COLUNISTAS / AIRTON MARANHÃO (IN MEMORIAN)

GENERAL CORDEIRO NETO

Airton Maranhão (in memorian)

11//2/23/0

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O bustuário João Perdigão Nogueira, diferenciado dos conterrâneos de São Bernardo da Éguas Ruças, pela obra mágica de escultor, ascendeu de sua terra natal como raro artista plástico amante das belas-artes das esculturas, a produzir bustos de personalidades ilustres deste país e de homens famosos do Ceará. Celebrizou-se pelo busto que fez do incomparável mitológico poeta e polêmico advogado, Quintino Cunha; do mais renomado historiador das Américas Capistrano de Abreu e do consagrado poeta sonetista do verdor dos anos, Padre Antônio Tomaz, além de inúmeros outros imortais da galeria do universo. João Perdigão Nogueira escultor esquecido na nossa terra natal, para evolução maior de sua glorificação, só não esculpiu o busto de um dos mais brilhantes oficiais do exército brasileiro, promovido ao posto de general-de-brigada e de general-de-divisão. O mais louvável Chefe de Polícia e Secretário de Polícia e Segurança Pública do Estado do Ceará. O russano, advogado e General Manuel Cordeiro Neto, severo paternalista da ordem e da justiça na administração da coisa pública, com seu diferente padrão de líder pátria. Conhecido “homem da lata” por obrigar presos da cidade a carregar lata de água, varrer e calçamentar as ruas a realização de serviços públicos. Construiu o atual prédio da Secretaria de Polícia do Estado do Ceará, com o trabalho braçal dos presos, e ainda mandou prender todos os pederastas que vadiavam pelas ruas da cidade, e condenou todos à “lata”. Cordeiro Neto, exerceu cargos importantes na capital cearense, como diretor-administrativo da Companhia Elétrica do Ceará, COELCE; presidente do Aeroclube do Ceará; prefeito municipal de Fortaleza e secretário de Administração. General Cordeiro Neto no sustento das rédeas de chefe de Polícia do Estado do Ceará, a exaurir os atributos de seu talento arvorado pela coragem e determinação, deparou-se com o episódio sombrio e deveras inusitado de um movimento político-religioso, formado por uma horda de patetas e ignorantes fanáticos à margem da lei, com dureza de olhar de pânico, orações e benditos estranhos, soluços fatídicos e expressão sardônica de bocas trêmulas, causando pânico e assombração ao ingênuo povo da serra dos Marroás. Um movimento nada equiparado com os Canudos de Antônio Conselheiro e do Caldeirão do beato José Lourenço, devido à influência nefasta e supersticiosa de reavivar os mortos. Esse tresloucado caso teve início quando o alagoano Silvino Antônio de Messias, com sua esposa Maria dos Santos Messias e o filho Edmir, depois de residir em Fortaleza e perambular por várias cidades, e no interior ao habitar no sítio São Mateus, no sopé da serra dos Marroás, sete léguas do município de Maria Pereira, fundou a seita como entidade sobrenatural de esconjuro de alma penada, para leigos e matutos invocarem São Francisco do Canindé e Padre Cícero. Como enviado das sombras do demônio, o divino Mestre Silvino, nos seus cultos diabólicos de poderes mágicos, fazia garrafadas e curas como ente sagrado a ressuscitar os mortos. Nessa crença terrível, seus adeptos lhe obedeciam por medo da morte eterna. Beato Silvino arregimentou um exército de fanáticos para orar a sugestibilidade do charlatão, e fardou aproximadamente cem homens e dezenas de mulheres, imitando o fardamento dos congos, todos com divisas diferenciais, devido à hierarquia militar do preceptor da facção. Cada adepto com a fala de uma linguagem pseudo-mistério conduzia uma enorme cruz, vestido de fardas coloridas. E além de comerciar aquele ultraje ao pudor púbico, cobrava uma cota para obter dinheiro fácil. Líder da seita com manifestações inexplicáveis de força desconhecida, edificou uma capela no alto da serra do Coité, próxima a sua casa, com um enorme cruzeiro para atrair os romeiros com suas procissões para uma passagem subterrânea, onde dormia “as virgens” sonâmbulas. Para impressionar mais ainda os fanáticos com prenúncio de desgraça e milagres, as puras mulheres do grupo religioso, conhecidas como “as virgens”, quando à tardinha as corujas piavam de agonia e os morcegos ruflavam as suas asas, elas simulavam ataques histéricos com gritos horripilantes e caiam estendidas no chão como mortas. Mestre Silvino interpretava sinais do céu com avisos misteriosos para “as virgens” retornarem à vida mediante um aviso secreto de aceno do beato, elas se levantavam sinistras, delirantes e ofegantes. O delegado de Maria Pereira, um sargento da polícia militar que já havia investigado pessoalmente os cultos do mestre Silvino, tendo notícia da morte de uma mulher devido à ingestão de uma garrafada receitada pelo mago, mandou intimá-lo para comparecer a delegacia de polícia. Mas ele se recusou, e mandou três “tenentes” fardados de sua facção, comunicar ao sargento que havia mandado prender quem tinha causado a morte da mulher. E com um exército de endemoniamento não acatava ordem de delegado nenhum. No dia 13 de maio de 1937, o delegado de Maria Pereira de tocaia no culto, efetuou a prisão de mestre Silvino, quando da ausência dos seus “tenentes”. O Secretário de Polícia, General Cordeiro Neto, sabendo da existência do “Caldeirão” e que o beato Silvino praticava a falsa medicina e recebia dinheiro de seus prosélitos, no dia 18 do corrente mês, num avião militar pousou em Maria Pereira. No outro dia pela madrugada, retornou a Secretário de Polícia e Segurança Pública do Estado do Ceará, conduzindo o beato Silvino, sua esposa Maria dos Santos e seu filho Edmir. Antes, na serra dos Marroás, com o beato no xadrez, desfez o velhacouto de crendices com baixa nos seus “tenentes”.  E convenceu a todos adoradores do magnetizador que tudo não passava de fatos ilusórios. Antônio Silvino com sua mágica e bruxaria de manifestações fetichistas, não produzia nenhuma maravilha. As mulheres conhecidas como “as virgens” não morriam nem reviviam. E nada se comparava com o Cadeirão do beato José Lourenço. No município de Maria Pereira, na serra dos Marroás, findou o Caldeirão do alagoano Silvino. Já na Secretaria de Segurança Pública, indagado pelo jornal o Povo, disse: “Está completamente extinto o antro de Maria Pereira... não vou processar Silvino por exercício da falsa medicina, vou mandá-lo de volta para Alagoas, é melhor.” Assim sem avermelhar o verde da serra dos Marroás, com selvageria armada de canídeos e felinos, por respeito à religião, a moral e a conduta humana, merece um busto em Russas, se João Perdigão não tiver esculpido no céu.

 

Airton Maranhão

Advogado e Escritor
Membro da Academia Russana de Cultura e Arte – ARCA

Airton Maranhão (in memorian)

.Originário de Russas – CE. Formado em Direito pela Universidade de Fortaleza – Unifor, advogado militante da Comarca de Fortaleza, e romancista. Livros publicados: Deusurubu, Admirável Povo de São Bernardo das Éguas Ruças. Romances: A Dança da Caipora, Os Mortos Não Querem Volta e O Hóspede das Eras. Membro da ARCA – Academia Russana de Cultura e Arte.

Airton Maranhão (in memorian)

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