus, e de Andorra, de Max Frish. E a versão de a História do Jardim Zoológico, do norte-americano Edward Albee. E para o reencontro do Grita com o público, estréia a Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, em 1976. Com mais de uma década de teatro, Zé Carlos, como diretor, assinou as montagens de O Evangelho segundo Zebedeu, de César Vieira.

 

A Saga de Canudos, em sena com Ricardo Guilherme e Oswaldo Barroso. E ainda dirigiu O Reino da Luminura ou A Maldição da Besta-Fera, primeira tramaturgia de Oswaldo Barroso. Foi por duas vezes presidente da Federação Estadual de Teatro Amador (Festa), em 1976 e no biênio 1979-1981. E assim, esse ilustre russano, projetou-se nacionalmente na militância teatral. Em 1979-1981 e no período seguinte, foi vice-presidente da Confederação Nacional de Teatro Amador (Confenata). Participou da fundação do Instituto Nacional de Artes Cênicas (Inacen), órgão que substituiu o antigo Serviço Nacional de Teatro (SNT). Se pelo talento da cultura popular, com iluminação, roteiro, interpretação, trilha sonora e cenário, fez história para o nosso município, por que nomeações a forasteiro, como aconteceu no Centro Cultural Padre Pedro de Alcântara, e no Museu Padre Pedro de Alcântara? Que credencial aprova a Praça José Carlos Matos, ladeada de carnaubeiras, ao nosso genial dramaturgo, ator e diretor de teatro? Devemos valorizar nossas personalidades com títulos que envaidecem, já que fizeram história para nossa terra natal. Infelizmente, Zé Carlos Matos faleceu precosemente no desastre aéreo do vôo da Vasp 168, ocorrido em 8 de junho de 1982, quando o Boeing 7272-200, vindo de São Paulo, com destino a Fortaleza, chocou-se contra a Serra da Aratanha, próxima de Pacatuba, ocasionando a morte de todos os 137 ocupantes, inclusive a do empresário Edson Queiroz. Zé Carlos, ao encenar as injustiças, os erros humanos, a cultura e a história do nosso povo, deixou patenteado que Russas também é a terra do teatro.

 


 
Airton Maranhão 

Advogado Escritor 

Membro da Academia Russana de Cultura e Arte – ARCA

Airton Maranhão (in memorian)

.Originário de Russas – CE. Formado em Direito pela Universidade de Fortaleza – Unifor, advogado militante da Comarca de Fortaleza, e romancista. Livros publicados: Deusurubu, Admirável Povo de São Bernardo das Éguas Ruças. Romances: A Dança da Caipora, Os Mortos Não Querem Volta e O Hóspede das Eras. Membro da ARCA – Academia Russana de Cultura e Arte.

Airton Maranhão (in memorian)

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