COLUNISTAS / AIRTON MARANHÃO (IN MEMORIAN)

A magistral Luzirene do Cavaquinho

Airton Maranhão (in memorian)

12//2/29/0

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Uma vez eu fiquei a observar o músico Assim do violino, embriagado como uma sombra se movendo entre as sepulturas do cemitério, tocando o seu violino para as cruzes e para as lápides, numa mistura de embriaguez, pranto e suspense. Não poderia ignorar aquele músico impressionante como o mistério fantástico e inexplicável dos filhos de Russas, que sabem lidar com tanta inspiração os instrumentos mais precisos de todas as artes. É inacreditavelmente magnífico e de extraordinário mistério que a genialidade musical dos filhos de Russas se transmite como um eterno patrimônio genético do berço mágico da árvore genealógica dos gênios da música, de todos os músicos que nasceram na terra natal. Como o Messias do banjo, Zé de Sousa do clarinete, Raimundo Adriano da tuba, Demétrio do bombardino, Apolônio do trombone, Ladislau da trompa, Afonso Lima do flautim, Concílio do saxofone, Pacarrete do acordeom, Vilani do bandolim, e muitos outros que não podemos ignorar como me fez lembrar Assis do violino. E como são raros os casos de gênios precoces na humanidade, com grande prodígio na infância, cinge-se na expressão de um milagre precoce, acima do normal da inteligência de surpreendente talento, a mais valiosa e inimitável musicista do cavaquinho da história da música russana, a magistral Luzirene do Cavaquinho. Com afã de todas as expressões de louvores e festejos comemorativos para com aquele talento precoce, foi que conheci na infância o fenômeno da imagem clássica da garotinha Luzirene, que morava com os pais na Vila do Chico Franco. Que desde os vagares do passado que se conhece em festins aquele vilarejo construído de poucas casas à margem do riacho Araibu, que ficava defronte dos fundos do sítio dos meus pais, que partia do meio do riacho à outra margem onde se localizava nossa casa, na Rua Monsenhor João Luiz, conhecida Rua do Patronato. Na calçada de sua casa, o senhor Aloísio, pai da Luzirene, sem deixar de expressar a sensação amável da imensa satisfação de sustentar a família através do trabalho profissional de sapateiro, pela intuição da natureza, exibia a repercussão musical dos acordes de um violão que tocava no seu dia-a-dia, ampliava com mais carinho e notoriedade o devotamento sempre voltado para tocar cavaquinho. Que pelo ciúme que tinha por aquele instrumento, guardava-o dentro de um baú a sete chaves, com o cuidado de cordial cavalheiro pela fidalga cortesia de mantê-lo sempre afinado e distante dos pretensiosos e beneméritos músicos clássicos, confusos, que não passavam de iniciantes desafinadores de instrumentos musicais. Assim cresceu Luzirene, ouvindo no berço o músico Aluisio Sapateiro tocar violão e cavaquinho. E foi através desse instrumento que, como uma obra-prima Luzirene marcou a história e descobriu a identidade musical de seu gênero próprio que a transformou em fonte de inspiração para além do imaginário popular, para ser intitulada Luzirene do Cavaquinho. O início misterioso da carreira dessa menina, de quando tocou pela primeira vez, não é conto de trancoso, nem versão de lenda, nem fato mitológico que se cria para estrear ou tornar popular a carreira de uma genialidade desconhecida. A veracidade de sua história tornou-se uma versão cinematográfica, pelas séries brilhantes do seu acontecimento. Tudo iniciou quando a inocência de um espetacular mergulho de curiosidade irresistível e ultracontagiante, fez com que Luzirene, aproveitando o descuido do insigne mestre genitor ao deixar o baú sem tranca, na rapidez e sagacidade da infância, pegou o cavaquinho com manifestada vontade de tocar, embora sem conhecer nenhum requisito técnico, com apenas 3 anos de idade, começou a tocar divinamente bem como se já tivesse sido medalhada com todas as láureas e triunfos de sua genialidade, num dinamismo próprio de quem aprendera a tocar sozinha, sem nenhum ensinamento de mestre como o entusiasta maestro Orlando Leite. Com suas habilidades incomuns e especiais surgia assim a genial Luzirene do Cavaquinho, que com aquela revelação inusitada, seu pai ficou paralisado de espanto ao ouvir a pequenina filha tocar seu cavaquinho com tanta perfeição. A precocidade do talento com absoluta genialidade da filha surpreendeu a família do sapateiro, os vizinhos e os russanos que aplaudiram com euforia e com calorosos elogios, pelo dom extraordinário de solar com tanta elegância. Luzirene do Cavaquinho, como ficou conhecida, precoce fenômeno de Russas, depois de crescer com os ensinamentos do pai, para os registros pretéritos da galeria dos músicos geniais, com apenas cinco anos de idade, subia na mesa da casa da família empunhando o cavaquinho e tirava notas musicais para deixar todo mundo boquiaberto ao tocar “Brasileirinho” com o cavaquinho nas costas. E quando saiu da terra natal passou a ser admirada por especialistas daquele instrumento por causa da profundidade do conhecimento musical, celebrando a sina por ter nascida artista, iniciou a sua carreira cantando em várias emissoras e nas TVs da capital cearense. Principalmente no Programa do Irapuã Lima, no show do Mercantil, no programa do Augusto Borges. Participou ainda do Programa da Xuxa, do Faustão e do Ratinho. E pelo país inteiro fez shows com os mais renomados artistas de variados repertórios, com memorável apoio de seu grande admirador, Luiz Gonzaga, O Rei do Baião. Luzirene do Cavaquinho além de tocar forró brega fez parte das cantorias dos poetas repentistas, gravou vários CDs e DVDs, com lançamento e transmissão pela MTV. Com a linguagem da harmonia secreta para com a definitiva consagração pelos golpes afoitos da surpresa, exibiu seu talento com a comprovação de gênio precoce que com tanta popularidade tornou-se referência para pesquisas musicológicas, sociológicas e históricas para todas as memórias que iluminam a alma universal da harmonia, com inquestionável maestria. Luzirene do Cavaquinho no mistério iluminador dos mais reputados musicistas, tornou-se conhecida e respeitada no mundo inteiro, pela notoriedade da vocação artística, que com tanto mérito representa Russas com a sagrada batuta da terra dos músicos do maestro Orlando Leite. 

 

 

Airton Maranhão

Advogado Escritor

Membro da Academia Russana de Cultura e Arte – ARCA

Airton Maranhão (in memorian)

.Originário de Russas – CE. Formado em Direito pela Universidade de Fortaleza – Unifor, advogado militante da Comarca de Fortaleza, e romancista. Livros publicados: Deusurubu, Admirável Povo de São Bernardo das Éguas Ruças. Romances: A Dança da Caipora, Os Mortos Não Querem Volta e O Hóspede das Eras. Membro da ARCA – Academia Russana de Cultura e Arte.

Airton Maranhão (in memorian)

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