COLUNISTAS / AIRTON MARANHÃO (IN MEMORIAN)

O RIACHO ARAIBU

Airton Maranhão (in memorian)

11//2/30/1

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Expressões de louvor com sequência de trunfos e devotamento voltado para a arte da preservação de patrimônio da cidade, prolongam e imortalizam as futuras gerações a permanecerem eternas com todo o elemento de valor que avança a modernidade da própria história, se a obra for exercida com o claro objetivo de seu empreendimento. O que não ocorreu com o riacho Araibu, que guarda história legítima do seu passado com as enchentes dos grandes e bons invernos, quando a maior diversão do povo russano era saber que as águas do rio Jaguaribe estavam prestes a penetrar no seu leito. Russas inteira vibrava em festa. Levas de meninos, velhos e bêbados subiam para a cabeceira do Araibu para presenciar o fenômeno da natureza das águas penetrando no riacho com toda sua fúria. As margens se enchiam de gente gritando em alvoroço. Pássaros com seus trinados de euforia voavam ao rés-do-chão. Jaguares surgiam das árvores silvestres. Maracanãs coloriam o céu. E quando a lágrima divina adentrava a cidade, suas primeiras águas eram recebidas com saudação de canto, choro e agradecimento ao São José pelo milagre da chuva. O povo de Russas a se deslumbrar, celebrava aquele acontecimento, com fogos de artifícios provocados pelo genial artista da arte de pirotecnia, mestre João Francisco Régis Bezerra, animador de festas religiosas. A banda de música, acompanhada por uma multidão hilariante, tocava dobrados para o espetáculo da correria das águas pelo riacho. Tamanho era o momento festivo de algazarra, jamais visto em uma comemoração na cidade de Russas. Uma outra história, por volta de 1687, é de crueza sangrenta, de horror e temeridade, por dizimar em nossas terras férteis, numerosas tribos indígenas que habitavam o vale Jaguaribano, num povoamento primitivo. Tantas lutas e guerras nos faz lembrar que no riacho Araibu ainda corre o sangue da atrocidade dos ferozes índios Paiacus que margeavam o ribeiro quando da revolta e resistência contra os colonos que foram trucidados e exterminados, juntamente com seus rebanhos, num massacre horripilante, com caça aos selvagens, mortes, invasão e expulsão feita à tribo dos temíveis Paiacus, pela ocupação dos colonos e dos portugueses em nosso município. Essa última, é teretalógica de um ato injurioso e insolente que exala a urbanização do riacho Araibu como uma obra ilusória, num quadro de realidade deplorável, que somente através de quem observa com absoluto interesse de tombá-lo como patrimônio do município, vislumbra, como a um retrato de uma mulher mal amada, cuja visão abrange do abominável ao lúgubre, do esquisito ao complexo, sem compostura, sem mérito e propositadamente insignificante. Porque é uma urbanização visivelmente inacabada e inexpressiva, sem nenhuma teoria engenhosa, sem projeto de estilo utilitário e arquitetônico que comprova que não foi idealizado por gestor de considerado talento. Mas por um administrador egoísta, arrogante, manipulador e ambicioso, interessado somente nele. O nobre riacho Araibu merecia uma urbanização com afinidade de obra de envergadura, vistosa e moderna para a posteridade de nossa história, como um monumento magnífico para a cidade russana. E por se tratar de uma obra construída em meio a um curso de água, casas e habitantes da cidade, para o projeto do Araibu ser paisagístico, não seria necessário um especialista em fosso de crocodilo, mas apenas um engenheiro extraordinariamente hábil, para ostentá-lo, numa grandeza magistral, pelos enlaces de sua história e origem do nosso povo que o manterá como uma revelação divina por toda existência do universo. Como o Araibu não é mais caudaloso, ao invés de passagem de bueiro arcaico, argamassa e cimento, as estreitas gargantas, passadiço de água em forma de esgoto, na oportuna urbanização, bem que poderiam ter sido substituídas por magníficas pontes de arcos com montagem e encaixe feito de ferro, para manter a distância da margem. A ponte de ferro é mais leve que a de pedra, não precisa levantar aterro e nem encurtar as margens. Dura séculos, intacta. Por que não foi feito escavação no leito, para magistralmente torná-lo caudal e perene? Por que em toda sua extensão não existe um banco para se sentar? Passagem para deficiente recorrer à outra margem? Degraus para descer para o seu leito? Não existe nada, nem uma simples latada de maracujazeiro numa decoração de murais. Nem uma jarra de flores artificiais em ladrilhos. Nem uma flecha do índio tapuia que infestou o Jaguaribe. O que existe são espaços insignificantes, projetados para o céu aberto, sem nenhum sentido, sem qualquer proveito, não servindo para nada. Como obra de baldões, cheia de erros e falhas, feita para ironizar e espicaçar o velho riacho Araibu, com margens escorregadias, sem grades, correntes e parapeitos de proteção para pessoa e animal evitar o perigo de queda e afogamento nas enchentes. O Araibu atualmente é um esqueleto tétrico, nostálgico, sem jardim, sem gorjeios e sem atrativo. E nunca se converterá numa atração turística, nem em local romântico para os namorados, nem lírico para tirar fotos, fazer exposição de arte, caminhada, para ultrapassar a condição de província sem o esplendor da beleza. O Araibu deveria ter sido urbanizado, suas margens ladeadas e pavimentadas de calçadas altas, com balaustrada de ferro, arborização com árvores diversas e frutíferas para atrair os pássaros e embelezar aquela maravilha, com a diversidade natural, social e cultural da região na supercentralidade de ambiente deslumbrante e esplêndido, com ipês floridos, ornados com bancos de jardins românticos, naquele recanto único, existente no centro da cidade de Russas, milagrosamente belo e excitante, para ser realmente uma obra prima da engenharia civil. Mas não, simplesmente foi urbanizado sem nenhuma estrutura paisagística, sem marco de inscrição de sua origem, sem placa comemorativa de sua história, inovação e feição tradicional do cenário russano. Com desprezo a vida pública o administrador da municipalidade, por incompetência, manipulação política e descaso da lei, não foi dinâmico e nem contribuiu para o progresso modernista do espetacular riacho Araibu, criado pelos poderes da natureza, para ser o mais importante patrimônio histórico do nosso município.

 

Airton Maranhão
Advogado e Escritor                          
Membro da Academia Russana de Cultura e Arte – ARCA

Airton Maranhão (in memorian)

.Originário de Russas – CE. Formado em Direito pela Universidade de Fortaleza – Unifor, advogado militante da Comarca de Fortaleza, e romancista. Livros publicados: Deusurubu, Admirável Povo de São Bernardo das Éguas Ruças. Romances: A Dança da Caipora, Os Mortos Não Querem Volta e O Hóspede das Eras. Membro da ARCA – Academia Russana de Cultura e Arte.

Airton Maranhão (in memorian)

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