COLUNISTAS / AIRTON MARANHÃO (IN MEMORIAN)

O Fenomenal Goleiro Calabar

Airton Maranhão (in memorian)

12//2/02/0

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Somente os menos dignos de consciência não acreditam que a natureza apresente pessoas extraordinariamente diferenciadas, e que nenhuma delas corresponda à descrição de um mesmo ser que nasce totalmente dotado de talento inusitado.

 

E nessa visão de pureza, considerável é saber que, por esse fascínio de mistério, até mesmo os irmãos gêmeos que têm o mesmo código de DNA, são diferentes pelas impressões digitais. Por tal razão afirmo que Russas é a terra dos padres, das freiras e dos músicos. Não de tempos inexplicáveis, imperdíveis e imemoráveis que não poderia deixar de registrar que também é a terra dos geniais craques do futebol de campo, como da equipe Atlético Club Russano – Campeão Intermunicipal em 1955, que abateu Ceará (0) x Russas (1); Fortaleza (1) x Russas (2); Ferroviário (1) x Russas (3). Rememorando Zé Veloso, Til Ribeiro, Odovaldo, Lauro de Matos que jogou Ceará Sporting Club e Sport Club Recife. Da nova geração: David, que jogou pelo AFAGU/Russas, Sumov e Ceará Sporting Club, e Coquinho, que jogou pelo time de Russas Atlético Clube e Ceará Sporting Club. E dos craques de futsal (futebol de salão), Benone, Barbosa, Pinto, Boinha e Calabar. Esse atleta, filho de Russas, principalmente pelas revivificações estudantinas das lembranças passadas, não poderia deixar que gerações futuras esquecessem, que em plena atividade esportiva, foi um dos maiores goleiros de futsal que o mundo já conheceu. Nem para que fosse lembrado por suas conquistas, apenas por visões de sonhos e pesadelos. Nenhum mago vaticina o passado como memória de existência. Mas, atualmente, o nosso fenomenal goleiro Calabar passa despercebido por muitos russanos, por ser conhecido apenas como um simples aposentado do Departamento de Polícia Rodoviária Federal. E como memorialista, sabendo que não voltará vivo do passado de semiconsciência se não revivê-lo pela exteriorização das palavras, testifico o seu vestígio ao deixar por escrito a sua história de atleta extraordinário.

 

Em Russas, onde eu morava naquela época, e estudava no Colégio Flávio Marcílio quando conheci o jovem Mansuêto Gonçalves Lopes, de cognome Calabar. Que já devia há muito ter sido lembrado como personalidade do futebol de salão e homenageado como um dos melhores goleiros de todos os tempos. Sendo o primeiro goleiro de futebol de salão registrado pelo Sumov Atlético Clube, de Fortaleza, Ceará, Brasil. Clube fundado em 12 de agosto de 1965, e que foi o maior vencedor da Taça Brasil. E o nosso atleta Calabar jogou pelo Sumov em 1969, e como destaque do time, foi Vice Campeão pelo Campeonato Cearense. E como goleiro do time da seleção de Russas, em todos os jogos que participou, Calabar praticou as mais espetaculares e impossíveis defesas que um goleiro teria feito até hoje. Nem mesmo o arqueiro Beto, Campeão da Taça Brasil, Sul-Americano e Mundial, pelo Sumov, foi melhor que o nosso futebolista russano. Calabar era uma eterna vigília ao gol, que como arqueiro agilíssimo, criava cenários de expectativas com a explosão dos chutes dos artilheiros a contrapor a bomba com métodos precisos e cálculos exatos de defesa. Nada mais escapava dos seus olhos inquietos, nenhuma bola fugia de suas mãos ligeiras. Nos seus pés, parecia que existiam asas de águia. Era espetacular, impenetrável e único. Exímio defensor, possuidor de agilidade e flexibilidade na história do futebol de salão. Nenhum jogador adversário intimidava as suas defesas, nem surpreendia sua coragem e nem evitava a sua ousadia. Como magistral arqueiro, por seu malabarismo, fechava a meta e a redonda dificilmente passava pelo paredão. Buscava a bola voando no ângulo das traves, onde dormia a coruja. Ágil como um gato, defendia as redes com incrível facilidade. Os seus vôos circulares tornavam-se fantásticos ao voltear a trajetória da bola, com ela em suas mãos. A sua composição corporal transmudava-se elástica a similar os relâmpagos, adivinhando o canto que a pelota seguia, e multiplicava-se em memoráveis defesas inimagináveis, com pulos mortais.

 

A sua habilidade enlouquecia o adversário que acreditava que tinha posto a bola no fundo das redes, quando por destreza, buscava das costas e exibia a pelota num vestígio de assombro. Calabar improvisava arremessos falsos, desorientando o time opositor a facilitar o gol dos atacantes aliados. Com inteligência e perspectiva visual, de expandir-se por toda quadra esportiva, a defender os chutes num passe de mágica fluente, em pulos vertiginosos e múltiplos a beirar o travessão superior da trave, com o corpo flutuando no ar acrobático. Ninguém entendia como posicionava o corpo rente ao travessão superior, no equilíbrio horizontal. Embaixo das traves, cuidadoso e comedido na amplitude dos saltos rápidos e tensão elétrica, não demonstrava medo nem insegurança no encaixe da bola, ou no espalmo para o escanteio. Era impetuoso, rápido e objetivo. Por vezes, discreto e sensato, com excepcional capacidade de defender o gol. Não tinha medo do tiro certeiro e abafava a bola com o talento de excelente goleiro, ao ampliar sua imagem nos efeitos visuais das acrobacias. A performance de Calabar era tão incrível que para defender a meta, sacudia os ombros virando pelo avesso nos revides dos chutes, ao zumbir a bomba em direção à meta. E como atleta fora do comum, empolgante e vibrador, ficou conhecido como um dos mais notáveis goleiros que Russas e o mundo já conheceu. Sendo até hoje inigualável, digno de aplausos e louvores, bem merecendo pelas defesas brilhantes que fez, os mais sinceros reconhecimentos. Fico honrado em prestar essa homenagem ao nobre escudeiro do futsal como idolatria ao honorável gênio do futebol russano, o fenomenal Calabar.                                                                   

 

 

Airton Maranhão                                                                             

Advogado Escritor

Membro da Academia Russana de Cultura e Arte – ARCA

Airton Maranhão (in memorian)

.Originário de Russas – CE. Formado em Direito pela Universidade de Fortaleza – Unifor, advogado militante da Comarca de Fortaleza, e romancista. Livros publicados: Deusurubu, Admirável Povo de São Bernardo das Éguas Ruças. Romances: A Dança da Caipora, Os Mortos Não Querem Volta e O Hóspede das Eras. Membro da ARCA – Academia Russana de Cultura e Arte.

Airton Maranhão (in memorian)

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